Atraso para lançar James Webb causará 1 ano sem observações de infravermelho
Por Patricia Gnipper |
O telescópio espacial Spitzer, da NASA, é um dos principais observatórios espaciais da agência (ao lado de pesos-pesado como Hubble e Chandra), e é especial por sua capacidade de "enxergar" a região do infravermelho no espectro eletromagnético. Isso significa que, por estar acima da atmosfera da Terra, o telescópio é capaz de investigar coisas como a atmosfera de exoplanetas em busca de sinais de habitabilidade e de vida por lá. Contudo, sua missão será encerrada em 2020, e o atraso no desenvolvimento do telescópio espacial James Webb causará um ano inteiro sem observações de infravermelho.
Apesar de o Spitzer não ter sido criado para observar exoplanetas — afinal, ele foi concebido na década de 1980 e, na época, ainda não havíamos descoberto nenhum planeta fora do Sistema Solar —, ele ajudou a inaugurar uma nova Era Dourada na astronomia e, mesmo hoje em dia com um hardware envelhecido, o aparelho continua produzindo contribuições vitais para a ciência. Ele ainda é o melhor telescópio que temos para investigar o espaço com a espectroscopia de infravermelho, o que serve para observar coisas como ondas gravitacionais e detectar estruturas espaciais que ficam escondidas atrás de densas nuvens de gás e poeira.
Em 2016, por exemplo, o Spitzer observou uma estrela chamada TRAPPIST-1 por nada menos do que 500 horas. Ao seu redor, o telescópio observou em infravermelho quatro exoplanetas do tamanho da Terra, além dos outros três anteriormente descobertos. Essa observação do Spitzer mostrou o quão longe ele superou as expectativas desde seu lançamento, que aconteceu em 2003.
A NASA anunciou recentemente que o Spitzer será aposentado no dia 30 de janeiro de 2020, encerrando sua missão sem precedentes que, inicialmente, estava programada para durar apenas dois anos e meio. Quem continuará observando o céu em infravermelho será o telescópio espacial James Webb, que teve seu lançamento adiado algumas vezes e está previsto para ser lançado apenas em março de 2021. Ou seja: entre janeiro de 2020 e março de 2021, a NASA não terá como continuar fazendo observações do espaço em infravermelho, a não ser que consiga manter o Spitzer funcionando até que o James Webb tenha suas operações iniciadas. O James Webb, por sinal, é 50 vezes maior do que o Spitzer e suas observações de infravermelho serão ainda mais profundas.
Contudo, é pouco provável que o Spitzer tenha sua missão estendida até que o James Webb possa substituí-lo. Entre os motivos para tal, temos o fato de que ele está lentamente se afastando da Terra em sua órbita, o que faz com que o Spitzer precise sintonizar em ângulos cada vez mais altos para conseguir enviar suas transmissões para cá, o que prejudica sua captação de energia solar — antes, ele era capaz de transmitir indefinidamente; hoje, é capaz de gerenciar energia para apenas duas horas e meia por dia até que suas baterias sejam drenadas. Além disso, "seu hardware está envelhecido e, em vez de chegarmos a um ponto em que não conseguiremos recuperá-lo, queremos terminar a missão com graça", conforme explicou Kartik Sheth, vice-responsável pelo programa na NASA.
De qualquer maneira, ainda que a vida útil do Spitzer esteja bastante próxima do fim, é fato que seus últimos meses serão repletos de ciência. Para os técnicos da NASA, o maior desafio neste momento é evitar qualquer anomalia que possa antecipar ainda mais a "morte" do instrumento, mas, tudo correndo bem nos próximos sete meses, o Spitzer ainda deverá coletar uma enorme quantidade de dados, dados esses que levarão décadas para serem analisados a fundo — e isso pode amenizar o impacto da lacuna de um ano até que o James Webb seja lançado.
Fonte: Scientific American