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A Lua Cheia não influencia negativamente nosso comportamento; isso é puro mito

Por| 21 de Novembro de 2019 às 17h50

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Pixabay
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A Lua tem papel fundamental para manter o equilíbrio do nosso planeta. Se a Lua sumisse de repente, estaríamos "ferrados". E, além da influência cientificamente comprovada que o satélite natural tem sobre a Terra, a Lua também inspira uma série de mitos e crenças populares. Uma dessas crenças é a de que o comportamento geral das pessoas muda de maneira negativa na fase da Lua Cheia — e isso é algo em que muitos profissionais de saúde, inclusive, acreditam.

É capaz que você já tenha ouvido alguém falar que o número de atendimentos em pronto-socorros ou de internações em hospitais psiquiátricos aumenta quando a Lua está brilhando em sua totalidade no céu, mas há estudos que contradizem essa ideia. Uma pesquisa canadense de 1992, por exemplo, analisou ligações para a emergência policial ou centros de controle de envenenamento, buscando alguma relação com a fase da Lua. Não havia diferença no número de chamadas entre semanas de Lua Cheia e as outras. Outro estudo, também de 1992, não encontrou ligação entre as fases da Lua e o aumento nas tentativas de suicídio.

Mas o maior estudo relacionado ao tema vem de pesquisadores do Irã, que analisaram 55 mil atendimentos de fraturas e ferimentos durante 13 meses. O artigo foi publicado em 2004, e a conclusão foi a mesma dos outros dois estudos: não há aumento no número de casos para afirmar que a Lua Cheia deixa as pessoas menos cuidadosas ou mais agressivas.

Também ouvimos dizer que o número de crimes aumenta durante a Lua Cheia, e há estatísticas mostrando que essas incidências realmente são maiores nesta fase lunar. Mas, diferentemente do que prega a crendice popular, isso não tem nada a ver com questões místicas — é pura ciência.

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Está tudo ligado à luminosidade da Lua Cheia

Há, de fato, uma pequena mudança nas ocorrências criminais durante o período que a noite é mais clara, e isso acontece justamente por conta dessa luminosidade mais intensa — ou pelo menos essa é uma hipótese plausível, de acordo com o criminologista Wayne Petherick. Ele também pegou alguns estudos que relacionam o número de crimes noturnos com as fases da Lua, e, apesar de não haver necessariamente um aumento nos números de casos, uma análise mais minuciosa na relação de crimes internos e externos mostra que, realmente, há mais ocorrências na rua quando há Lua Cheia.

Há duas explicações possíveis. Uma delas é que o movimento na rua pode ser maior quando a noite é menos escura, com as pessoas ficando mais à vontade para caminhar pelas ruas à noite quando a Lua está brilhando mais intensamente — então, criminosos têm uma maior quantidade de alvos à sua frente. Outra é que a iluminação é boa o bastante para o ladrão enxergar melhor a vítima e analisar se vale a pena a abordagem, ao mesmo tempo em que tanta luz acaba deixando o bandido mais exposto. Logo, mais crimes acontecem em uma noite bem iluminada, e mais criminosos são pegos em flagrante pelo mesmo motivo.

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“Por que algumas pessoas ainda se apegam à crença de que a Lua ocasiona comportamento criminoso ou outro comportamento anti-social? A resposta provavelmente está na cognição humana e nossa tendência de focar naquilo que esperamos ou prevemos ser verdadeiro”, afirma Petherick.

Viés de confirmação

Essa tese é reforçada pelo professor de medicina Michael Vagg, que fez os levantamentos da relação — ou, no caso, da falta dela — entre a Lua Cheia e os casos de emergência hospitalar. Ambos mencionam o chamado "viés de confirmação", que nada mais é do que a tendência que temos de acreditar e prestar atenção a fatos que confirmam uma crença que já temos.

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Um estudo publicado na Scientific American explicou a origem dessa crença, que é antiga e ainda resultou na palavra “lunático”, porque, há alguns séculos o ser humano realmente acreditava que a Lua Cheia causava uma espécie de insanidade intermitente. E vai além: profissionais que trabalham na saúde são mais prováveis de acreditar nessa influência negativa do satélite natural sobre nosso comportamento.

Vagg acredita que é o estresse causado por essas profissões que influencia essas crenças. Quando há uma noite de Lua Cheia, é comum alguém que trabalha na emergência falar sobre essa suposta relação e, quando essas pessoas vão confirmar se realmente a noite muito movimentada no hospital está mais iluminada, elas reforçam a crença. Se a Lua está em outra fase, elas costumam esquecer o fato, pois sua crença pré-estabelecida não foi confirmada.

O mesmo vale para policiais, que podem ter várias noites seguidas de tranquilidade e, de repente, são surpreendidos por uma noite particularmente violenta ou só mais atarefada — justo numa noite de Lua Cheia. É bem provável que os incidentes não tenham relação entre si, mas o profissional tende a acreditar que sim, porque precisa de uma explicação. E “coincidência” não é suficiente para satisfazer uma mente ávida por respostas.

Fonte: The Conversation, The Conversation