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Análise | Doom 64 quer amarrar narrativa de Doom Eternal trazendo mais do mesmo

Por| 07 de Abril de 2020 às 07h30

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Nick Wride
Nick Wride

Doom 64 é provavelmente a joia negligenciada da franquia de tiro em primeira pessoa criada por John Romero e produzida, atualmente, pela Bethesda Softworks. Originalmente lançado em março de 1997 para o Nintendo 64, o jogo acabou amplamente ignorado pelo consumidor por um motivo meio tosco: na época, haviam tantos ports e relançamento dos originais Doom e Doom 2 que as pessoas acharam que esse se tratava de mais um, quando na verdade era um jogo inédito, com narrativa e fases exclusivas.

Talvez no intuito de fazer uma espécie de “justiça histórica” ao mesmo tempo em que aproveita o sucesso obtido com o recente lançamento de Doom Eternal, a Bethesda Softworks relançou Doom 64 (adaptado pelos estúdios Nightdive) com uma (bem) leve atualização em gráficos e sons, mas mantendo os aspectos de gameplay intactos. É, afinal, um jogo original.

Pelo menos é isso que a Bethesda e a id Software querem que você pense, já que o “novo” Doom 64 acaba fazendo muito pouco no sentido de agradar o usuário e, embora bastante divertido, pode mais confundir jogadores mais novos ao mesmo tempo em que é curto demais para contemplar a nostalgia dos mais velhos.

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É importante ressaltar, antes de mais nada, que a Bethesda tem um objetivo específico com esse relançamento: Doom 64, aqui, conta com um mecanismo inédito ao lançamento original. O “novo” jogo tem uma fase extra, exclusiva deste remaster, que serve para amarrar o enredo do ao início dos eventos de Doom Eternal. A Bethesda, sendo a Bethesda, conduziu a narrativa de tal forma que não podemos abrir detalhes demais para não entregar spoilers, mas basta dizer, basicamente, que os demônios infernais voltaram à vida graças a uma entidade que passou despercebida na guerra travada no primeiro e segundo jogos, dotada da capacidade de ressuscitar carne morta, trazendo os inimigos do Doom Marine de volta à vida. O nível extra aqui posicionado segue logo após os eventos do Doom 64 original.

Detalhes narrativos à parte, a Bethesda foi cuidadosa em atualizar as texturas de Doom 64 de forma muito leve, quase imperceptível. Só podemos presumir que o intuito tenha sido o de preservar ao máximo a experiência original de imersão audiovisual, mas, intencional ou não, esse é um mais que bem-vindo efeito. Eu mesmo joguei o título original em 1997, desenvolvido pela antiga Midway Games, e a sensação de ser jogado diretamente na ação novamente me pegou de surpresa: Doom Eternal já contava com uma introdução rápida, mas Doom 64 supera até mesmo seu “irmão em 4K”.

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Outra vantagem que Doom 64 tem em relação ao lançamento principal é a imprevisibilidade: não foi o caso comigo por eu ainda lembrava bem (de alguns, vai) dos corredores pixelados do jogo original, mas “Doom Marines” de primeira viagem vão estranhar no princípio a forma como inimigos conseguem lhe surpreender. Em Doom Eternal, você meio que consegue adivinhar quando grandes combates vão começar, mas aqui as coisas são meio que conduzidas “no tato”. Você pode se armar até os dentes para não acontecer nada em um espaço muito amplo, apenas para que um corredor bem estreito conte com oito ou nove inimigos na tela, mais as armadilhas de cenário (sim, sempre tem um teto descendo ao chão para esmagá-lo ou algo parecido) se posicionem à sua frente justamente quando você achou uma boa ideia relaxar.

Infelizmente, as coisas boas param por aí, já que a tradicionalidade tão procurada pelos estúdios Nightdive se prova uma lâmina de dois gumes, também contribuindo negativamente: jogadores mais novos estarão acostumados com uma inteligência artificial minimamente criativa em seus inimigos. Tal coisa inexiste aqui: os oponentes sempre lhe atacam em linha reta, variando para as laterais apenas para dar uma ilusão de esquiva. Essa previsibilidade só impõe alguma dificuldade graças aos controles meio confusos — a câmera não possui movimento vertical, então “atirar” nos inimigos é estranho de se ver. Exemplo: inimigos em posição elevada requerem um ajuste vertical de câmera em qualquer jogo de tiro, mas aqui basta que sua arma aponte para o meio da tela que você vai acertar um monstro mesmo que este esteja em um lugar alto.

A movimentação acelerada do protagonista também contribui de formas positiva e negativa: por um lado, a progressão do jogo é rápida e bem dinâmica; por outro, ela praticamente anula qualquer dificuldade: durante o curso desta análise, joguei Doom 64 três vezes (tem isso também: é um jogo bem curto, você termina em pouco mais que uma tarde, ou menos, se já conhecer ou se lembrar dos caminhos corretos) e, na terceira, só para arrancar umas risadas, eu fui até as fases finais sem dar um único tiro — derrubava inimigos menores no soco enquanto demônios mais poderosos sucumbiam à minha motosserra — que aqui tem uso irrestrito — e tudo o que eu precisava era dar aquela “corridinha” (ou rush, se apelarmos ao jargão) em direção ao oponente. Na maioria dos casos, eles estavam mortos antes de darem qualquer golpe.

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O nível extra em questão, sem abrir detalhes demais, é o que faz jus à apresentação e se mostra como o pedaço mais inovador do jogo: como dissemos, ele busca relacionar Doom 64 e Doom Eternal, então algumas referências ao jogo principal são exibidas aqui de maneira bem óbvia.

No mais, o jogo tem os temperos de sempre em sua receita: segredos estão escondidos em passagens secretas, as fases são relativamente curtas — coisa de cinco ou dez minutos cada — e a sanguinolência ainda segue divertida de se ver, mesmo pixelizada. Doom 64 vem de graça para quem adquiriu Doom Eternal na pré-venda, mas pode ser comprado (R$ 9,95 na Xbox Live, incompreensíveis R$ 19,90 na PlayStation Network, quase R$ 26,00 na conversão do dólar para o Nintendo Switch e, finalmente, R$ 9,95 via Steam).

A análise faz parecer que o jogo é ruim, mas não é. Na verdade, ainda é uma experiência bem divertida e tem muito do “DNA Doom”, perfeito para jogadores que querem apenas entrar logo na partida e virar umas cabeças demoníacas. Isso dito, não espere uma “experiência nostálgica” — o jogo é curto e simples demais para isso — para veteranos, nem tampouco algo “em HD e gameplay atualizado” para os mais casuais. Bem, resumidamente, é o Doom 64 original. Só que nas plataformas de hoje.

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Doom 64 foi testado no PlayStation 4 com cópia gentilmente cedida ao Canaltech pela Bethesda.