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O universo é realmente escuro? Sonda que viaja além de Plutão ajuda a responder

Por| 21 de Novembro de 2020 às 19h00

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NASA/JHUAPL/SwRI/Carlos Hernandez
NASA/JHUAPL/SwRI/Carlos Hernandez

O espaço do céu noturno entre as estrelas é bem escuro. Faz sentido pensar que toda a luz vem de estrelas e galáxias, e que sem esses objetos brilhantes o universo seria completamente negro. Mas será mesmo? Será que se removermos todas as coisas conhecidas por emitir luz visível, o próprio cosmos emitiria algum brilho? Ou tudo ficaria imerso no mais completo e absoluto breu?

Por mais estranha que pareça, a pergunta é de fato uma dúvida dos astrônomos, que tentam respondê-la há décadas. Agora, um grupo de pesquisadores publicou um novo estudo, usando uma sonda da NASA que está viajando rumo aos limites do Sistema Solar, bem longe do Sol, para encontrar uma resposta. O artigo foi aprovado para publicação no The Astrophysical Journal.

A pequena nave New Horizons foi a primeira a estudar Plutão de perto, mas, depois de passar por lá em 2015, acabou indo além. Ela atualmente se encontra a quase 50 vezes a distância entre o Sol e a Terra. Ou seja, bem longe dos raios solares, que atrapalhariam a detecção de qualquer pequena luminosidade que houver por lá.

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Então, a equipe analisou uma série de fotos capturadas pela sonda. Provavelmente um trabalho bem chato, pois não havia nada além de algumas estrelas muito distantes e uma vasta escuridão. Bem, isso não era o suficiente. Os pesquisadores queriam fotos de uma área sem a interferência de nenhuma estrela ou objeto que emite luz. Se o próprio universo emitir um brilho muito fraco, esse brilho seria facilmente ofuscado por qualquer fonte mais luminosa a anos-luz de distância.

Mas não havia imagens assim, então eles processaram as fotos existentes para remover todas as fontes de luz visível — ou seja, todas as estrelas. Depois que eles subtraíram essas estelas, removeram também a luz que a própria Via Láctea espalha por toda a parte. Em seguida, eliminaram a luz que poderia vir de galáxias próximas, mesmo que elas não aparecessem nas fotos — afinal, uma galáxia é uma fonte de incrível luminosidade.

Surpreendentemente, ainda havia luz naquelas imagens escuras. Mas o que isso significa? Como interpretar essa informação? Estas são novas perguntas muito difíceis de responder, por enquanto. A quantidade de luz vinda de fontes desconhecidas era quase igual a toda a luz que vinha das galáxias conhecidas, de acordo com Marc Postman, astrônomo do Space Telescope Science Institute. Será que o universo, ou algum tipo de matéria estranha, estaria emitindo brilho?

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Para Postman, é mais provável que existam galáxias não identificadas, cuja luminosidade atingiu as lentes da New Horizons. “Ou alguma outra fonte de luz que ainda não sabemos o que é”, disse ele. Pensar assim faz sentido, do ponto de vista científico. Será necessário eliminar todas as explicações mais plausíveis para restringir as possibilidades antes de dizer que o universo, em si, emite alguma luz.

Essa não é a primeira vez que a New Horizons é usada para esse mesmo tipo de pesquisa. Há alguns anos, Michael Zemcov, astrofísico do Rochester Institute of Technology, reuniu uma equipe para usar algumas imagens da sonda da NASA e fazer uma medição — um pouco menos precisa do que a nova pesquisa, é verdade, mas ainda assim os resultados foram parecidos. Entretanto, Zemcov não parece nada convencido de que o cosmos emite alguma luz por si só. Ele está mais propenso a admitir que a comunidade astronômica perdeu algum detalhe. Cerca de metade da luz visível daquela região vem de uma fonte desconhecida. Poderia ser uma galáxia, ou um grupo galáctico, não muito longe da Via Láctea, ainda aguardando para ser descoberto.

Pelo menos, talvez haja uma boa desculpa para que os astrônomos não tenham visto essas fontes luminosas em todos esses anos de observação detalhada do céu. Pode ser que se trate de galáxias anãs, muito pequenas e fracas, de modo que os demais vizinhos galácticos da Via Láctea as tenham ofuscado. Isso poderia explicar como nossos telescópios não podem detectá-las.

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Mesmo que ainda não possamos responder se o universo emite algum brilho, o estudo mostra que é muito difícil nos livrarmos da luz, seja onde estivermos. Por mais que viajemos o mais longe possível de qualquer estrela, ainda haverá alguma luz chegando até nós. Ainda assim, depois dessa análise, ao descobrir uma luminosidade por ora inexplicável, “o espaço é escuro", Lauer conclui. "Ainda é muito escuro”.

Fonte: NPR