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Planetas com "inclinação modesta" teriam mais chances de abrigar vida complexa

Por| Editado por Patricia Gnipper | 09 de Julho de 2021 às 16h40

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NASA/JPL-Caltech
NASA/JPL-Caltech

Desde que o primeiro planeta foi descoberto fora do Sistema Solar, em 1992, cientistas buscam por exoplanetas que possam abrigar a vida como a conhecemos, mas, até o momento, só a encontramos aqui na Terra mesmo. Isso porque, ao que tudo indica, a vida é o resultado de muitos fatores combinados, entre eles a inclinação do eixo (ou inclinação axial) de um mundo — o que, segundo um novo estudo, poderia ser a chave para o surgimento de formas de vida complexas.

O planeta Terra possui uma modesta inclinação axial, de aproximadamente 23º, e, de acordo com o artigo apresentado na Goldschmidt Geochemistry Conference deste ano, isso teria ajudado a aumentar a produção de oxigênio — um dos elementos fundamentais para a vida conhecida. Dessa maneira, planetas que possuem grandes ou pequenas inclinações em seus eixos poderiam não ser capazes de produzir oxigênio em quantidade suficiente para abrigar a vida complexa.

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A cientista planetária Stephanie Olson, da Purdue University, explica que mundos que são modestamente inclinados em seus eixos, como a Terra é, podem ter mais chances de desenvolver formas de vida complexa. "Isso nos ajuda a estreitar a busca por vida complexa, talvez até inteligente, no universo", acrescenta Olson. Claro que esta característica não impede que a vida surja em planetas muito diferentes do nosso; no entanto, se a vida só é encontrada aqui — pelo menos até agora —, nada mais justo do que usar os parâmetros terrestres para procurá-las em outros mundos.

Quando astrônomos procuram por planetas candidatos a abrigar vida, o mundo precisa de outras características além da inclinação modesta de seu eixo, como ser relativamente pequeno e rochoso (tamanho parecido com o da Terra) e orbitar sua estrela na chamada zona habitável, onde a água poderia ser encontrada em seu estado líquido. Outra propriedade é o campo magnético do planeta, pois é ele quem protege a atmosfera dos fortes ventos solares.

Em nosso planeta, a maior parte dos sere vivos depende do oxigênio, mas, na Terra primitiva, havia pouco deste elemento em sua atmosfera. Este cenário mudou cerca de 2,4 bilhões de anos atrás, quando uma explosão de cianobactérias foi desencadeada, liberando grandes quantidades de oxigênio como produto final de seus metabolismos — o que permitiu, então, o surgimento da vida multicelular (e complexa). Portanto, através de modelos, Olson e sua equipe se concentraram em entender como surgiram as condições que permitiram que as cianobactérias prosperassem.

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Através de um modelo, explica Olson, é possível configurar características de um planeta como a duração do dia, o tamanho da atmosfera e a distribuição de superfície terrestre, além dos ambientes marinhos e a vida que produz oxigênio neles. Em sua modelação, a cientista planetária observou vários fatores que poderiam ter influenciado o transporte de nutrientes nos oceanos, de modo a criar um ambiente favorável para as cianobactérias.

Com o passar dos milhares de anos, a velocidade de rotação da Terra diminuiu e os dias se tornaram maiores, bem como os continentes se espalharam — e tudo isso teria ajudado a aumentar a quantidade de oxigênio. Em seguida, os pesquisadores consideraram a inclinação axial da Terra, responsável pela formação das estações do ano, e essas mudanças sazonais também influenciaram os oceanos. "A maior inclinação aumentou a produção de oxigênio fotossintético no oceano em nosso modelo, em parte aumentando a eficiência com a qual os ingredientes biológicos são reciclados", ressalta a cientista planetária Megan Barnett, da Universidade de Chicago.

Planetas com grandes inclinações, como Urano, com 98º, resultariam em sazonalidades muito extremas para a vida, enquanto uma inclinação muito pequena não produziria as estações de maneira suficiente. "Este trabalho revela como fatores chaves, incluindo a sazonalidade de um planeta, podem aumentar ou diminuir a possibilidade de encontrar oxigênio derivado de vida fora do nosso Sistema Solar", diz o bioquímico Timothy Lyons, da University of California, Riverside.

A expectativa da equipe é que estes resultados contribuam para as próximas buscas de planetas potencialmente habitáveis. A pesquisa foi apresentada durante a Goldschmidt Geochemistry Conference 2021.

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Fonte: ScienceAlert