Estrelas podem nascer 10 vezes mais rápido do que os astrônomos imaginavam
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |
O nascimento de estrelas em nuvens densas de poeira e gás pode ser muito mais rápido do que os astrônomos imaginavam, de acordo com um novo estudo publicado na revista Nature. Se confirmada, a descoberta pode revolucionar a teoria padrão sobre a formação estelar.
Astrônomos chineses usaram o Five hundred meter Aperture Spherical Telescope (FAST), o maior radiotelescópio do mundo, para sondar o campo magnético dentro de uma nuvem molecular chamada Lynds 1544, que fica a cerca de 450 anos-luz de distância da Terra.
Essa nuvem molecular já era conhecida pela comunidade científica por estar prestes a gerar uma estrela, por isso há grande interesse em estudar a região. Seu campo magnético já foi medido na parte mais densa da nuvem, onde a proto-estrela está em formação, assim como as áreas mais finas da nuvem.
Agora, no entanto, as medições do FAST na região intermediária da nuvem revelou dados surpreendentes. Ali, o campo magnético é 13 vezes mais fraco do que os modelos teóricos predizem, de acordo com os autores do estudo.
Na teoria padrão, o campo magnético deve ser forte o suficiente para conter a matéria em colapso, resultando em um retardamento no início do processo de fusão nuclear no interior da “bola” de gás e poeira. Mas não foi isso o que os astrônomos encontraram. Em vez disso, a gravidade parece ser muito mais prevalente.
Em outras palavras, se o campo magnético é realmente tão fraco quando as novas medidas indicam, o colapso da matéria será 10 vezes mais rápido do que o previsto. Di Li, cientista-chefe do FAST, explica que na teoria padrão “o campo magnético precisaria ser muito mais forte para resistir a um aumento de 100 vezes na densidade das nuvens; isso não aconteceu".
Região de formação de estrelas
Há dez anos, a formação Lynds 1544 entrou para a história da astronomia como a primeira região protoestelar onde os cientistas detectaram vapor de água. O elemento, essencial para a vida na Terra, está presente por lá em quantidade o suficiente para mais de 2 mil oceanos terrestres.
Ainda não parece haver sinal de uma estrela na região, mas há material o suficiente para formar uma estrela com, pelo menos, as proporções do nosso Sol. As novas medições sugerem que isso pode acontecer mais rápido do que se previa, mas essa conclusão ainda não é definitiva.
Os autores do estudo alertam que, antes de decretarmos que a teoria padrão está errada (ou, ao menos, imprecisa), as medições do campo magnético de outras nuvens formadoras de estrelas precisam fornecer resultados semelhantes. Se isso acontecer, pode ser uma verdadeira revolução nesta área da ciência.
O radiotelescópio FAST pode ser um dos instrumentos-chave para comprovar essa nova hipótese. Em janeiro de 2021, a China anunciou que disponibilizará o instrumento para a comunidade científica internacional, com inscrições abertas em abril daquele ano.