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É possível existir vida em planetas no centro da Via Láctea?

Por| 11 de Junho de 2020 às 13h00

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Assim como a maioria das galáxias espirais do universo, a Via Láctea possui um bojo - uma região densa, localizada no centro galático, formada por um enorme grupo de estrelas, poeira e gás. Tudo ali é compactado de tal modo que se forma uma protuberância luminosa. Mas será que as estrelas do bojo podem ter planetas habitáveis em suas órbitas?

Essa é a pergunta que um novo estudo científico, liderado por Moiya McTier da Universidade de Columbia, quer responder. Estima-se que dentro dessa estrutura maciça, que abrange milhares de anos-luz, existam cerca de 10 bilhões de estrelas, sendo a maioria velhas gigantes vermelhas. Só que elas estão muito próximas umas das outras, o que pode ser um problema para formas de vida.

Essa densidade certamente faz com que as chances de uma aproximação perigosa aconteça - estrelas não ficam paradas no espaço, então elas podem se aproximar tanto que grandes catástrofes aconteceriam em qualquer planeta existente nessa região. De acordo com o novo estudo, a maioria das estrelas no bojo da Via Láctea experimentará dezenas de encontros como este ao longo de um bilhão de anos.

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Encontros no disco galáctico

Encontros entre estrelas são relativamente comuns em nossa galáxia, e ocorrem uma vez a cada 50.000 anos. Por exemplo, nosso próprio Sol já passou perto de outra estrela, o sistema binário conhecido como Estrela de Scholtz, há cerca de 70.000 anos. O encontro foi a cerca de 52.000 unidades astronômicas (UAs), quase um ano-luz de distância - muito longe da Terra - mas foi o suficiente para perturbar a Nuvem de Oort, localizada na fronteira do Sistema Solar.

Esses encontros, embora possam parecer distantes demais para causar algum mal à Terra, por exemplo, resultaram em um efeito dominó gravitacional. É que devido à força da gravidade da Estrela de Scholtz, cometas e asteroides acabaram sendo expulsos da Nuvem de Oort, alguns dos quais colidiram com a Terra e causaram eventos capazes de extinguir formas de vida.

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Esse é apenas um dos riscos que os cientistas devem considerar. Encontros estelares no disco galáctico podem acontecer a uma distância muito menor que o encontro experimentado pelo Sol - há chances de que aconteça uma aproximação de 20.000 UAs. Isso prejudicaria quaisquer sistemas planetários ao redor dessas estrelas, incluindo a possibilidade de que os mundos sejam arrancados de suas órbitas ou fiquem desestabilizados.

Os resultados de um encontro estelar dependem ainda de muitos outros fatores, tais como a massa das duas estrelas envolvidas, a rapidez com que estão se movendo e o ângulo de aproximação. “Mas, em geral, esses encontros próximos podem potencialmente arrancar planetas de suas estrelas hospedeiras ou desestabilizar suas órbitas, para que sejam lançados para fora do sistema muitos anos após a passagem”, disse McTier. Como consequência, o planeta se tornaria inabitável.

Encontros no bojo galáctico

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Quando o assunto é o bojo da galáxia, as coisas ficam ainda mais extremas. McTier e sua equipe simularam as órbitas de milhões de estrelas dessa região para calcular a taxa em que encontros acontecem por lá. “Descobrimos que 80% das estrelas do bojo devem ficar a menos de 1.000 UA de outra estrela a cada 1 bilhão de anos”, disse o pesquisador. Essa distância é muito mais perigosa do que qualquer aproximação no disco galáctico.

Para piorar ainda mais o cenário, metade das estrelas tem dezenas desses encontros ao mesmo tempo, de acordo com McTier. E se considerarmos uma taxa de encontros menor, há encontros dentro de apenas 100 UAs. Além disso, estrelas podem sofrer um colapso gravitacional e explodirem em uma supernova, o que resulta em sistemas estelares vizinhos - e seus planetas - atingidos pelas explosões de raios gama e pela liberação de elementos pesados e radioativos.

Embora os astrônomos já desconfiassem que o bojo não é um lugar muito propício à vida, o novo estudo pode ser muito útil na busca de mundos habitáveis, pois ele traz uma nova técnica para encontrar estrelas entre o núcleo e a parte externa dos braços espirais onde os encontros são mais raros e mais distantes.

Fonte: Phys.org