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Análise | Naruto Boruto: Shinobi Striker é uma bagunça rasa bem-intencionada

Por| 24 de Setembro de 2018 às 13h29

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Bandai Namco
Bandai Namco

Com o lançamento de Ultimate Ninja Storm 4 em 2016, a Bandai Namco se encontrou numa enrascada: mesmo com o sucesso do jogo, a produtora via uma de suas franquias mais famosas e mais vendidas ficar sem rumo, já que a série havia utilizado todas as narrativas possíveis do anime.

Dois anos depois, Naruto Boruto: Shinobi Striker é lançado com uma missão complicada: definir quais serão os novos rumos da franquia de ninjas nos videogames. Muitas mudanças foram feitas, e Shinobi Striker é um jogo totalmente diferente de qualquer outra lançado sob o selo Naruto. Mas será que essas mudanças foram mesmo para melhor?

MOBA de Naruto?

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De uma maneira bem superficial, é possível dizer que Naruto Boruto: Shinobi Striker é um MOBA de Naruto. Afinal, é um jogo multiplayer online que se passa numa arena onde os jogadores se enfrentam, o que é literalmente a definição de MOBA. Mas, ao citarmos esse gênero, os primeiros jogos que vêm à mente são DOTA 2, League of Legends ou até Heroes of The Storm, e Shinobi Striker é muito diferente de todos eles.

É bem complicado classificar Shinobi Striker em algum gênero conhecido pelo mercado, mas, como isso é necessário para facilitar a compreensão das pessoas sobre o que esperar dele, é possível dizer que o título é uma espécie de Overwatch de Naruto. Assim como o jogo de tiro da Blizzard, Shinobi Striker possui elementos característicos de MOBAs, como as diferentes classes de personagem e os objetivos que exigem uma certa estratégia do jogador e não se resumem a matar a maior quantidade de pessoas possível, mas também não é totalmente um MOBA “raiz”, já que essas estratégias são uma parte secundária (úteis e que podem definir os rumos de uma partida, mas ainda assim secundárias) do gameplay, focando mais na habilidade dos jogadores em emendar combos de golpes e poderes nos adversários.

Mas as semelhanças com Overwatch terminam assim que saímos do núcleo do gameplay. Em todo o resto, Shinobi Striker possui muitas semelhanças com outro jogo baseado em anime da Bandai que foi um sucesso: Dragon Ball Xenoverse.

Jutsu de customização

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As semelhanças com Xenoverse são notáveis desde o começo, quando você deve criar o seu próprio personagem do mundo de Naruto. Apesar de similar, o sistema de criação de personagens de Shinobi Striker é mais completo do que o do jogo de Dragon Ball, com uma maior variedade de opções para a confecção do visual de seu personagem, além de traços mais personalizáveis, que fazem com que qualquer bonequinho pareça mesmo com um possível personagem do anime e não uma caricatura de personagens conhecidos como costuma acontecer em Xenoverse.

O modo de criação permite ao jogador definir cada elemento do rosto do personagem (olhos, cabelo, nariz, boca e pintura facial), fora o físico (corpo) em si (mas nisso há pouca variação, pois a única diferença notável nesta definição é a altura, não sendo possível criar um personagem gordo ou esquelético). Além das definições físicas, você também pode escolher qual é a origem de seu personagem, sendo possível optar entre cinco vilas (Folha, Pedra, Nuvem, Neblina e Areia), com cada uma delas concedendo pequenos bônus para o personagem, como maior quantidade de vida, poder de ataque ou velocidade de recuperação dos jutsus. Definindo essas características, você deve nomear o personagem e escolher a voz dele para que possa ser enviado à Vila Secreta, onde o jogo irá se passar.

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A Vila é o hub principal do jogo, onde jogadores podem acessar as diferentes atividades — que se resume a basicamente duas: lutar numa arena contra outros jogadores, ou participar sozinho de missões de treino. Logo que entramos nela, já é possível perceber como os gráficos mudaram em comparação aos jogos da série Ultimate Ninja Storm, o que pode criar um certo desconforto entre os jogadores mais antigos, já que muitos não gostam da ideia de se afastar do estilo de traço dos jogos anteriores, que se assemelha mais ao anime.

