Distância até um magnetar na Via Láctea é medida pela primeira vez
Por Danielle Cassita |
Em um novo estudo, uma equipe de astrônomos utilizou o observatório Very Long Baseline Array (VLBA) e conseguiu realizar as primeiras medidas geométricas da distância do magnetar XTE J1810-197, localizado na Via Láctea. Estes dados serão utilizados para determinar se, afinal, os magnetares realmente são as fontes das rajadas rápidas de rádio (FRBs).
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Os magnetares são um tipo de estrela de nêutron e têm campo magnético fortíssimo, que pode ser um trilhão de vezes mais forte do que o campo magnético da Terra. Além disso, eles também podem emitir raios X e gama, e é possível que sejam os responsáveis pelas FRBs. A equipe analisou o magnetar em períodos regulares durante 2019 e 2020. Assim, eles conseguiram observá-lo em lados opostos na órbita da Terra durante seu trajeto em torno do Sol e notaram que havia uma pequena mudança no efeito paralaxe, ou seja, a posição que o objeto aparenta ter em relação a outros no fundo, que estão mais distantes. Por meio da paralaxe, é possível calcular a distância direta do objeto.
Hao Ding, estudante da Universidade de Tecnologia, da Austrália, explica que esta é a primeira medida do paralaxe de um magnetar, e mostra que ele está entre os magnetares mais próximos conhecidos — a 1.800 anos-luz. “É um alvo importante para estudos futuros", diz. Acontece que o magnetar XTE J1810-197 foi o primeiro dos seis conhecidos que já sabemos que está emitindo pulsos de ondas de rádio. Ele ficou ativo de 2003 a 2008, e simplesmente encerrou suas atividades durante dez anos. Então, em dezembro de 2019, o magnetar voltou a emitir ondas de rádio.
Já as rajadas rápidas de rádio foram descobertas em 2007, e são emissões de energia altíssima que não duram mais que poucos milissegundos. Entretanto, a origem delas ainda é um mistério. “Ter uma distância precisa deste magnetar significa que podemos calcular a força dos pulsos de rádio vindos dele. Se ele emitir alguma coisa como uma FRB, vamos descobrir a força do pulso”, disse Adam Deller, membro da Universidade. Ele explica que as FRBs têm força variada, e agora querem saber se o pulso emitido pelos magnetares se aproxima ou passa da força das rajadas de rádio conhecidas.
Para responder essa questão, será preciso conseguir mais distância aos magnetares para que seja possível expandir a amostra e conseguir mais dados — e o VLBA será essencial para essa tarefa. Por fim, os pesquisadores também querem descobrir qual é o mecanismo que produz as explosões rápidas de rádio.
Os resultados do estudo foram publicados na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.