Quilonovas poderiam destruir camada de ozônio e eliminar vida na Terra
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |
A vida na Terra correria sérios riscos de desaparecer, caso uma explosão de quilonova acontecesse perto o suficiente. Segundo um estudo recente, uma série de mecanismos produtores de raios gama nesse tipo de fenômeno removeria a camada de ozônio do nosso planeta, resultando em um evento de extinção em massa.
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Quando duas estrelas de nêutrons se chocam entre si, uma das maiores explosões do universo produz energia o suficiente para forjar elementos pesados como ouro e platina. Ao mesmo tempo, seu potencial destrutivo também é impressionante — a detonação, chamada quilonova, libera radiação gama e chuvas de raios cósmicos viajando a velocidades próximas às da luz.
Os raios gama são o tipo mais energético de ondas eletromagnéticas, ou seja, têm o menor comprimento de onda e a maior frequência dentre todos os tipos de radiação existentes. Em grandes quantidades, poderiam abrir buracos na camada de ozônio e expor nossa atmosfera à radiação ultravioleta do Sol, o que seria letal para os seres vivos.
Ao explodir, a quilonova ejeta para ambos os lados jatos contendo raios gama e raios cósmicos (partículas carregadas, ou seja, prótons e elétrons) quase à velocidade da luz. Além disso, eles estariam cercados por uma concha mais e mais difusa de raios gama, igualmente capazes de ionizar a camada de ozônio terrestre no lado atingido.
Qualquer criatura viva seria dizimada imediatamente se estivesse na mira dos jatos estreitos, mesmo a uma distância de 297 anos-luz. Por outro lado, a concha mais larga é menos fatal, mas o ozônio da Terra levaria 4 anos para se recuperar caso fosse atingido por ela a uma distância de 13 anos-luz ou menos.
Poeira e gás no meio interestelar entre a quilonova e a Terra também ajudariam a destruir a vida no planeta. É que, ao serem atingidos pelos raios gama, eles produzem emissões poderosas de raios X, na forma de brilho residual, durando mais do que as próprias emissões de raios gama. Isso também levaria à ionização da camada de ozônio, caso a quilonova ocorra a 16,3 anos-luz de distância.
Por fim, os raios cósmicos ejetados se espalham para longe da quilonova na forma de uma bolha em expansão. Se a Terra estiver a uma distância de 36 anos-luz da quilonova, esses raios destruiriam a camada de ozono e deixariam o planeta completamente desprotegido da radiação ultravioleta por milhares de anos.
Os resultados do estudo não são exatamente precisos, pois há outros parâmetros que influenciam as distâncias mínimas de segurança como o ângulo de impacto na Terra, a energia da explosão, a massa do material ejetado, entre outros. “Com a combinação de parâmetros que selecionamos, parece que os raios cósmicos serão os mais ameaçadores”, disse Haille Perkins, líder da equipe e cientista da Universidade de Illinois Urbana-Champaign.
Claro, nada disso é motivo para preocupações reais, já que não há nenhuma dupla de estrelas de nêutrons prestes a colidir. Na verdade, os astrônomos localizaram apenas um único candidato em toda a Via Láctea: um par a cerca de 11.400 anos-luz da Terra. Portanto, mesmo que um dia ele resulte em quilonova, nosso planeta está mais do que seguro. Assim, o estudo é útil para encontrar planetas potencialmente habitáveis, colocando restrições naqueles que estiverem próximos demais das quilonovas.
Para a pesquisa, a equipe de Perkins usou os dados do evento GW 170817, que gerou a explosão de raios gama GRB 170817A. O estudo foi disponibilizado no arXiv.org e aguarda revisão de pares.