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Análise: Tomb Raider

Por| 20 de Março de 2013 às 11h57

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Ela rodou o mundo em busca de relíquias e tumbas perdidas. Foi às pirâmides do Egito, visitou templos na Bolívia e Peru, descobriu a cidade perdida de Atlântida e até empossou o poderoso martelo do deus nórdico Thor. Mesmo depois de tantas aventuras, a personagem feminina mais icônica do mundo dos videogames caiu no marasmo, e nem suas habilidades balísticas e corporais foram suficientes para mantê-la na ativa. Chegava a hora de se reinventar.

A tarefa de começar do zero não foi fácil. Afinal, Lara Croft conquistou espaço numa época em que a idústria de jogos eletrônicos era predominantimente masculina, além de alcançar status de sex symbol nos consoles e no cinema. Mas após 17 anos desde o primeiro Tomb Raider, o legado da heroína parecia estagnado e fadado ao esquecimento.

Pelas mãos da Crystal Dynamics, o novo título da franquia revitaliza uma das personagens mais queridas e importantes dos games, sem abandonar por completo sua essência. A mulher, outrora uma arqueóloga intacta e caçadora exímia, agora é apenas uma jovem que mal sabe manusear uma arma, completamente perdida e amedrontada. Vá por mim: é impossível não se apaixonar com um reboot tão bonito e emocionante.

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Esqueça aquele mulherão imponente, quase intocável, que não ganhava um arranhão sequer. A nova Lara é só uma recém-formada da faculdade que está em busca de seu primeiro desafio como aventureira. Contudo, ela vai descobrir das piores maneiras possíveis que fazer parte de uma grande expedição e bancar o Indiana Jones tem suas consequências.

Resumindo: a personagem sofre. E sofre muito. Ela chora, reclama, fica preocupada com os amigos, se suja de lama, é amarrada, espancada, perfurada e quase abusada sexualmente. E não para por aí: ela ainda precisa unir forças para driblar o cansaço e explorar uma ilha desconhecida à procura de água e comida, enquanto escapa de armadilhas, animais selvagens e piratas hostis.

É justamente esse sofrimento a alma do novo Tomb Raider. Toda a dor vivida por Lara ultrapassa as barreiras do monitor e chega até você, que sente na pele os apertos enfrentados pela jovem e não quer vê-la sofrer ou morrer de jeito nenhum. Você também comemora quando a heroína passa (quase) ilesa em tiroteios ou apenas quando reencontra seus colegas, que estão tão perdidos quanto ela.

Parte desse realismo foi graças ao trabalho da inglesa Camilla Luddington, que emprestou sua voz e corpo para dar vida à personagem. Essa é a primeira vez que um game da série captura os movimentos de uma atriz, e Camilla representou com maestria suas falas e expressões, que se encaixam muito bem na nova Lara.

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Também é a primeira vez que um Tomb Raider adota um sistema de combate completamente novo e empolgante, parecido com o de Uncharted. As comparações são inevitáveis - e justas, já que o game da Naughty Dog em muito se inspirou no jogo de Lara Croft, e agora vice-versa. O que você precisa saber é que não se trata de uma cópia das aventuras de Nathan Drake. Ambos exploram, sobrevivem e escapam de perigos em momentos cinematográficos, mas Lara tem uma sensibilidade ímpar. É natural, menos mecânica e cativa desde o princípio.

Por um lado, essa naturalidade é colocada em dúvida quando a personagem precisa matar alguém pela primeira vez; é estranho saber que, para uma pessoa que nunca usou uma arma na vida, logo em seguida enfrenta uma orda de mercenários sem grandes dificuldades. Por outro, a inexperiência de Lara como caçadora mostra que tudo tem o tempo certo para acontecer no jogo. Não espere subir de nível rapidamente, nem encontrar armas mais poderosas nas fases iniciais: Lara é uma sobrevivente, e suas habilidades crescem de forma gradativa.

Cada elemento aparece na hora exata para não quebrar o ritmo do jogo. O arco e flecha, por exemplo, é o primeiro armamento da heroína; depois, ela adquire um gancho para escalada, que também serve para acertar inimigos com golpes físicos. Armas pesadas, como o rifle e a escopeta, só são encontradas quase na metade do game. O mesmo vale para o sistema de habilidades e equipamentos da personagem, que exige uma boa quantidade de pontos para evoluir.

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Outro destaque é a ilha que serve de cenário para o game. Apesar de não ser como em Far Cry 3, o jogador tem total liberdade para procurar itens como documentos e relíquias espalhados em vários lugares, além de puzzles em tumbas escondidas. Você não é obrigado a encontrá-los, mas servem como um ótimo pretexto para conhecer a fundo a história das personagens e outros detalhes da trama.

A história, aliás, é um dos furos do game. Lara e um grupo de amigos partem em busca de uma antiga civilização japonesa, os Yamatai. Após uma intensa tempestade, o navio naufraga e a heroína é separada de seus companheiros, que foram capturados por piratas de uma misteriosa seita religiosa. No decorrer do jogo, Lara descobre que uma força sobrenatural impede que ela e os outros saiam da ilha, e que sua amiga Sam é descendente dos Yamatai.

Seria uma premissa interessante, não fosse o fato de que você precisa coletar todos os documentos e tesouros para conhecê-la por inteira. Com tanto trabalho para tornar o game em algo inesquecível para os velhos (e novos) fãs de Lara Croft, faltou mais atenção da Crystal Dynamics para deixar o enredo mais apurado e atrativo. As personagens secundárias e o modo multiplayer também são irrelevantes, e podem ser facilmente descartados.

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No final das contas, esses deslizes não tiram a emoção do novo Tomb Raider. É um verdadeiro trabalho artístico visual e sonoro, repleto de ação frenética, drama e cenas grandiosas (acredite: as sequências da torre de rádio e dos navios suspensos vão deixar você de queixo caído). Quem lembra de 1996, quando Lara estreiou no PlayStation, terá uma sensação nostálgica de começar algo novo, mas que ao mesmo tempo é familiar. Mais do que ser a protagonista da história, a nova Lara Croft simboliza com louvor o renascimento de um ícone.