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Quatro anos depois, ESA faz nova descoberta sobre a missão Rosetta no cometa 67P

Por| 28 de Outubro de 2020 às 17h45

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Quatro anos depois, ESA faz nova descoberta sobre a missão Rosetta no cometa 67P
Quatro anos depois, ESA faz nova descoberta sobre a missão Rosetta no cometa 67P

Quatro anos após o encerramento da missão Rosetta, cuja nave de mesmo nome foi construída para fazer o mais detalhado estudo de um cometa até então, os cientistas da Agência Espacial Europeia (ESA) encontraram algumas peças que ainda faltavam. É que os pesquisadores ainda não sabiam exatamente em que parte do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko o módulo Philae colidiu antes do pouso histórico de 2014, mas o mistério finalmente chegou ao fim.

Uma retrospectiva da missão Rosetta

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A nave Rosetta foi lançada em 2004 e chegou ao cometa 67P em agosto de 2014, tornando-se a primeira sonda espacial na história a acompanhar a órbita de um cometa. Em 12 de novembro do mesmo ano, o módulo robótico Philae se separou da Rosetta e pousou no cometa, e se tornou o primeiro objeto feito pela humanidade a tocar a superfície de um cometa.

Equipado com dez instrumentos científicos, o Philae era responsável por fazer as medições e análises no local de pouso, chamado Agilkia. Ele realizou a descida até a superfície cometária durante sete horas e em alta velocidade, e conseguiu atingir o objetivo — mas não sem um pequeno imprevisto. É que quando o módulo pousou, uma falha fez com que os seus arpões projetados para fixá-lo ao solo falharam. Com isso, ele quicou na superfície do 67P antes de se estabilizar com sucesso, e o local do segundo pouso ainda era desconhecido — até agora.

Então, estudos foram conduzidos até agosto de 2015, quando o 67P chegou o mais perto possível do Sol, derretendo boa parte de sua estrutura congelada e dando mais uma oportunidade para fazer grandes descobertas através da sonda e do módulo robótico Philae. A missão foi encerrada em setembro de 2016, quando a sonda, já próxima de Júpiter, não poderia mais receber energia suficiente do Sol para continuar suas atividades. A Rosetta foi propositalmente colidida com o cometa, na região conhecida como Ma'at.

Onde o Philae quicou?

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Essa era a pergunta que os cientistas tentaram responder desde a constatação de que o módulo quicou antes de se estabilizar. Após anos de trabalho de detetive, os cientistas conseguiram determinar que o segundo pouso do módulo Philae no Cometa 67P, na verdade, quicou várias vezes, incluindo um local que lembra o formato de um crânio, deixando sua marca em um gelo de bilhões de anos. Isso revelou que o interior do cometa é “mais macio do que a espuma do cappuccino”, disse a ESA.

Laurence O’Rourke, pesquisador da ESA que liderou as buscas para encontrar o Philae enquanto ele permaneceu desaparecido, também queria localizar o segundo local de pouso. “O Philae nos deixou com um último mistério esperando para ser resolvido”, disse ele. “Foi importante encontrar o local porque os sensores do Philae indicaram que ele havia cavado na superfície, muito provavelmente expondo o gelo primitivo escondido embaixo, o que nos daria um acesso inestimável ao gelo de bilhões de anos”.

Anteriormente, acreditava-se que o módulo quicou apenas duas vezes. A primeira delas, no local Agilkia, que teria sido o “primeiro pouso”, enquanto o restante do trajeto ainda estava incerto. Agora, sabe-se que o aparelho não tocou o solo menos de quatro vezes. Felizmente, a equipe da investigação preparou um material explicativo e até mesmo uma tour para mostrar os lugares do cometa atingidos pelo Philae.

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Resumidamente, o Philae fez o primeiro contato com a superfície no Agilkia, e conseguiu fotografar a região antes de tocar o solo, a aproximadamente 40 metros da superfície. O Philae então levantou voo outra vez durante duas horas através de uma depressão chamada Hatmehit, no “topo” do pequeno lóbulo do cometa, colidindo com a borda de um penhasco. Isso colocou nosso módulo aventureiro em direção ao segundo local de toque, onde quicou na superfície várias vezes durante um período de dois minutos, antes de finalmente chegar ao local Abydos, a cerca de 30 m de distância.