Outra diferença de Shinobi Striker para os jogos da série Ultimate Ninja Storm é a falta de uma linha narrativa. A única história existente no jogo (que é contada na CG de abertura) é de que todos os ninjas do mundo se reuniram na Vila para participar de um torneio e definir quem é o mais forte. Mas mesmo excluindo a linha narrativa, a desenvolvedora pareceu não se esforçar para oferecer dinamismo aos modos de jogo. O combate PvP da arena possui apenas 4 opções de confronto (luta 4x4, capturar bandeira, controlar algum ponto específico do mapa e outro onde um dos times precisa derrotar um boss controlado pelo computador, enquanto o outro funciona como um grupo de “capangas” desse boss, devendo impedir que o primeiro grupo o derrote). Ainda que o combate em si seja divertido e o jogo ofereça maneiras diferentes de se explorar o mapa (como correr pelas paredes ou utilizar a kunai com fio para impedir uma queda, todas bem simples de ser executadas e que não exigem combinações complexas de botões pela parte do jogador), ele pode se tornar frustrante pelo total desbalanceamento do jogo.

Ainda que Naruto Boruto: Shinobi Striker funcione como um MOBA e possua quatro classes de personagens (ataque, defesa, ataque à distância e cura) com características distintas, essas classes não são escolhidas ao se criar o personagem. Todos podem pertencer a qualquer uma delas, e antes de iniciar as lutas os jogadores devem escolher qual delas o seu personagem irá representar na arena. Essa escolha cria a possibilidade de um combate mais tático, mas ao mesmo tempo anula essa mesma possibilidade. Se em Overwatch, onde cada personagem possui uma classe específica muitas vezes já é difícil convencer as pessoas a jogarem em função do time e não da diversão própria, isso se torna praticamente impossível em Shinobi Striker, e o mais comum é vermos dois times montados apenas com personagens de ataque se digladiando em combos e sem nenhuma preocupação tática.

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Mesmo que cada vez que o personagem morre seja possível modificar a classe com a qual ele irá voltar para a arena, essa opção é pouco usada para criar táticas de equipe que se adequam a cada cenário, e os jogadores costumam ficar sempre com aquela com a qual possuem os melhores combos de dano. Além disso, o matchmaking de Shinobi Striker é horroroso, e é muito comum personagens de nível mais baixo serem colocados no mesmo mapa de jogadores de 50 níveis acima, o que pode fazer quem está começando se frustrar tanto que decida abandonar o jogo por completo.

Fora o PvP, há também um modo PvE, com missões que podem ser realizadas tanto com outros jogadores quanto sozinho em modo offline. Aqui, há uma variedade maior de missões, a maioria delas com a presença de personagens da série, sendo este modo o único lugar onde o jogador pode enfrentar ou lutar ao lado do ninjas mais conhecidos. Apesar disso, todas essas missões ocorrem em apenas 5 mapas diferentes, o que deixa tudo bem repetitivo. Também é nesse modo onde é possível enxergar mais nitidamente o principal problema do gameplay, que é o sistema de mira.

Em lutas PvE 4x4, onde as batalhas costumam ser mais dispersas, com os jogadores se movimentando por diferentes lugares da tela, o sistema de marcação rápida de adversário ajuda bastante a não perder o controle da luta. Mas, ao colocar o mesmo sistema em um mapa cujo objetivo é enfrentar hordas de inimigos, essa velocidade na troca de alvos vira uma desvantagem e é bem comum ver o personagem dado socos no ar, mesmo com 5 ou 6 inimigos por perto, já que o sistema de mira não consegue decidir em qual deles deve focar. Outro ponto frustrante do modo é a curva de dificuldade não-linear das tarefas. Principalmente para personagens de níveis baixos, é comum sair de uma missão que foi completada praticamente sem suor e, logo na próxima missão liberada, seu personagem não conseguir nem dar dano direito nos inimigos e morrer com três golpes.

