Cratera em Vênus sugere que planeta não teve placas tectônicas como a Terra
Por Danielle Cassita | •
Em algum momento entre 300 milhões e 1 bilhão de anos atrás, um grande objeto se chocou contra a superfície de Vênus e deixou uma cratera com mais de 200 km de diâmetro, que hoje é conhecida como cratera Mead. Ao modelar a formação da cratera, uma equipe de pesquisadores da Brown University investigou também a possibilidade de o planeta ter tido placas tectônicas como aquelas presentes em nosso planeta, e perceberam que dificilmente Vênus tinha placas se movendo pelo manto no período do impacto.
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A cratera Mead é considerada a maior bacia de impacto presente em Vênus. Essa cicatriz deixada pelo impacto é cercada por dois "anéis" que lembram fendas rochosas, sendo que, aparentemente, não mudaram ao longo do tempo. Ao utilizar modelos computacionais para recriar o impacto responsável pela cratera, os pesquisadores observaram que, para que essas formações ocorrerem onde estão hoje em relação à cratera central, seria necessário que a litosfera — ou seja, a camada rochosa mais externa do planeta — fosse mais espessa que a da Terra.
“Isso nos mostra que Vênus provavelmente tinha uma 'camada estagnada' no momento do impacto”, explica Evan Bjohnnes, graduando da universidade e principal autor do estudo. “Diferentemente da Terra, que tem placas em movimento, Vênus parece ter sido um planeta de uma só placa pelo menos até o período do impacto”, completa ele.
No caso do nosso planeta, a maior parte dos vulcões fica nos limites das placas tectônicas, e quase 90% das erupções ocorrem quando essas placas se movem umas sobre as outras, ou quando se separam. Contudo, esse é um aspecto bastante difícil de ser estudado em Vênus por causa da atmosfera densa que envolve o planeta. Assim, embora dados coletados por sondas orbitais tenham revelado formações geológicas que podem ser de placas tectônicas, é difícil ter certeza devido à atmosfera, que impede interpretações mais definitivas.
Em um estudo anterior, o professor Brandon Johnson publicou um artigo onde explicava que a posição final das formações venusianas está relacionada ao gradiente térmico da crosta, ou seja, a taxa com a qual a temperatura das rochas aumenta de acordo com a profundidade. Então, o estudo de Bjonnes adaptou a técnica de Johnson para Mead, e percebeu que, para os “anéis” estarem na posição atual, a crosta teria que ter um gradiente térmico relativamente baixo, o que sugere que a litosfera do planeta é bem espessa.
Com os cálculos, eles perceberam que o gradiente é bem baixo e a litosfera é mais espessa do que se espera em um planeta geologicamente ativo. Na prática, isso significa que Vênus não teria placas tectônicas na época estimada para o impacto causador da cratera. Para Alexander Evans, professor assistente e co-autor do estudo, as descobertas da cratera são consistentes com outras formações de Vênus: “penso que a descoberta destaca o lugar único que a Terra, e seu sistema de placas tectônicas globais, tem ao meio dos nossos vizinhos planetários”.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Nature Astronomy.
Fonte: Brown University, Universe Today