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A estrela Betelgeuse virará uma supernova — mas isso não vai acontecer tão cedo

Por| 24 de Dezembro de 2019 às 16h20

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ESO/L. Calçada
ESO/L. Calçada

Betelgeuse, uma das estrelas mais brilhantes do céu noturno, faz parte da constelação de Orion — ela compõe o "ombro" do caçador. Para facilitar a identificação da constelação, basta encontrar o conjunto que popularmente chamamos de "as três Marias", o trio que forma o cinturão de Orion. O brilho de Betelgeuse vem diminuindo consideravelmente nos últimos meses e, por isso, muita gente já começa a especular que a supergigante vermelha estaria, enfim, entrando no processo de supernova. Mas, calma, que isso não vai acontecer tão cedo — provavelmente nem estaremos mais por aqui quando esse espetáculo explodir no céu.

Estima-se que o fenômeno acontecerá a qualquer momento entre hoje e 100 mil anos, mas, como a estrela está a mais de 600 anos-luz da Terra, quando ela virar uma supernova, essa luz ainda demorará séculos para chegar até nós.

A variabilidade no brilho de Betelgeuse foi percebida pela primeira vez por pelo astrônomo britânico John Herschel em 1836 e, desde então, a comunidade científica segue observando a estrela, ansiosa pelo momento em que ela explodir em uma supernova. Quando isso acontecer, a supergigante vermelha (que tem cerca de 20 vezes a massa do Sol) brilhará no céu tanto quanto Rigel, a estrela mais brilhante da constelação de Orion e a sétima mais brilhante do céu. Mas, antes disso, a estrela terá seu brilho reduzido cada vez mais, durante o processo de colapso, até que a explosão finalmente aconteça. Seu brilho mínimo foi detectado em 1927, 1941 e também no final dos anos 1970 — por isso tanta especulação e ansiedade pelo processo de supernova.

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Betelgeuse está nos últimos estágios de sua "vida", e provavelmente por isso apresenta tanta variabilidade em seu brilho. Contudo, esse "fim de vida" é um processo extremamente demorado para a noção de tempo que nós, humanos, temos, ainda que, em escalas cósmicas, isso seja como um "sopro".

A supernova em questão proporcionará um espetáculo tão belo no nosso céu, que seu brilho será visível até mesmo durante o dia, e pode ser até mais brilhante do que a Lua à noite. A última supernova que pudemos ver daqui da Terra aconteceu em 1604 — a Supernova de Kepler —, e foi visível dia e noite por mais de três semanas. Como Betelgeuse está pelo menos 10 vezes mais próxima de nós, e tem um raio ainda maior do que a estrela que explodiu séculos atrás (cerca de 600 milhões de km), o show luminoso será ainda mais intenso e marcante.

Mas, novamente, o balde de água fria chega com as probabilidades matemáticas: de acordo com Eric Mamajek, da NASA, as chances de tal evento acontecer nas próximas décadas é de apenas cerca de 0,1%. Portanto, as chances de admirarmos uma "segunda Lua" no céu em nosso tempo de vida são ínfimas — ao menos no que diz respeito à supernova de Betelgeuse.

Eta Carinae nos dá esperança

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Se Betelgeuse provavelmente não nos presenteará com uma supernova em nosso tempo de vida, quem nos dá alguma esperança de algum show celeste acontecer é Eta Carinae — sistema binário que já está em processo de erupção há décadas, e pode ser o próximo sistema estelar a proporcionar um espetáculo luminoso no céu.

Eta Carinae brilha com uma intensidade de cinco milhões de sóis, ainda que não possa ser vista a olho nu. Contudo, quando a supernova explodir, seu brilho poderá ser visto até mesmo durante o dia por algumas semanas. Mas, apesar de isso só acontecer dentro de alguns milhões de anos, essa mesma estrela nos presenteará com seu brilho dentro de pouco mais de 10 anos.

De acordo com o astrônomo brasileiro Augusto Damineli, da Universidade de São Paulo, pouco mais de uma década é o tempo necessário para que a nuvem de gás e poeira que recobre Eta Carinae, impedindo sua observação a olho nu daqui da Terra, seja dissipada o suficiente para que seu brilho seja revelado para nós, quando a luz do sistema ficará 2,5 vezes mais intenso do que atualmente.

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Eta Carinae tem apenas 2,5 milhões de anos de idade e faz parte da rara classe das luminosas azuis, com temperaturas mais quentes. O sistema binário fica na constelação de Carina e foi catalogado em 1677 por Edmond Halley — aquele mesmo que dá nome ao famoso cometa. A erupção que fez com que seu brilho aumentasse, a ponto de a estrela ser identificada daqui da Terra, aconteceu em 1843, mas logo em seguida uma nebulosa foi formada ao seu redor em uma extensão de 3 trilhões de quilômetros. Repleta de gás e poeira, a nebulosa ofusca o brilho da estrela e, por isso, não podemos vê-la a olho nu, apenas por meio de telescópios capazes de "penetrar" na nebulosa (como os que "enxergam" a região do infravermelho no espectro eletromagnético).

"Em 2032, ou quatro anos a mais ou a menos, a poeira terá desaparecido e o brilho aparente da estrela não aumentará mais, mas sim ofuscará a nebulosa. Ou seja: em poucos anos, perderemos a oportunidade de tirar belas fotos da nebulosa da Carina, mas veremos mais claramente o par de estrelas gêmeas", declarou o astrônomo.

Fonte: Bad Astronomy, CNet, British Astronomical Association