Foi uma aventura e tanto, e a ESA forneceu alguns vídeos e gráficos que nos ajudam a entender esse passeio perigoso, que você confere a seguir.

Dança no segundo “touchdown”

Para facilitar, cada local onde ocorreram os quiques são chamados de “touchdown”. Assim, foram três touchdowns: o primeiro no Agilkia, o segundo no local até então misterioso, e o terceiro próximo ao Abydos, onde o Philae se estabilizou. Durante o segundo touchdown, mostrado no vídeo acima, o equipamento tocou o cometa várias vezes, e deixou sua marca em uma rocha, criando o olho de uma caveira.

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Esse estudo foi possível porque os dados do magnetrônomo ROMAP, a bordo do Philae, foram correlacionados com os dados coletados ao mesmo tempo pelo magnetômetro RPC da Rosetta, que permanecia na órbita do cometa. Isso permitiu determinar a atitude do Philae e excluir qualquer influência do campo magnético de plasma em torno do cometa. “Não fomos capazes de fazer todas as medições que planejamos em 2014 com o Philae, então é realmente incrível usar o magnetômetro e combinar dados da Rosetta e do Philae de uma forma que nunca foi planejada, para nos dar esses resultados maravilhosos”, disse Philip Heinisch, que liderou a análise dos dados ROMAP.

Foi com a reanálise dos dados de pouso que a equipe descobriu que o Philae havia passado quase dois minutos inteiros no local do segundo touchdown, fazendo pelo menos quatro contatos na superfície enquanto o atravessava. E foi assim que eles descobriram nas imagens que o módulo afundou 25 cm no gelo na lateral de uma fenda. Os picos nos dados do campo magnético causados pelo movimento do módulo mostraram que o Philae levou três segundos para fazer essa marca no gelo.

Curiosamente, o formato das rochas atingidas durante o segundo touchdown pareceu um cranio, ao menos na visão de Laurence. “Me lembrou de um crânio quando visto de cima, então decidi apelidar a região de crista do topo do crânio’”, disse ele, explicando que o olho direito do crânio “foi feito pela superfície superior do Philae comprimindo a poeira”.

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Embora o gelo estivesse quase todo na sombra no momento do pouso, o Sol iluminava diretamente a área quando as imagens foram tiradas meses depois pela Rosetta, que confirmou a presença do gelo de água que cobria uma região de 3,5 m. Esse gelo ficou mais brilhante do que o resto do ambiente porque antes não havia sido exposto ao ambiente espacial, ou seja, estava sob a superfície, escondido por bilhões de anos, sem interação com a radiação cósmica. “Era uma luz brilhando na escuridão”, disse Laurence.

Com isso, os cientistas não somente encontraram o misterioso local do segundo touchdown, como também descobriram detalhes importantes sobre o gelo da região da caveira. É que a investigação forneceu a primeira medição observacional do interior da poeira gelada de uma rocha em um cometa. “A simples ação do Philae pisando na lateral da fenda nos permitiu descobrir que esta mistura de poeira gelada antiga, com bilhões de anos, é extraordinariamente macia — mais fofa do que a espuma em um cappuccino”, explica Laurence.

Além disso, os pesquisadores puderam estimar a porosidade da rocha, que é cerca de 75% de espaço vazio, como se fosse uma espuma. Isso está de acordo com o valor teórico medido anteriormente para todos os cometas. Por fim, o estudo mostrou que o cometa é homogêneo em qualquer parte de seu interior. “Este é um resultado fantástico de múltiplos instrumentos que não só preenche as lacunas na história da jornada saltitante do Philae, mas também nos informa sobre a natureza do cometa”, disse Matt Taylor, cientista do projeto Rosetta.

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Essas informações serão de grande importância para futuras missões de pouso em cometas, de acordo com Taylor. “O fato de o cometa ter um interior tão fofo é uma informação realmente valiosa em termos de como projetar os mecanismos de pouso e também para os processos mecânicos que podem ser necessários para recuperar as amostras”, explicou. O estudo com os resultados dessa investigação em busca do segundo touchdown foi publicado na revista Nature.

Fonte: ESA