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Nada de "megaestrutura alienígena"! Estrela de Tabby seria um sistema binário

Por| 20 de Janeiro de 2021 às 17h30

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Capnhack/Domínio Público
Capnhack/Domínio Público

A estrela KIC 8462852, ou Estrela de Tabby, é um dos mistérios que os astrônomos tentam desvendar há alguns anos, mas sem muito sucesso. Muito se especulou sobre seu estranho decaimento de brilho em tempos irregulares, mas ainda não há uma conclusão sobre o caso. Contudo, um novo estudo fornece uma pista bem interessante: há uma segunda estrela ao lado desta, ou seja, trata-se de um sistema binário.

O mistério da Estrela de Tabby

Tudo começou em 2015, quando o objeto foi revelado e academicamente “dissecado” pela astrônoma estadunidense Tabetha Boyajian (daí o apelido da estrela), através do artigo Where's The Flux?. Era uma estrela aparentemente comum da classe F da sequência principal, localizada na constelação Cisne, a aproximadamente 1.480 anos-luz da Terra. Até aí tudo bem. Só que a Estrela de Tabby apresentava uma queda de brilho muito incomum, e ninguém soube explicar o que estava acontecendo naquele canto do universo.

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Nenhuma estrela conhecida se comportava daquela forma. Não poderia ser um planeta orbitando a estrela — se fosse, todos os comprimentos de onda da luz seriam bloqueados igualmente pela passagem do planeta na frente da estrela, mas não é isso o que acontece. Pelo contrário, os comprimentos de onda decaem de modo desigual quando o brilho da KIC 8462852 diminui. Além disso, o decaimento de brilho observado foi rápido demais para as escalas astronômicas.

Três meses após o trabalho de Boyajian, um pesquisador chamado Jason Wright publicou um estudo sobre a possibilidade de haver uma "megaestrutura alienígena" ao redor da estrela. Na época, o assunto se tornou popular o suficiente para que a hipótese de aliens ganhasse adeptos na internet, mas o próprio Wright admite que essa ideia só deve ser levada a sério em último caso. A KIC 8462852 passou a ser considerada por muitos como a estrela mais estranhamente misteriosa.

Pois bem, mais de cinco anos se passarem e ainda não há uma resposta conclusiva sobre o assunto. Mas um novo estudo trouxe boas evidências de que não se trata de nada artificial. Na verdade, há muitas possíveis explicações de eventos naturais que poderiam causar esse comportamento na estrela — como nuvens irregulares de poeira, um disco protoplanetário, ou mesmo protoplanetas em formação —, mas nenhuma delas pode ser comprovada. O novo artigo, aceito para publicação no The Astrophysical Journal, mostra que existe uma segunda estrela ali perto.

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O segundo “Sol”

Desde 2016, a equipe liderada por Logan Pearce, da Universidade do Arizona, tenta confirmar a existência dessa segunda estrela, que exerceria uma influência gravitacional sobre a Estrela de Tabby. Como às vezes é muito difícil comprovar que duas estrelas são, de fato, um sistema binário, levou cinco anos para a conclusão dessa pesquisa. Mas valeu a pena, porque eles podem agora mostrar que se trata de uma dupla estelar de movimento comum, gravitacionalmente ligadas.

As duas “irmãs” são separadas por uma distância de 880 unidades astronômicas (uma unidade astronômica corresponde à distância entre a Terra e o Sol). A KIC 8462852 é a maior, com cerca de 1,36 massa solar e 1,5 vez o tamanho do Sol. A companheira, chamada KIC 8462852 B, é uma anã vermelha com cerca de 0,44 vez massa solar e 0,45 vez o tamanho do Sol. Os pesquisadores afirmam que há chances de que a estrela menor pode desempenhar um papel nas oscilações misteriosas de sua irmã maior. “A companheira binária pode influenciar a evolução do sistema a longo prazo", diz o artigo.

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Existem estudos sobre sistemas binários como este, descrevendo suas possíveis órbitas — estrelas binárias orbitam entre si — e a ação das forças gravitacionais a longo prazo, ou seja, é possível prever os movimentos delas ao longe de, digamos, 10 bilhões de anos. No caso do sistema de Tabby, esses movimentos poderiam resultar na interrupção da formação de planetas e outros pequenos corpos orbitais ao redor dessas estrelas. Se um planeta começar a se formar ali, por exemplo, ele seria esticado e dilacerado pelas interações gravitacionais.

É aí que entram as hipóteses anteriores sobre a causa da perda rápida de brilho. Se os protoplanetas são dilacerados ao redor da estrela maior, o resultando seria nuvens de detritos maiores que as partículas de poeira. Pode ser que essas partículas, espalhadas de modo aleatório, porém bem próximas umas das outras — pois eram parte de um mesmo planeta em formação — sejam as responsáveis pela eventual diminuição do brilho da Estrela de Tabby.

Essa explicação ainda não foi confirmada e será preciso muita observação deste sistema binário para saber com exatidão o que está havendo por lá. Mas a confirmação de que existe uma segunda estrela é uma pista muito animadora que pode levar os astrônomos a, finalmente, desvendar o mistério de uma vez por todas.

Fonte: Science Alert