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Análise | NBA Live 19 é uma bela enterrada que pegou no aro

Por| 27 de Setembro de 2018 às 13h44

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Electronic Arts
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Por anos a série NBA Live foi a dona da bola laranja e dominou as quadras virtuais nos videogames. Tudo ruiu em 2010, quando NBA Live 10 não agradou ao público e foi massacrado pelo concorrente NBA 2K10. O resultado disso foram três anos longe dos consoles, o que voltou a acontecer em 2017, para se recuperar do baque.

Desde então, assim como acontece com as equipes reais que disputam a NBA, a franquia da Electronic Arts entrou numa fase de rebuild. Quem acompanha o basquete sabe que o processo exige muita paciência e nem sempre vale a pena. Vide, por exemplo, o Detroit Pistons, que desde 2005 tenta repetir o sucesso de 2004, quando foi campeão com Chauncey Billups, Rip Hamilton, Tayshaun Prince, Rasheed Wallace e Ben Wallace (que time!), mas falhou em dois grandes processos de reconstrução sucessivos.

A EA tem tanta ciência desse momento da franquia que escolheu Joel Embiid para estampar a capa de NBA Live 19. Tanto o pivô quanto sua equipe, o Philadelphia 76ers, são sinônimos desse processo e passam uma espécie de mensagem subliminar de que "agora vai". Mas será que foi mesmo?

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Gilbert Arenas, Allan Houston e os highlight reels

Um dos grandes méritos de NBA Live 19 é, sem dúvidas, a busca por melhorias. Com a série NBA 2K, seu principal oponente no mercado, aparentemente acomodada nesse quesito, o jogo de basquete da EA apresenta um salto de qualidade sobretudo na questão gráfica.

Todos os jogadores têm suas contrapartes virtuais muito bem trabalhadas. As super estrelas, então, receberam um cuidado todo especial e tiveram reproduzidos até mesmo seus trejeitos e cacoetes dentro de quadra. Dribles, signature moves e mecânicas de arremesso, como a bizarra de Lonzo Ball, são outros detalhes que mostram exatamente onde a EA investiu esforços e contribuem para o jogador se sentir imerso no game.

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E por falar em imersão, o modo de carreira The One está de volta e permite você criar o seu jogador com a sua cara, bastando usar um app móvel para escanear seu rosto. Isso já existia no NBA Live 18, mas aqui surpreende pela qualidade do resultado final dada a simplicidade de todo o processo. Feito isso, é hora de iniciar a escalada rumo ao estrelato na NBA. No processo, você terá de enfrentar toda a hostilidade das quadras de rua, encarar grandes nomes do esporte, que fazem aparições pontuais para incrementar a dificuldade, e chamar a atenção das equipes até ser escolhido no Draft. É uma jornada gratificante, que mistura o bate-bola virtual com imagens e vídeos reais e que cujo progresso, felizmente, depende única e exclusivamente de sua habilidade, dispensando gastar qualquer quantia em dinheiro real para incrementar o personagem.

A cereja no topo desse bolo, porém, é o novo modo Court Battle. Aqui, você monta e personaliza a sua quadra e escala uma equipe (que pode incluir tanto jogadores da NBA quanto jogadoras da WNBA, e lendas como Allen Iverson, Shaquile O'Neal, Vince Carter e companhia) para defendê-la e outra para atacar e dominar a de adversários. Fácil demais? Pois saiba que cada quadra tem regras próprias, definidas pelos seus donos, deixando algumas partidas bem divertidas e outras bem desafiadoras. Uma das que mais me chamou a atenção foi a que cada roubada de bola, toco, rebote e assistência contam um ponto no placar, favorecendo o jogo coletivo e bem trabalhado em detrimento de um ritmo tresloucado ao estilo Mike D'Antony.

O problema é que, fora esses três pontos comentados, NBA Live 19 não consegue se manter competente o suficiente para entregar um "algo a mais". É quase como se ele fosse um Gilbert Arenas, Allan Houston ou Stephon Marbury dos videogames de basquete: empolga, é bonito de se ver, mas não vai muito além disso.

