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Como seria nosso planeta se ele fosse uma superterra?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 30 de Março de 2020 às 12h12

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ESA/Hubble/M. Kornmesser
ESA/Hubble/M. Kornmesser

O telescópio espacial Kepler, aposentado pela NASA em 2018, nos revelou sobre a existência de diversos exoplanetas apelidados de “superterra”. Ainda há muito debate sobre quais as características das superterras, mas há um consenso de que se tratam de planetas que têm, em média, de duas a dez vezes a massa da nossa Terra. Outra definição é de que uma superterra seria maior que uma Terra, porém menor que um "mininetuno" - categoria de exoplanetas gasosos menores que Netuno.

Essas descobertas do Kepler levantam uma grande curiosidade: como seria viver em um planeta tão maior que o nosso próprio mundo?

Há uma teoria que os planetas do Sistema Solar poderiam ter massas bem maiores e serem o que chamamos de superterras. Mickey Rosenthal, pesquisador que estuda formação de planetas na Universidade da Califórnia, diz que tem uma hipótese do motivo disto não ter ocorrido: é que o gigante Júpiter atuou como uma espécie de escudo, engolindo asteroides e cometas que poderiam ter contribuído para o aumento dos demais planetas do nosso sistema. Até mesmo pode ter engolido um planeta inteiro!

Há apenas como levantar hipóteses de como seria se vivêssemos numa Terra muito maior. Por exemplo, se morássemos num planeta com o dobro de massa e diâmetro, as coisas seriam bem menores porque a gravidade seria muito maior - mas não necessariamente o dobro. Assim, os prédios teriam que ser bem menores e mais robustos para suportar o peso, as montanhas não seriam tão altas, e até nós mesmos poderíamos ser mais baixinhos e provavelmente mais fortes, já que teríamos que fazer muito mais força pra nos movimentarmos.

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Outra coisa, talvez mais preocupante em uma Terra maior, é o perigo de colisões. Rory Barnes, teórico que estuda as possibilidades de habitação nos planetas na Universidade de Washington explica que uma gravidade maior significa que mais asteroides poderiam ser atraídos pelo planeta. Talvez filmes como Armageddon fossem muito mais que ficção nessa realidade.

Mas se pensarmos em uma Terra ainda maior, com 10 vezes a massa da Terra real, o cenário seria radicalmente diferente de qualquer coisa que vivemos atualmente. Uma massa tão grande resultaria em uma enorme energia gravitacional que acarretaria mudanças físicas. Começando pelo manto, que seria muito maior e teria muito mais energia sendo gerada. Isso poderia causar maiores erupções vulcânicas e deslocamento de placas tectônicas. Ou a pressão embaixo poderia fundir totalmente a camada exterior, e placas tectônicas simplesmente não existiriam.

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Em segundo lugar, temos o núcleo do nosso planeta, que é feito principalmente de ferro, mesclando estados sólidos e líquidos. Barnes aponta que, com tanta pressão exercida no núcleo devido à gravidade, o núcleo perderia as características líquidas e seria totalmente sólido. Sabe-se que, por ser parcialmente líquido, o núcleo é o que garante ao nosso planeta o que chamamos de campo magnético, e um núcleo totalmente sólido significaria que não teríamos esse campo.

Isso seria uma péssima notícia para os habitantes de tal mundo, porque o campo magnético é o que proteger o planeta de tempestades solares. Sem ele, enfrentaríamos grandes estragos, inclusive a quebra da sequência do DNA dos seres vivos, o que pode causar diversos problemas de saúde como anomalias e cânceres.

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Com essas hipóteses, não é possível saber se a Terra seria sequer habitável sob essas circunstâncias. E, de fato, algumas superterras encontradas existem em condições físicas muito diferentes da nossa Terra.

O telescópio Kepler localizou superterras geralmente muito próximas de suas respetivas estrelas. Também foi descoberto que estes planetas são praticamente compostos de água. Rodrigo Luger, do Centro de Astrofísica Computacional da Fundação Simon, afirma que isso seria um bom sinal, mas as pesquisas apontam que estes planetas provavelmente têm um núcleo composto de gelo. Isso é devido à alta pressão, que solidificou as grandes massas de água no interior, enquanto o exterior é líquido por causa das altas temperaturas da superfície.

Um núcleo de gelo implica em uma ausência de ciclo carbono, que é um dos principais alicerces da vida como conhecemos – além de seu papel na regulação da temperatura do planeta, somos seres feitos à base de carbono. Sem ele, nossos corpos simplesmente não existiriam. Também há a probabilidade de, segundo Luger, que as elevadas temperaturas também impedirem que a vida como conhecemos não fosse replicável.

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Por fim, Luger afirma que ainda há muitas dúvidas sobre a dinâmica do nosso próprio planeta, e de muitos outros que estão distantes de nós. Ainda não há como saber como seria se nossa Terra fosse muito maior, ou mais próxima do Sol, e os cientistas ainda têm muito mais dúvidas do que certezas sobre o assunto. Mas podemos nos considerar sortudos, pelo menos, por vivermos em um planeta que não é tão inóspito quanto se supõe que poderia ser.

Fonte: Live Science, NASA, Nature