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Análise | Fist of the North Star: Lost Paradise é o monstro fora da jaula

Por| 25 de Outubro de 2018 às 13h18

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Análise | Fist of the North Star: Lost Paradise é o monstro fora da jaula
Análise | Fist of the North Star: Lost Paradise é o monstro fora da jaula
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Já imaginou Yakuza ainda mais exagerado, com muito mais tripas e sangue, tudo isso misturado com Mad Max e os melhores/piores filmes de kung-fu produzidos em Hong Kong na década de 1980? Se isso te deixou interessado, então Fist of the North Star - Lost Paradise pode ser exatamente o jogo que você está procurando.

Mad Max japonês

Lost Paradise é a mais recente adaptação para os videogames do mangá Hokuto no Ken, que aqui no ocidente é conhecido como Fist of the North Star. Publicada pela Shonen Jump entre 1983 e 1988, a história possui muita influência de Mad Max, clássico de George Miller lançado em 1979.

Assim como em Mad Max, Fist of the North Star também se passa em um universo pós-apocalíptico em que o mundo virou um grande deserto. Há uma enorme escassez de água e suprimentos básicos e praticamente não existem cidades, com as pessoas vivendo como nômades não apenas atrás de suprimentos, mas também para fugir do ataque de gangues que se divertem matando, torturando e roubando os mais indefesos. Até o modo como esses criminosos são apresentados é nitidamente inspirado em Mad Max: eles andam em bando, normalmente em comboios de veículos altamente modificados para deixá-los mais assustadores e mortais, e utilizam um visual bem punk, com moicanos coloridos, roupas rasgadas e acessórios de couro que parecem saídos da sessão de sadomasoquismo de uma sex shop.

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Mas, ao contrário do filme americano, as bases de conflito do universo de Fist of the North Star não são a gasolina e a pólvora, mas sim as artes marciais. O personagem principal é Kenshiro, um mestre do estilo Hokuto Shinken que pode, literalmente, explodir seus adversários com um soco.

Ao contrário da questão mais materialista de Mad Max, onde a sobrevivência é a única vivência em um mundo apocalíptico onde já não existem mais conceitos como justiça e caridade, o universo do mangá utiliza esse cenário para abordar temas comuns a filmes de kung-fu, como a diferença tênue entre a busca por justiça e a busca por vingança, o conhecimento interno (chakras) como forma de mudar sua concepção de mundo, ou a contradição da expressão de sentimentos positivos através dos punhos.

No mundo de Fist of the North Star, os líderes de gangues são mestres de estilos marciais que traíram seus ensinamentos e usam o poder que adquiriram pelo treino para matar e destruir ao invés de proteger. Como sucessor do estilo Hokuto Shinken, Kenshiro acaba viajando pelo mundo protegendo os mais indefesos dessas ameaças — ainda que muitas vezes as próprias pessoas salvas tenham medo dele (e em defesa dessas pessoas, eu também me cagaria de medo se visse alguém dando um soco numa pessoa e a cabeça da pessoa que apanhou simplesmente inchasse e explodisse sozinha).

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Ou seja, ao contrário de Mad Max, que apresenta um anti-herói que só faz coisas consideradas “boas” quando tem algo a ganhar, Kenshiro é um herói no sentido clássico da palavra, que coloca de lado suas necessidades e arrisca sua vida para salvar aqueles que estão em perigo.

Yakuza of the North Star

Desenvolvido pela mesma equipe responsável pelos jogos da franquia Yakuza, é fácil de notar as semelhanças que Lost Paradise possui com o jogo sobre a máfia japonesa. O gameplay de ambos é basicamente o mesmo, com a maior parte da aventura se passando dentro de uma cidade, onde o personagem pode conversar com NPCs, que poderão tanto avançar a narrativa principal quanto oferecer missões secundárias. Durante os combates, o cenário se concentra em um pequeno espaço que serve como uma arena, onde o jogo se aproxima de um game de luta, com o personagem precisando utilizar combos baseados em sequências de botões ou golpes especiais baseados em QTE (Quick Time Events) para derrotar seus inimigos.

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A principal diferença entre os dois jogos está no exagero da ação apresentada. Claro, qualquer um que já jogou Yakuza pode achar que o jogo já é meio exagerado, mas Lost Paradise vai ainda além, com golpes dignos de animes como Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z (afinal, é um jogo baseado em um mangá de artes marciais) e bacias de tripas e sangue dignas de um filme de terror trash.

