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É possível engravidar no espaço?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 10 de Outubro de 2022 às 22h00

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Daniel Reche/PIxabay
Daniel Reche/PIxabay

Se o próximo salto da espécie humana envolve habitar novos planetas, é preciso saber se humanos poderiam engravidar e gerar filhos saudáveis fora da Terra. Por enquanto, a resposta da ciência é um grande "talvez", já que existem inúmeras possibilidades nunca exploradas e, potencialmente, arriscadas. Hoje, uma gestação humana é inviável em ambientes de microgravidade, mas experimentos anteriores já foram bem-sucedidos com alguns peixes, por exemplo.

Avançar no campo de pesquisa sobre o engravidar no espaço é fundamental para que futuras colônias de humanos possam, um dia, existir em Marte ou em habitats espaciais. Caso contrário, a espécie estará eternamente presa a centros de nascimento, localizados em seu planeta de origem, a Terra. Hoje, não há previsão de quando ocorrerá esta primeira gestação espacial.

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Gravidade é o maior desafio para engravidar no espaço

Quando pensamos no espaço, logo associamos os riscos à radiação. No entanto, para a gestação espacial, o maior desafio parece ser a questão da microgravidade, já que a gravidade é fundamental para o desenvolvimento celular humano. É a gravidade que faz com que "as células certas se desenvolvam nos lugares certos, nos números certos e na orientação espacial certa" em um feto, explica uma dupla de pesquisadores em artigo para o site The Conversation.

Escrito pelos cientistas Joana Bridger e Emmanuel Carteris, da Brunel University London, no Reino Unido, o artigo defende que, hoje, é necessário investir em pesquisas com células-tronco para responder à pergunta sobre gravidez no espaço.

Precisamos de estudos com células-tronco

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"Crucialmente, experimentos com células-tronco embrionárias e modelos de como os embriões se desenvolvem em suas primeiras semanas no espaço nos ajudarão a determinar se é possível que os humanos produzam descendentes nas colônias extraplanetárias do futuro", afirmam os pesquisadores britânicos.

Teoricamente, durante o desenvolvimento do embrião, as células-tronco se desenvolvam mais para um lado do que para outro em uma complexa geometria e, segundo a dupla de cientistas, "evidências indicam que a gravidade desempenha um papel nessa assimetria [perfeita]". O impacto das possíveis alterações ainda não podem ser calculadas.

Riscos da microgravidade para o corpo humano

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Cientistas já sabem que viver longos períodos em um ambiente de microgravidade podem afetar o corpo humano de forma negativa. Por exemplo, a cabeça tende a inchar, os glóbulos oculares a achatar e até os ossos a enfraquecer. Recentemente, foi descoberto que o sistema nervoso central e o cérebro também são afetados por este cenário adverso. Como consequência, os fetos também estariam sujeitos a alterações que, hoje, não sabemos 100% quais são.

"A gravidade da Terra é parte do que ancora e exerce força física em nossos tecidos, nossas células e nosso conteúdo intracelular, ajudando a controlar movimentos específicos dentro das células", lembram os pesquisadores britânicos. "A divisão das células e o movimento de genes e cromossomos dentro delas, que é crucial para o desenvolvimento de um feto, também funciona a favor e contra a força da gravidade como a conhecemos na Terra", acrescentam sobre o esquema estabelecido que será mudado na microgravidade.

Além desses processos, a ciência não sabe como a fertilização, a produção de hormônios, a lactação e até o próprio nascimento serão afetados por este ambiente desafiador.

O que sabemos sobre a gravidez de animais no espaço?

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Se a gravidez humana é uma grande incógnita, alguns estudos e experimentos já foram realizados com outras espécies de animais, como anfíbios, peixes, répteis, pássaros e roedores. Parte dessas pesquisas foi reunida por cientistas do Research Institute Of Human Morphology, na Rússia, em artigo para a revista acadêmica Life.

Por mais que estudos do tipo existam, nem sempre todos os processos que permitem a gestação — sexo reprodutivo, gestação, nascimento e desenvolvimento — foram realizados em microgravidade. Existem casos em que apenas ovos fecundados foram levados, através de encubadoras, para o espaço.

Reprodução espacial de peixes

A capacidade de um peixe se reproduzir no espaço, por motivos ainda inexplicáveis, está associado com a sua espécie. Sabe-se que o lebiste (Lebistes reticulatus) para de fertilizar seus ovos em microgravidade, mas retorna imediatamente após um voo especial.

