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Dados de radiotelescópio revelam "bolhas fantasmagóricas" de origem misteriosa

Por| 03 de Dezembro de 2020 às 11h00

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Reprodução/CSIRO
Reprodução/CSIRO

No ano passado, a astrônoma Anna Kapinska encontrou uma emissão de rádio de forma redonda e fantasmagórica, parecida com um anel de fumaça, em meio a dados do projeto Evolutionary Map of the Universe (EMU), feito com o novo telescópio Australian Square Kilometre Array Pathfinder (ASKAP). Depois, outra formação semelhante a essa foi identificada pelo astrônomo Emil Lenc. Agora, junto do astrofísico Ray Norris e outros cientistas, eles vêm buscando explicações para o que observaram.

A ideia do EMU é estudar partes do universo que nenhum outro telescópio jamais conseguiu alcançar — uma meta ambiciosa, mas possível graças à capacidade que o ASKAP tem de estudar grandes seções do céu com bastante profundidade, rapidamente e com sensibilidade mesmo a objetos de brilho fraco e difuso, como aqueles que foram observados e chamaram a atenção deles. Anteriormente, isso era feito apenas em pequenas áreas.

Assim, a equipe analisou o restante dos dados obtidos a olho nu e encontrou mais bolhas redondas misteriosas, que receberam o apelido de “círculos estranhos de rádio”, ou ORCS. No começo, eles pensavam que se tratava de um erro no software utilizado — só que observações posteriores em outros telescópios confirmaram que os objetos eram reais. Por enquanto, tudo ainda é incerto em relação à natureza destes objetos, já que os astrônomos não têm certeza quanto ao tamanho deles ou a que distância estão de nós.

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Por outro lado, algumas possibilidades já foram descartadas: não tem como se tratar de resquícios de supernovas porque eles estão muito longe das estrelas da Via Láctea, além de serem numerosos demais. Eles também poderiam ser anéis de emissões de rádio, que às vezes ocorrem em explosões de formação de estrelas no interior das galáxias, mas para isso seria necessária a observação do processo ocorrendo nas galáxias, o que não foi o caso. As emissões de rádio gigantescas saindo de buracos negros supermassivos também foram descartadas em função do formato circular dos ORCs, diferente das nuvens difusas das galáxias de rádio.

Finalmente, no artigo que produziram, os autores concluem que estudaram todas as possibilidades e que essas bolhas misteriosas não se parecem com nada que já conhecemos. Então, é preciso explorar algo que pode existir, mas que ainda não foi observado — como as ondas de choque causadas por explosões em galáxias distantes. Além disso, existe a chance de o objeto ser algo completamente diferente do esperado, já que existem cientistas que sugerem que ORCs são a “garganta” de buracos de minhoca.

Como os ORCs são difíceis de achar, o trabalho não será fácil, mas mesmo assim a equipe segue buscando novas ideias e na expectativa de, quem sabe, haver o momento em que uma inspiração súbita resolva o enigma. “A maior parte da pesquisa astronômica é direcionada a refinar o conhecimento do universo ou testar teorias, é bem raro recebermos o desafio de encontrar um novo tipo de objeto que ninguém nunca viu e tentar descobrir o que é”, diz Ray Norris, um dos autores do estudo. 

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O artigo com os resultados do estudo será publicado na revista Publications of the Astronomical Society of Australia.

Fonte: The Conversation