No jogo, Kenshiro está em uma peregrinação em busca de sua amada Yuria e acaba chegando na cidade de Eden, o último paraíso de um mundo destruído, onde uma tecnologia misteriosa garante que os cidadãos da cidade tenham acesso à água e à energia elétrica. Ainda que a narrativa do jogo utilize elementos do mangá, como personagens, locais e até mesmo alguns eventos, Lost Paradise não é necessariamente uma adaptação da narrativa criada na década de 80, funcionando mais como um remake feito por alguém que conhece toda a história original, a respeita, mas resolve que ela deve ser ignorada e dar lugar a uma narrativa completamente nova.

Assim como acontece na série Yakuza, boa parte do tempo de jogo em Lost Paradise é composta de missões secundárias, que funcionam como minigames dentro do jogo principal. Esses minigames estão divididos em três categorias principais: combate (como lutas em arena e caçada de criminosos), exploração (ir atrás de certos itens ou encontrar certos personagens) e QTEs (que, por exigirem do jogador apenas capacidade motora de apertar botões, são os que mais se esforçam para oferecer alguma coisa diferente).

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Nenhuma dessas atividades são inovadoras em si — afinal, praticamente qualquer jogo de arte marcial possui uma arena onde o jogador deve derrotar hordas de inimigos, assim como qualquer jogo de mundo aberto onde o personagem tem um carro colocará o jogador para viajar pelo cenário em busca de itens ou terá algum tipo de competição de corrida. Mas, assim como o exagero é o principal ponto de diferenciação do combate de Lost Paradise e é o que torna ele até mesmo mais divertido do que o da série Yakuza, a mesma afirmação continua verdadeira para os minigames, todos com um exagero tão grande na condição de “macho alfa” do protagonista que se tornam cômicos.

Os principais destaques aqui vão para os seguintes minigames:

  • O de baseball: o taco é uma viga de metal daquelas usadas na construção de prédios, e as bolas a serem rebatidas são punks que tentam invadir a cidade com motocicletas
  • O de musicoterapia: uma espécie de Guitar Hero, onde o jogador precisa apertar os botões na sequência que aparece na tela e no tempo correto, enquanto Kenshiro tenta, ao mesmo tempo, curar os pacientes da enfermaria e bater nos criminosos que a estão invadindo, tudo no ritmo da música que está sendo tocada
  • O de bartender: Kenshiro utiliza suas habilidades como artista marcial para criar drinks alcoólicos e oferecer um ombro amigo para as pessoas que vêm ao balcão do bar reclamar da vida; e
  • O de boate: aqui o jogador deve atuar como um cafetão, enviando para a mesa dos clientes mulheres do tipo que mais lhes agradam para que eles gastem mais e fiquem mais tempo na boate.
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E seguindo o padrão criado pela SEGA para jogos em mundo aberto desde o lançamento de Shenmue para o Dreamcast, Lost Paradise também possui um arcade onde é possível jogar clássicos da empresa, como Black Belt (que foi o primeiro jogo de videogame baseado no mangá Hokuto no Ken), Space Harrier, Out Run, Super Hang On e até mesmo aquelas maquininhas de garra pra pegar bichinhos de pelúcia, que se torna divertida porque aqui não é apenas um caça-níquel e é possível pegar os bichinhos com apenas uma ficha depois de aprender as manhas.

Injeção de testosterona

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No quesito inovação, Fist of the North Star: Lost Paradise não é um jogo que vai entrar para a história. É bem fácil perceber a proximidade dele com os jogos da franquia Yakuza. Tanto é que o fato de o personagem principal ter o mesmo dublador do protagonista dos jogos da máfia japonesa não ajuda o jogador a conseguir diferenciar um do outro. Mas, enquanto Yakuza é o Rodrigo Hilbert levantando peso no quintal de casa enquanto se prepara para acordar os filhos, Lost Paradise é o Kléber Bam-Bam chamando o monstro numa live do Instagram: muito mais estranho, muito mais exagerado e, exatamente por isso, muito mais divertido.

Fist of the North Star: Lost paradise é um jogo exclusivo para o PlayStation 4. No Canaltech, o jogo foi analisado com cópia digital gentilmente cedida pela Atlus.