Explosão de raios gama que durou 15 minutos é a mais longa já vista
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |

Uma explosão de raios gama durou tanto tempo que deixou os astrônomos confusos. Esse tipo de evento é rápido como um flash, durando no máximo poucos minutos, mas o Fermi Gamma Ray Burst Monitor detectou algo que teve 15 minutos de duração. E mais: foram dois brilhos que parecem ter vindo da mesma fonte.
- Cada ponto nessa animação é uma fonte de raios gama no universo
- Início da refeição de buraco negro supermassivo é visto por acaso
Graças aos estudos das luzes residuais das rajadas de raios (GRBs, na sigla em inglês) gama no universo, os cientistas hoje sabem que as causas desses fenômeno podem ser a morte de estrelas extremamente massivas, quando colapsam para formar buracos negros.
Em outros casos, as GRBs são frutos da colisão entre duas estrelas de nêutrons, que também acabam formando um buraco negro — sim, a formação desses objetos invisíveis parece ser a principal forma de se produzir GRBs.
Contudo, a causa das rajadas é, especificamente, o colapso gravitacional que ocorre momentos antes da explosão ou colisão massiva. Como tudo o que as estrelas estavam produzindo (incluindo os fótons portadores dos raios gama) cai dentro do buraco negro, os flashes não poderiam durar muito tempo.
Por isso os astrônomos estranharam quando o Fermi Gamma Ray Burst Monitor detectou não um, mas dois sinais vindos da mesma direção, durando 15 minutos. Mais estranho ainda é que as análises mostraram que as demais características deste evento (catalogado como 220627A) se parecem bastante com as de outros GRBs já detectados. Então, por que durou tanto tempo?
Ainda não há nenhuma explicação concreta, mas os cientistas têm uma hipótese: uma lente gravitacional distorceu a luz de um colapso de uma estrela em buraco negro, em algum lugar muito distante da nossa galáxia, agindo como uma espécie de amplificador da luz de raios gama.
Nesse caso, a emissão da GRB atravessou algum objeto massivo (como uma galáxia, por exemplo) em seu percurso rumo à Terra. O campo gravitacional de objetos massivos distorce o espaço-tempo e “força” os fótons a se separarem e viajarem em diferentes direções. Além disso, como o próprio nome diz, a lente gravitacional faz a emissão de luzes parecerem maior do que realmente são.
Quando as luzes de raios gama chegaram aos nossos instrumentos científicos, segundo a hipótese dos pesquisadores para explicar a GRB 220627A, elas foram não apenas ampliadas, como também multiplicadas. Isso ocorre o tempo todo com galáxias ou aglomerado de galáxias “lentificando” objetos muito mais distantes
Se os raios gama realmente foram lentificados, também apresentariam o estranho efeito de parecerem mais duradouros que o normal. Isso está de acordo com a física sobre lentes gravitacionais (previstas pela relatividade geral de Albert Einstein) e colocaria um fim ao mistério dos raios gama duplos de 15 minutos.
O artigo descrevendo a descoberta foi publicado no arXiv.org e ainda não foi revisado por pares.
Fonte: arXiv.org; via: Universe Today