Este pode ser o 1º planeta descoberto em outra galáxia, a 23 milhões de anos-luz
Por Daniele Cavalcante | 24 de Setembro de 2020 às 18h31
Astrônomos encontraram um candidato a planeta localizado em outra galáxia, bem longe da Via Láctea, em uma região de intensa atividade caótica. Este mundo distante parece ser um pouco menor do que Saturno e orbita um sistema binário misterioso que emite uma enorme quantidade de energia. Se for confirmado, ele se tornará o primeiro planeta extragaláctico já descoberto.
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O time liderado por Rosanne Di Stefano, do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, encontrou este provável planeta na Galáxia do Rodamoinho, catalogada como M51, a cerca de 23 milhões de anos-luz da Terra. Do nosso ponto de vista, essa galáxia fica próximo da constelação de Ursa Maior, mas certamente ela está a milhões de anos-luz de distância das estrelas que compõem essa constelação.
Esse candidato a planeta foi batizado de M51-ULS-1b e está girando ao redor de um sistema binário (ou seja, dois objetos de massa estelar que orbitam entre si) a uma distância de mais ou menos dez vezes a distância entre a Terra e o Sol. O que torna esse sistema interessante é sua atividade e emissão de energia, sugerindo que um dos dois objetos estelares pode ser uma estrela de nêutrons ou até mesmo um buraco negro.
Caso seja um buraco negro, provavelmente ele está devorando sua estrela companheira a uma taxa enorme, pois está liberando tanta energia que o sistema se tornou uma das fontes luminosas mais brilhantes em toda a Galáxia do Rodamoinho. Só essa luminosidade de raios-X é cerca de um milhão de vezes mais brilhante do que toda a emissão do Sol em todos os comprimentos de onda (o raio-X é apenas um dos muitos comprimentos de onda do espectro eletromagnético, assim como a luz visível).
Esse brilho foi crucial para identificar um objeto tão distante. É que embora seja um brilho intenso, sua fonte é minúscula, o que permite um planeta do tamanho de Saturno eclipsá-la completamente passe diretamente na linha entre a Terra e a tal fonte misteriosa de raios-X. Esse método, chamado trânsito, é o mais utilizado para detectar exoplanetas (mundos que orbitam outra estrela que não o Sol).
Felizmente, no dia 20 de setembro de 2012, o Observatório de Raios-X Chandra estava observando o lugar certo, no momento certo, para detectar a fonte de raios-X. O brilho diminuiu até se apagar e então reapareceu. O trânsito do objeto que eclipsou a fonte durou cerca de 3 horas, indicando que um planeta poderia estar passando entre a estrela e a Terra.
Na época, ninguém estava observando esse tipo de dados do Chandra, mas agora que Di Stefano e seus colegas olharam esse conjunto de informações, perceberam que pode haver, de fato, um planeta ali. Entretanto, ainda é cedo para confirmar a descoberta, por isso o M51-ULS-1b ainda é apenas um candidato a exoplaneta extragaláctico.
O primeiro planeta extragaláctico
Encontrar mundos em outras galáxias ainda é um grande desafio. Aqui, em nossa vizinhança cósmica chamada Via Láctea, já foram confirmados mais de 4 mil exoplanetas, e os cientistas estimam que existam 40 bilhões de mundos ainda aguardando para serem detectados pelos nossos telescópios.
Entretanto, ainda é difícil distinguir objetos individualmente em outras galáxias, mesmo com nossos telescópios mais avançados. Por isso, a busca por planetas extragalácticos (não confundir com intergalácticos, que seriam mundos que não pertencem a nenhuma galáxia) acabou se tornando frustrante para os astrônomos.
Pesquisadores encontraram o primeiro candidato a planeta extragaláctico em 2010, quando uma equipe detectou o objeto HIP 13044 b através do telescópio MPG/ESO instalado no Observatório de La Silla do ESO, no Chile. Na época, a notícia causou bastante empolgação entre a comunidade científica, mas até hoje o objeto ainda não foi confirmado como um planeta de verdade. Inclusive, em 2014 um estudo foi publicado no periódico Astronomy & Astrophysics justamente concluindo que não havia evidências concretas para oficializar o HIP 13044 b como um planeta.
Agora, caso o M51-ULS-1b seja confirmado, ele entrará para a história como o primeiro planeta descoberto em uma galáxia que não seja a Via Láctea. Caso isso não aconteça, a busca certamente continuará. A equipe estudou apenas uma parte dos dados de raios-X do telescópio Chandra para encontrar este novo candidato, e há muito mais para analisar. “Os arquivos contêm dados suficientes para conduzir pesquisas comparáveis às nossas mais de dez vezes”, disseram os cientistas.
O novo estudo está disponível no arXiv.org, um repositório de artigos que aguardam a revisão por pares antes de serem aceitas para publicação em periódicos científicos.
Fonte: Astronomy.com