Telescópio espacial descontrolado é salvo após "ataque" de partículas carregadas
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |

A Agência Espacial Europeia (ESA) quase perdeu para sempre seu telescópio espacial Integral, o primeiro capaz de observar objetos em raios gama, raios X e luz visível simultaneamente. Componentes sensíveis foram “atingidos” por partículas carregadas e o observatório orbital perdeu o controle e seus instrumentos de orientação foram comprometidos. Felizmente, a agência conseguiu “salvar o dia”.
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Desde 2002, o telescópio Integral vasculha o céu à procura de fontes de raios gama e raios X, dois comprimentos de onda que podem revelar muitos mistérios do universo, como pulsares e estrelas de nêutrons. Mas, em 22 de setembro, os operadores da missão perceberam que algo estava errado quando dados irregulares começaram a chegar na sala de controle.
Pouco tempo depois, o telescópio mudou automaticamente para o modo de segurança, indicando que, de fato, alguma coisa inesperada aconteceu. Todos os sistemas não essenciais, incluindo instrumentos científicos, desligaram. Para a surpresa de todos na sala de controle, a espaçonave estava girando. Uma de suas “'rodas de reação” desligou e parou de girar, causando um efeito cascata.
As rodas de reação controlam a atitude de um satélite, girando contra as forças que poderiam deixar o instrumento fora da órbita designada. Em outras palavras, elas giram para compensar a gravidade da Terra, a resistência atmosférica, pressão do vento Solar e resfriamento desigual. O Integral tem três rodas de reação, e uma delas repentinamente estava fora de serviço.
Isso resultou em um efeito dominó: a energia que movia a roda foi transferida para a nave em si (algo semelhante aconteceria se pudéssemos segurar a hélice de um helicóptero em pleno voo, por exemplo), e seus painéis solares perderam a iluminação. Sem o controle da espaçonave, a equipe da missão não conseguia movê-la para que os painéis voltassem à posição correta. Com isso, a bateria não podia recarregar e só havia energia para mais algumas horas.
Para complicar ainda mais a situação, o Integral, um satélite de 19 anos, já teve mais problemas técnicos do que a equipe gostaria de lidar. Isso significa que os sistemas de backup originais projetados para funcionar em casos de emergência não funcionaram. A equipe conseguiu reativar a roda de reação, mas isso não foi o suficiente para cancelar o momento angular do telescópio, ou seja, ele continuava girando a 17 graus por minuto.
Os dados transmitidos eram instáveis, então foi difícil para a equipe na superfície, a mais de 1.500 km de distância, fazer uma leitura exata do que estava acontecendo. O primeiro desafio foi diminuir o consumo de energia da Integral para ganhar mais tempo — havia apenas três horas de carga útil nas baterias. Desligando vários instrumentos e componentes não críticos, a equipe ganhou mais de seis horas.
Após uma análise do estado das rodas de reação, as equipes de especialistas conseguiram enviar uma série de comandos para alterar a velocidade e frear o satélite em rotação. Eles tiveram que esperar três longas horas antes que o satélite realizasse as manobras e, finalmente, indicasse que tudo estava sob controle. Mas ainda não era o fim da história.
No dia seguinte, quando a equipe se reuniu novamente para discutir os próximos passos, a espaçonave começou a girar outra vez, agora porque suas rodas de reação estavam girando em alta velocidade. Ainda não se sabe exatamente o motivo, mas a equipe suspeita que o rastreador de estrelas (instrumento que usa estrelas distantes para que o telescópio “saiba” onde está e para onde esta apontando suas lentes) foi afetado quando a Terra cobriu as luzes estelares.
A equipe repetiu as etapas do dia anterior para estabilizar a espaçonave e retornar à posição correta, onde os painéis poderiam coletar os raios do Sol, sem atrapalhar os rastreadores de estrelas. Dessa vez, levou apenas algumas horas para deixar tudo em ordem. Desde então, o Integral permaneceu sob controle e, a partir de 27 de setembro, todos os sistemas voltaram a funcionar. A ESA realizou uma “extensa verificação”, segundo o comunicado, e seus instrumentos estão observando o universo corretamente.
Fonte: ESA