Novo estudo indica breve período de clima quente e úmido no passado de Marte
Por Wyllian Torres | Editado por Claudio Yuge | 09 de Março de 2021 às 22h00
Compreender a dinâmica do clima marciano em seu passado distante ainda é um dos principais desafios entre os cientistas. Apesar disso, os avanços na exploração do nosso planeta vizinho ao longo das últimas décadas nos permitiu descobrir a presença de água líquida em um passado muito remoto, como as marcas de rios e lagos na superfície de Marte já indicavam. Em novo estudo publicado na revista Nature Geoscience na segunda-feira, (8), cientistas sugerem uma superfície permanentemente congelada e, em alguns intervalos, quente e úmida.
- Vales de Marte podem ter sido formados por mantos de gelo, e não por rios
- Água restante em Marte pode desaparecer mais rapidamente do que se imagina
- Água de Marte está escapando ao espaço — e a culpa é das tempestades de poeira
Apesar de, atualmente, Marte possuir uma superfície seca e gelada, sabemos do fluxo de água em seu passado. A grande questão é saber se o planeta sempre esteve quente e úmido, esfriando posteriormente, ou se sempre esteve congelado com alguns períodos de grande atividade vulcânica que proporcionaram o fluxo de água líquida. Ao que tudo indica, a última alternativa é a mais adequada, pois apenas eventos dramáticos seriam capazes de aquecer o “coração frio” de Marte.
O geocientista e co-autor do artigo, Joel Hurowitz, da Stony Brook University, em Nova York, diz: “Marte foi aquecido intermitentemente quando sua composição atmosférica foi alterada pela entrada de gases derivados do vulcanismo e grandes impactos de meteoritos”. Tais períodos de aquecimento permitiram que a água fluísse pela superfície do planeta e se formassem rios, lagos e rochas minerais que são associadas à presença de água em Marte.
O estudo também apresenta um novo modelo climático desse passado marciano. Liderado por Robin Wordsworth, da Universidade Harvard, considerando diversos fatores, como os efeitos de erupções vulcânicas, responsáveis por lançar gases de efeito estufa na atmosfera, e também o hidrogênio escapando para o espaço — a vazão de hidrogênio, intensificada pelos ventos solares, teria aumentado dramaticamente depois que Marte perdeu seu campo magnético. A atmosfera do planeta, por volta de 3,7 bilhões de anos atrás, atingiu a marca de apenas 1% da atual densidade do ar terrestre.
Esses resultados indicam que, mesmo nos breves períodos em que Marte esteve úmido, ainda assim tinha uma temperatura de cerca de 33 °C. Mas isso pode significar uma nova maneira de pensar no surgimento da vida nessas determinadas circunstâncias. “A história dinâmica dos ambientes marcianos proposta aqui sugere oportunidades para o surgimento de vida durante intervalos quentes e úmidos, quando as condições redutoras teriam favorecido a química prebiótica, mas também desafios para a persistência da vida simples”, afirma Wordsworth.
Outro ponto interessante do modelo é que ele aponta um longo período Marte com sua atmosfera rica em oxigênio, mas numa fase intermediária de sua história, sem que a vida pudesse ter prosperado. O oxigênio é comumente adotado como uma bioassinatura, ou seja, uma marca da presença de vida e, por isso, o grupo de cientistas alerta sobre a possibilidade de falsos positivos em relação à detecção de O2 em circunstâncias específicas, como é o caso da simulação.
O artigo com mais detalhes sobre o clima do passado bem distante de Marte pode ser acessado na Nature Geoscience.
Fonte: Space.com