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Júpiter pode ser o grande culpado por Vênus ser um planeta "infernal"

Por| 28 de Setembro de 2020 às 13h00

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NASA
NASA

Vênus está longe de ser um planeta confortável e hospitaleiro como o nosso devido à pressão atmosférica esmagadora e temperaturas extremamente elevadas que possui em sua superfície. Entretanto, um novo estudo sugere que o planeta podia até contar com água líquida em sua superfície há 1 bilhão de anos, e toda essa água pode ter desaparecido, na verdade, por culpa de Júpiter e os efeitos causados por sua gravidade, que teriam ocasionado um efeito estufa intenso.

O início do Sistema Solar era caótico, e astrônomos suspeitam que, naquela época, os planetas gigantes não se formaram nas órbitas que têm hoje. Para completar, também não sabemos bem como eles migraram: existem modelos que apontam que Júpiter foi se aproximando pouco a pouco ao longo de centenas de anos, sendo seguido por Saturno e os outros planetas. Já outros modelos mostram que Júpiter pode ter ido quase até a órbita de Marte antes de voltar para a sua posição atual.

De qualquer forma, é certo que o movimento de Júpiter causou influência nos planetas mais internos: o gigante gasoso alcança a marca de ser 2,5 vezes mais massivo do que todos os outros planetas juntos, de modo que qualquer mudança mínima em sua órbita pode empurrar ou até atrair outros corpos no Sistema Solar. Então, considere que, apesar de Vênus ter atualmente uma das órbitas mais perfeitamente circulares do Sistema Solar, Júpiter poderia muito bem ter tornado esta órbita elíptica ao se mover em direção ao Sol.

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Entretanto, não é isto que vemos hoje na órbita de Vênus. Para os autores do artigo, a resposta para o mistério da mudança de órbita poderia estar nas marés venusianas. Se o planeta teve grandes oceanos líquidos, os mares podem ter causado fricção o suficiente para estabilizar a órbita do planeta em um círculo. Depois, a transformação da órbita circular em elíptica causada por Júpiter pode ter tornado Vênus um planeta infernal: se o planeta tivesse esta órbita elíptica logo no início do Sistema Solar, é possível que tenha alternado entre períodos longe do Sol e outros perto demais.

Assim, os pesquisadores apontam que, quanto mais tempo passou próximo ao Sol, mais sofreu os efeitos da radiação solar. Então, conforme perdeu seus oceanos, o vapor d’água na atmosfera manteve o calor retido. Com o calor, mais água evaporou e este ciclo gerou um efeito estufa vicioso. Sem líquidos, as placas tectônicas não se moveram e permitiram que o dióxido de carbono excessivo vazasse para a atmosfera, e este processo pode ter sido acelerado por Júpiter.

Entretanto, este cenário deixa alguns questionamentos: se havia tanta água em Vênus, para onde o oxigênio foi quando se separou das moléculas de água? Stephen Kane, um dos pesquisadores que produziu o estudo, faz parte de uma equipe que quer responder esta pergunta com o envio de um lander a Vênus para verificar se existem óxidos na superfície, que poderiam estar ligados aos radicais de oxigênio.

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Talvez o gigante gasoso seja, de fato, o grande culpado por nosso vizinho não ter uma superfície habitável. Por isso, os autores concluem que é preciso verificar se há qualquer planeta gigante em outros sistemas planetários onde os astrônomos buscam a possibilidade de vida, porque eles podem ter agido como Júpiter e ter anulado qualquer possibilidade da vida existir por lá.

O artigo do estudo foi publicado em formato pré-print no arquivo arXiv.

Fonte: Space.com, Universe Today