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Grant Hill, Penny Hardaway e outras promessas

Se por um lado os gráficos são decisivos para a imersão de NBA Live 19, o mesmo não pode ser dito de outros aspectos técnicos. Dentro do jogo, a narração é sofrida e não passa, nem de longe, a emoção de uma partida de basquete. Ed Cohen e Jay Williams até se esforçam, acrescentam uma curiosidade e outra às partidas, mas falta entrosamento e química entre os dois, resultando no que parece ser uma conversa de sala de espera. No modo The One ou Court Battle, eles somem completamente e o silêncio só é quebrado pela pouca conversa que há entre os jogadores em quadra.

A jogabilidade é outro aspecto que incomoda bastante. É verdade que os jogadores se movimentam e têm um "peso" bem realista, e os controles e mecânicas adotados pela EA para alguns movimentos mais difíceis, como o eurostep, fazem sentido; mas há decisões de desenvolvimento duvidosas. Em um contra-ataque com dois jogadores, por exemplo, quem já jogou basquete minimamente sabe que o companheiro que não está com a bola sempre corta para dentro do garrafão para receber o passe e fazer a cesta — se forem três na jogada, o outro até pode ficar na linha de três. É um fundamento básico, mas que é completamente ignorado em NBA Live 19. Aqui, os jogadores simplesmente não cortam para dentro, preferindo ficar zanzando no perímetro, mesmo que estejam marcados.

Também não dá para entender o motivo de os jogadores não arrancarem em velocidade máxima quando roubam a bola e iniciam o contra golpe. Até chegar à quadra adversária, mesmo sem nenhum adversário na frente, o máximo que ele faz é trotar; correr de verdade só depois de cruzar a linha de meia quadra — e a defesa estar toda armada novamente.

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Se é difícil sair no pique, sobra disposição para fazer jogadas mirabolantes e que desafiam as leis da física. É muito fácil, por exemplo, acertar cestas arremessando a bola por trás da tabela, acertar chutes de três mesmo com o jogador todo torto e marcado, fazer bandejas ninjas de darem inveja até mesmo a Michael Jordan e todo seu hangtime e ir buscar a bola na parte de cima da tabela em um toco como se fosse o Superman.

Obviamente isso tudo é contornável e não atrapalha o jogo como um todo, mas tira uma parte de seu realismo, faz parecer que movimentos como o de bloqueio e roubo de bola são na verdade uma espécie de quick time event e que acertar arremessos do meio da rua é uma questão exclusivamente de timing e não de posicionamento e marcação.

Fora esses aspectos técnicos, o que se percebe é uma certa falta de interesse da EA em investir e polir outros modos que não o The One e o Court Battle. Não resta dúvidas que as duas modalidades são o grande atrativo de NBA Live 19, que acaba deixando a desejar no Franchise e até mesmo no Ultimate Team, carro-chefe das séries Madden e, sobretudo, FIFA. Aqui, seu sistema de progressão é capenga e desinteressante, e as recompensas por desempenho são risíveis, forçando o usuário a gastar dinheiro para montar um time de respeito.

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Olhando por esse ângulo, a verdade é que NBA Live 19 estreia como uma grande promessa, ameaçando tomar o trono do melhor do pedaço, como Grant Hill, Penny Hardaway e muitos outros fizeram com Michael Jordan. No começo, eles encantaram os fãs com suas habilidades e desenvoltura, mas depois de um tempo se machucaram e tiveram de reinventar suas carreiras, com um estilo e ritmo de jogo completamente diferentes.

Talvez seja o momento de NBA Live 19 se enxergar dessa forma e se reinventar. O The One funciona bem, traz uma pegada de streetball interessante ao título e acaba ofuscando tanto as partidas oficiais quanto o Ultimate Team. De repente, quem sabe se o caminho não é esse?

Certeza mesmo é o rebuild da série NBA Live ainda não chegou ao ponto ideal de maturação, como ocorreu com Embiid e o 76ers nesta temporada. Depois de inúmeras lesões que o tiraram das quadras em 2014 e 2015, o pivô surge, quatro anos depois, como um dos principais nomes da temporada 2018-19; e o Sixers desponta como um forte candidato a brigar pelo menos pelo título da Conferência Leste. A EA, por outro lado, parece estar trilhando o caminho correto, embora ele ainda seja longo.

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NBA Live 19 está disponível para Xbox One e PlayStation 4. No Canaltech, o jogo foi testado no Xbox One X com cópia gentilmente cedida pela Electronic Arts.