Após 14 anos, pesquisadores descobrem o que está formando uma "cauda" na Lua
Por Danielle Cassita | Editado por Claudio Yuge | 08 de Março de 2021 às 22h00
No fim da década de 1990, cientistas observaram que a Lua parecia ter uma formação semelhante à cauda de um cometa e um raio de partículas, mas ainda não estava claro o que estava por trás dessa "cauda", e menos ainda o que a deixava mais ou menos brilhante. Agora, após realizar observações por 14 anos, uma equipe de pesquisadores propõe que o fenômeno seja causado pelo impacto de meteoros.
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A Universidade de Boston tem câmeras espalhadas pelo mundo para registrar imagens de auroras, e ocasionalmente elas flagram meteoros queimando na atmosfera terrestre. Assim, durante a chuva de meteoros Leônidas ocorrida em 1998, uma equipe de cientistas trabalhando com a câmera do Texas esperava ver sódio na atmosfera terrestre, mas observaram algo inesperado: após o pico do fenômeno, eles notaram que uma mancha de sódio ficou no céu por três noites.
Essa mancha ficava na parte da Terra que estava voltada para a direção oposta à do Sol, e ficava mais brilhante conforme a Lua nova se aproximava e desapareceu subitamente. Depois de outros trabalhos, incluindo modelos que simulavam a possível origem da mancha, uma equipe de cientistas da universidade concluiu que o que foi observado era uma espécie de “cauda de cometa” feita de sódio, que se estendia por pelo menos 800 mil km da Lua.
Como a Lua não tem uma atmosfera para protegê-la, ela está sempre exposta aos impactos de meteoritos. Quando essas rochas atingem a superfície lunar, elas fazem com que átomos de sódio sejam levados para a órbita, onde colidem com os fótons vindos do Sol. Com isso, eles são afastados da direção da nossa estrela, e formam essa estrutura semelhante a uma cauda — que, aliás, é bem difusa, então não há risco de partículas nos atingirem por aqui.
Quando a Lua nova se move entre a Terra e o Sol, essa cauda cobre o lado terrestre voltado para o Sol. Depois, a gravidade da Terra atrai o fluxo de sódio e o deixa na forma de um fluxo invisível ao olho nu, que se dispersa pela atmosfera da Terra e é emitido para o espaço no lado oposto do planeta. "Será que isso tem aplicações práticas? Provavelmente não", disse Baumgardner, autor principal do estudo.
Embora as chuvas de meteoros anuais possam coincidir com uma mancha lunar mais brilhante, isso não é uma regra, talvez porque os impactos dos meteoros não tenham sempre a energia necessária para liberar o sódio. Por outro lado, os impactos esporádicos têm relação mais forte com o brilho da mancha, e isso pode acontecer porque eles são mais massivos e rápidos, de modo que consigam liberar o material para uma órbita mais alta.
James O'Donoghue, cientista da agência espacial japonesa JAXA, acredita que, se um asteroide do tamanho certo atingir a Lua com a força adequada, ele pode liberar tanto sódio que, talvez, a “cauda” pudesse ser até vista a olho nu: “se você pudesse observá-la, seria uma mancha difusa de luz, com o tamanho das estrelas do Cinturão de Orion”, explica Baumgardner.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Journal of Geophysical Research: Planets.
Fonte: The New York Times