Jutsu de maquiagem

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Uma coisa que Shinobi Striker faz muito bem é a customização do personagem. Todas as partes do bonequinho podem ser modificadas no jogo, não apenas a aparência, mas também as armas e jutsus que serão utilizados nas lutas.

Cada jogador possui 4 jutsus que podem ser utilizados durante os combates: dois primários, que normalmente fazem referência à classe do personagem (jutsus de dano para a classe de ataque e de recuperação de vida para classe de cura, por exemplo); um jutsu de substituição, usado para fugir para um local seguro no meio de um combo; e uma técnica secreta, que é o jutsu mais poderoso do personagem e várias vezes possui mais de um único efeito, como por exemplo aumentar o poder de ataque enquanto regenera a vida do personagem.

Cada uma das classes possui um set de customização próprio, permitindo que o jogador equipe armas, uniformes e jutsus diferentes para cada classe, permitindo criar esquemas distintos para maximizar a eficiência de cada classe. Mas, ao mesmo tempo, essa aparente ideia de liberdade está fortemente atada por correntes, pois as armas e jutsus também são classificadas de acordo com cada classe, então jutsus de ataque e soco ingleses só podem ser utilizados por classes e ataque, e katanas e jutsus de cura só podem ser utilizados por classes de cura. Isso impossibilita a criação de personagens híbridos ou que podem executar mais de uma única tarefa durante as lutas, o que faz com que, mesmo em um jogo que possui foco na customização, todos os personagens criados por qualquer jogador sejam basicamente os mesmos, diferenciando-se apenas de forma cosmética.

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É possível comprar novos estilos de penteado e armas na loja da Vila, mas os melhores itens só podem ser encontrados em pergaminhos. Eles funcionam mais ou menos como uma lootbox, que liberam itens aleatórios ao serem traduzidos. A grande diferença deles para o que conhecemos como lootbox é que a Bandai não utiliza um esquema de monetização, então o único meio de consegui-los é completando missões no jogo.

Os jutsus, por outro lado, possuem um sistema parecido com o de Xenoverse, onde o jogador precisa escolher um personagem da série Naruto para atuar como mestre, completar missões para ganhar experiência na relação e subir o level dela para aprender novos golpes. O grande problema aqui é que cada mestre só ensina jutsus que podem ser utilizados por uma das quatro classes de personagem, mas não há nenhuma indicação do jogo de qual é a classe de personagem de cada um deles. Isso pode fazer com que jogadores que não possuam um bom conhecimento do anime dediquem tempo para aprender um jutsu que parece interessante e, quando finalmente conseguem, se frustram por ele não poder ser utilizado pela classe preferida.

Torto por caminhos certos

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Naruto Boruto: Shinobi Striker é uma bagunça bem-intencionada. É possível ver que a Bandai Namco se preocupou em colocar no jogo todos aqueles elementos que os fãs de Naruto há muito pediam, como a criação de personagens e a grande quantidade de customizações. Mas atrás dessa camada cosmética, há um jogo sem profundidade, repetitivo e com um nível de dificuldade bastante desequilibrado.

Ainda que apresente boas ideias para a continuação de uma franquia que não sabe exatamente para onde ir com o fim do anime, Shinobi Striker as utiliza de maneira muito crua, fazendo com que o jogo — que, na primeira impressão, parece oferecer tantas possibilidades — se torne bem básico e genérico. Naruto Boruto: Shinobi Striker ainda é uma boa opção para os amantes de Naruto que gostariam de sentir como seria pertencer ao mundo da série, mas não possui aquele diferencial encontrado na franquia Ultimate Ninja Storm, que entregava um jogo com profundidade suficiente que até pessoas que nunca assistiram ao anime podiam apreciar.

Naruto Boruto: Shinobi Striker está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC. No Canaltech, o jogo foi analisado no PlayStation 4 com cópia digital gentilmente cedida pela Bandai Namco.