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Por outro lado, já foi possível acompanhar a reprodução bem-sucedida no espaço da espécie medaka (Oryzias latipes). "Esse estudo forneceu a primeira evidência de acasalamento, fertilização e eclosão de um vertebrado no espaço", afirmam os autores russos.

No seguinte vídeo, é possível conferir a caixa com os peixes chegando para o experimento da ISS, comandado pelo Tokyo Tech Research:

Rãs podem se desenvolver na microgravidade?

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"A fertilização e o desenvolvimento embrionário também podem ocorrer no ambiente espacial para os anfíbios. No entanto, várias anormalidades foram observadas em rãs e tritões", explicam os pesquisadores da Rússia.

Por mais de 11 dias, uma equipe acompanhou o desenvolvimento de girinos da espécie Xenopus laevis em um voo especial. Passado o período da viagem, todos nadavam e se alimentavam sozinhos. No entanto, "os girinos tinham corpos proporcionalmente menores e caudas mais longas que o grupo controle. A maioria dos animais apresentava lordose caudal e consequentemente nadava com cambalhotas para trás", acrescentam sobre o desenvolvimento alterado.

Caso envolvendo o tritão

Além das rãs, já se estudou como ovos de tritão (Pleurodeles waltl) se desenvolveriam em um voo especial. Neste caso, os resultados fugiram do esperado e 81% dos anfíbios nasceram com defeito no tubo neural e 40% apresentavam algum tipo de microcefalia. Apesar disso, o risco foi reduzido para 23% quando os tritões foram colocados em uma centrífuga, que proporcionava um ambiente com gravidade artificial

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Experimento com ovos de codorna

Ovos de codorna também foram incubados e eclodidos com sucesso no espaço. Isso mostrou ser possível, mas não viável para a saúde dos animais. Segundo os pesquisadores russos, "os embriões apresentavam anormalidades de desenvolvimento em seus olhos, cérebro e bico". Em especial, as anomalias oculares foram consideradas um indicador de condições gerais desfavoráveis ​​para o desenvolvimento embrionário naquele ambiente.

E os roedores?

Com mamíferos, as pesquisas tendem a ser mais complexas já que o tempo de gestação é maior e são desenvolvidos em um útero. Em uma pesquisa com roedores, parte do ciclo reprodutivo foi interrompida na microgravidade. Enquanto isso, outro estudo revelou que as alterações da gravidade provocam alterações neurológicas negativas nos animais.

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Gravidez não é permitida no espaço (ainda)

Vale lembrar que, hoje, as políticas das agências espaciais proíbem o sexo no espaço — e convenhamos que achar o melhor encaixe na microgravidade pode ser um desafio e tanto. A ideia é que seja evitada qualquer uma das possíveis situações de risco que envolvem uma gravidez.

Os pesquisadores russos lembram que a gravidez é um fator desqualificante para viagens espaciais devido às incertezas sobre os impactos da:

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  • Radiação e toxinas;
  • Doença descompressiva (DD);
  • Efeitos adversos da microgravidade no desenvolvimento embrionário;
  • Risco de acidentes da gravidez, como aborto e parto prematuro.

Diante desses problemas, "todas as tripulantes femininas são testadas quanto à gravidez durante os exames médicos antes do voo. Além disso, as astronautas usam contraceptivos orais contendo estrogênio e progesterona para suprimir seus ciclos menstruais", alegam os autores do estudo.

Gravidade artificial pode tornar viável a gestação no espaço?

A partir dos experimentos já realizados durante voos especiais ou na Estação Espacial Internacional (ISS), o consenso é de que seria muito arriscado engravidar no espaço e aguardar, num ambiente de microgravidade, a criança se desenvolver.

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No entanto, um caminho a ser estudado será o desenvolvimento de espaços que simulem as características da Terra, permitindo uma gestação mais próxima do que conhecemos. O foco deve ser a criação de áreas com gravidade artificial. Inclusive, esta já é a conclusão de um estudo que buscou maneiras de reverter o efeito negativo na microgravidade no cérebro, liderado por pesquisadores da Universities Space Research Association (Usra). Outros caminhos passam pela invenção de medicamentos e do uso da nanotecnologia para reduzir o impacto do cenário adverso.

Fonte: The Conversation e Life