Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Análise | Darksiders 3 abandona suas raízes para agradar tendências de mercado

Por| 11 de Dezembro de 2018 às 10h17

Link copiado!

'
'

A franquia Darksiders é conhecida por jogos que, na falta de um termo melhor, podemos chamar de AA (double A) — não possuem o mesmo investimento, refinamento e reconhecimento dos grandes lançamentos (também conhecidos como AAA, ou triple A), mas ao mesmo tempo o investimento feito neles é muito grande para que possam ser chamados de indies. E a franquia sempre esteve nesse meio termo: tem bons jogos, mas nenhum memorável; tem mecânicas sólidas, mas nada revolucionário; possui uma narrativa bacana, mas nada que faça o jogador ficar pensando na história e seus personagens depois que o videogame é desligado. É uma franquia de jogos competentes, mas nada além disso.

E, assim como os outros dois anteriores, Darksiders 3 também é tudo isso.

Volta ao passado

Continua após a publicidade

Ainda que seja o terceiro jogo da série, Darksiders 3 funciona como um retorno ao passado.

Na narrativa, em vez de continuar os eventos do primeiro Darksiders (ou mesmo do segundo), a história de Darksiders 3 acontece em um período anterior ao segundo jogo, logo depois que Guerra, um dos Cavaleiros do Apocalipse, é preso e acusado de ter quebrado o equilíbrio entre as forças do Paraíso e do Inferno e trazido o Apocalipse para a Terra antes da hora (fato que acontece no prólogo do primeiro Darksiders).

No jogo, controlamos Fúria, um dos Cavaleiros do Apocalipse na trama (que são Morte, Guerra, Fúria e Conflito, em vez de Morte, Guerra, Fome e Peste da literatura católica) e a única do sexo feminino do grupo. Assim como os outros personagens, Fúria também tem sua arma característica: a Scorn, uma empunhadura que tem a capacidade de assumir diferentes formas. A arma é usada principalmente como um chicote, mas também pode se tornar uma lança, uma marreta, uma espada e duas lâminas presas por corrente (parecido com as armas do Kratos em God of War), e com ela Fúria precisa encontrar e capturar os 7 pecados capitais que aproveitaram a confusão criada com o Apocalipse antes da hora de fugirem para a Terra.

Mas a volta ao passado não é apenas de forma narrativa, mas também nas próprias mecânicas do jogo. Darksiders 3 abandona todas as novas mecânicas que haviam sido inseridas na série em Darksiders 2, como a de loot com diferentes equipamentos, o mapa de mundo aberto explorável e o uso de montaria para se locomover entre os diferentes cenários. Todos esses elementos foram abandonados para criar uma experiência muito mais parecida com o primeiro título da série, o que torna Darksiders 3 muito mais parecido com um jogo “estilo Zelda clássico” do que com um RPG de ação, onde a todo momento os mesmos cenários e salas são revisitadas, mas novos caminhos são abertos conforme novas armas e habilidades são desbloqueadas ao avançarmos pelo jogo. Também não há mais a opção de equipar a personagem com armaduras e armas diferentes, sendo possível utilizar apenas aquelas que são desbloqueadas conforme Fúria vai liberando novas habilidades a cada um dos pecados que derrota.

Continua após a publicidade

“Tipo alma”

Mas nem tudo em Darksiders 3 remete ao passado, e todas as principais mudanças propostas pelo jogo remetem a uma tendência bem recente na indústria de jogos: aproximar o máximo possível todos os jogos de Dark Souls.

A parte mais notável dessa aproximação está na dificuldade do jogo: Darksiders 3 é muito mais difícil do que os anteriores. Não que tenha havido grandes mudanças na mecânica de lutas; a velocidade dos golpes e combos ainda é a mesma de sempre — tanto da protagonista quanto dos inimigos —, só que agora qualquer inimigo comum do mapa pode matar seu personagem em três ou quatro golpes, o que torna saber se esquivar e defender uma das principais mecânicas das lutas. Principalmente as esquivas, já que desviar de um ataque no momento exato que ele iria te acertar cria uma “janela” de contra-ataque que permite atingir o adversário com golpes mais poderosos do que o normal.

Continua após a publicidade

Mas não é só na dificuldade geral que Darksiders 3 se assemelha a Dark Souls, mas diversos elementos do jogo tiveram clara inspiração na franquia da From Software. Os mais perceptíveis são o sistema de level up e o de salvamento. Ao contrário dos jogos anteriores, Darksiders 3 não salva automaticamente cada vez que você entra em uma sala importante ou abre um baú. Em vez disso, o jogo salva apenas em alguns lugares muito específicos, imitando o funcionamento do sistema de fogueiras de Dark Souls.

Essa função fica por conta de Vulgrim, o demônio comerciante de itens e equipamentos que aqui também faz as vezes de save point dentro das dungeons. Além disso, ele também pode ser usado para fazer a personagem passar de nível. Assim como em Dark Souls, em Darksiders 3 você também deve trocar almas coletadas dos inimigos por pontos de atributo para evoluir seu personagem, e é com Vulgrim que essa troca é feita. Além disso, caso o jogador morra em algum ponto da dungeon, o personagem retorna para o último lugar onde o jogador encontrou o demônio, e sem nenhuma das almas que possuía antes de morrer — que devem ser recuperadas retornando ao local onde morreu e batendo em um “fantasma” de seu antigo corpo que fica pairando por ali.

Outra influência clara da franquia Souls é vista nos chefes do jogo: todos eles são criaturas gigantescas, horrendas e completamente deformadas. A semelhança deles com os inimigos encontrados em Dark Souls é tão grande que, se retirássemos os chefes do jogo e colocássemos eles em qualquer jogo da From Software seria difícil notar que são personagens de outro título. E o modo de enfrentá-los também é bem parecido com a série Souls: o jogador precisará usar toda a paciência não característica de pessoas acostumadas a jogar Darksiders, que nunca foi um jogo desse tipo, a decorar sequências de golpes, saber onde se posicionar nos cenários, desviar e defender quando necessário, dar dois golpes quando ocorrer uma abertura, e repetir a mesma sequência mais 57 vezes até derrotar o monstro ou dormir com o controle na mão de tédio, o que quer que aconteça primeiro.

Continua após a publicidade

Misto-quente gourmet

Apesar de algumas mudanças que podem ter deixado o jogo um pouco menos palatável para alguns fãs antigos da série, Darksiders 3 ainda é um bom jogo e não mudou tanto assim a sua fórmula, pois a aproximação dele com a série Dark Souls é muito superficial — como se os desenvolvedores estivessem mesmo tentando seguir uma tendência de mercado, e não realmente interessados em mudar os conceitos existentes na série desde sua gênese.

Darksiders 3 é basicamente um misto-quente gourmet: você pode usar queijo gouda envelhecido e presunto parma maturado num pão integral de 7 grãos para seguir uma tendência de mercado, agradando novos paladares e fazendo com que alguns clientes antigos não olhem para o prato do mesmo jeito, mas no fundo tudo não passa de um pão com presunto e queijo feito na chapa.

Continua após a publicidade

Darksiders 3 está disponível para PC, PlayStation 4 e Xbox One. No Canaltech, o jogo foi analisado no PS4 com cópia gentilmente cedida pela Ecogames/THQ Nordic.