Estranho padrão de oxigênio recém-descoberto em Marte intriga cientistas
Por Daniele Cavalcante | •
O rover Curiosity, da NASA, descobriu um padrão de comportamento do oxigênio em Marte tão estranho que os pesquisadores ainda não são capazes de explicar através dos processos químicos conhecidos pela ciência.
Durante três anos em Marte (quase seis anos terrestres), o Curiosity analisou a composição do ar marciano. A NASA divulgou os resultados dessa análise: 95% em volume de dióxido de carbono (CO2), 2,6% de nitrogênio molecular (N2), 1,9% de argônio (Ar), 0,16% de oxigênio molecular (O2), e 0,06% de monóxido de carbono (CO). Além disso, as moléculas no ar no Planeta Vermelho se misturam e circulam de acordo com mudanças na pressão do ar no decorrer do ano.
Essas mudanças na pressão do ar acontecem de acordo com as estações marcianas. É que, durante o inverno, o CO2 congela nos polos, o que faz com que a pressão diminua em todo o planeta. Na primavera e no verão, o CO2 evapora, se mistura em todo o planeta, e a pressão do ar aumenta.
O mistério do oxigênio
Pela primeira vez, cientistas mediram as mudanças nos gases da atmosfera diretamente acima da Cratera Gale, e descobriram que o nitrogênio e o argônio seguem o padrão que já era esperado: as concentrações desses gases aumentam e diminuem naquela região ao longo do ano em relação à quantidade de CO2 existente no ar. Mas, ao contrário das expectativas dos pesquisadores, o mesmo não acontece com o oxigênio.
Estranhamente, a quantidade do oxigênio no ar aumentou em toda a primavera e no verão em até 30%, e depois voltou aos níveis previstos pela ciência no outono. E não foi um caso isolado - esse padrão se repetiu a cada primavera. “Na primeira vez que observamos o fenômeno, foi chocante”, diz Sushil Atreya, professor de ciências climáticas e espaciais e coautor de um artigo sobre o assunto publicado no Journal of Geophysical Research: Planets.
Sem encontrar uma explicação para esse comportamento estranho do oxigênio em Marte, os pesquisadores cogitaram que o instrumento de medições no rover estaria com defeito, mas não era este o caso. Outras hipóteses foram levantadas, mas nada que explicasse como esse oxigênio extra é produzido. “Estamos com dificuldades para encontrar uma explicação”, disse Melissa Trainer, cientista planetária da NASA que liderou a pesquisa. Ela acredita que esse “não é um problema que tem a ver com a dinâmica atmosférica. Tem que haver uma fonte química que ainda não conseguimos explicar”.
Curiosamente, algo semelhante acontece com o metano. Mesmo presente em quantidade pequena na Cratera Gale, o gás aumenta em cerca de 60% durante o verão e ninguém sabe explicar o porquê. Agora que descobertas semelhantes foram feitas em relação ao oxigênio, os cientistas querem saber os dois fenômenos são influenciados por uma mesma química misteriosa no planeta. “Estamos começando a ver essa correlação tentadora entre o metano e o oxigênio durante boa parte do ano em Marte”, diz Atreya. “Acho que há algo a mais nisso. Eu só não tenho as respostas ainda. Ninguém tem”.
Também não há sinais de que o oxigênio seja produzido biologicamente (a partir de microrganismos, por exemplo) ou abioticamente (a partir de produtos químicos relacionados à água e a rochas), e o Curiosity não tem instrumentos capazes de responder essa pergunta. Seja como for, a resposta pode estar no solo do planeta.
Um experimento realizado pelas sondas das missões Vikings mostrou, décadas atrás, que o calor e a umidade podem liberar oxigênio do solo marciano. Mas esse experimento ocorreu em condições bem diferentes do ambiente da primavera de Marte, e não explica a queda de oxigênio, entre outros problemas. “Acreditamos que deve haver algo no solo superficial que muda sazonalmente, porque não há átomos de oxigênio disponíveis na atmosfera suficientes para causar o comportamento que observamos”, disse Timothy McConnochie, cientista e coautor do artigo.
Em 2021, o rover Mars 2020 deverá chegar a Marte com equipamentos para procurar por bioassinaturas no solo marciano. Caso a produção de oxigênio seja de origem biológica, pode ser que descubramos isso em breve. Até lá, os cientistas tentarão encontrar outras possíveis resposta para este novo mistério.
Fonte: NASA