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Crítica Star Wars: Visions | Um resgate da essência do que Star Wars representa

Por| Editado por Jones Oliveira | 21 de Setembro de 2021 às 13h00

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Divulgação/Disney
Divulgação/Disney

Ao longo desses mais de 40 anos, Star Wars se tornou muito maior do que a própria série se propôs a ser. Entre os altos e baixos dos filmes, a simbologia da saga transcendeu o cinema e ressoou diretamente com os fãs de forma a fazer com que ela fosse muito além do que os Skywalker apresentavam. Sempre foi algo muito maior do que Luke, Leia e Darth Vader. Foi a mitologia dos Jedi e da Força que conquistou gerações de forma tão fervorosa — e Star Wars: Visions é uma belíssima carta de amor a tudo isso.

A série é uma antologia em anime produzida por sete estúdios diferentes — incluindo alguns bastante renomados, como a Science SARU, de Keep Your Hand Off Eizouken!, e a Production I.G., que tem em seu currículo clássicos como Haikyu!! e Ghost on the Shell. Contudo, mais do que o histórico das equipes, o que mais chama a atenção em Visions é o quanto ela consegue captar e resumir a essência do que é Star Wars em episódios tão curtos.

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Cada história é bem diferente entre si, mas todas sintetizam muito bem aquilo que faz com que Star Wars tenha se tornado esse colosso cultural que a gente conhece hoje. Não se trata da cronologia ou dos dogmas que os próprios fãs estabeleceram sobre o funcionamento de um sabre de luz ou como um Jedi se relaciona com a Força. No fim, trata-se de uma fantasia para falar de esperança.

Atenção! Daqui em diante este texto pode conter spoilers.

A essência da Força

Essa é uma temática que perpassa toda a série, em maior ou menor medida, em histórias que jamais poderiam existir em outro formato. E não apenas pela ação desenfreada ou pelo estilo de animação que permite exageros, principalmente nos combates, mas por explorar ideias e narrativas que vão muito além daquilo que a gente imaginaria ver em um Star Wars tradicional.

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Isso fica bem claro já no primeiro curta, batizado de O Duelo — um dos melhores de toda a série. Além de trazer um estilo artístico bastante peculiar, ele muda tudo aquilo que a gente conhece da série, seja em sua ambientação, deixando de lado a fantasia de ficção-científica para trazê-la mais para o contexto do Japão medieval dos samurais, ou mesmo naquilo que Jedi e Siths podem fazer.

A vilã que tem um guarda-chuva de sabres de luz é algo que jamais seria aceito pelos fãs conservadores de Star Wars — basta lembrar que eles passaram meses reclamando da empunhadura de Kylo Ren em O Despertar da Força —, assim como o fato de essa ser uma história deslocada da cronologia. Só que isso está muito longe de ser um problema em Visions, que abraça essas desconstruções para criar algo completamente novo.

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Assim, a antologia não se trata apenas de imaginar Star Wars como um anime e fechar o ciclo de referências japonesas que inspiraram George Lucas originalmente em 1977. O que a série faz é se livrar das amarras do que pode e o que não pode para ter novas visões sobre esse universo e explorar conceitos bastante originais que levam a saga para novos lugares, mesmo que em tom experimental.

Histórias como a do menino-droide que sonha em ser Jedi ou do Padawan que é adotado por uma banda de rock só podem existir em um projeto assim e mostram como o mundo de Star Wars é rico o bastante para permitir que isso funcione sem fugir daquilo que realmente dá vida à série. São histórias simples e que não trazem nenhum grande arco épico, mas que exploram muito bem a mitologia dessa galáxia muito distante, sobretudo no que diz respeito à Força e à esperança que ela representa.

Não por acaso, o sabre de luz é uma constante em todos os episódios, aparecendo como parte fundamental de cada das histórias não como a arma que salva o dia, mas como o símbolo do que é ser um Jedi. É um lembrete constante para os fãs do que Star Wars realmente se trata.

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Curiosamente, o primeiro episódio de Visions traz justamente esse símbolo sendo destruído como forma de destacar que a sua essência não é a luzinha colorida ou o icônico efeito sonoro, mas o cristal kyber que dá vida a ela — assim como a saga não se resume apenas aos Skywalkers ou aos dogmas criados nessas mais de quatro décadas.

Tanto que, a partir dessa desconstrução, os episódios vão explorar como essa mesma essência pode ser usada para o mal como também representar essa esperança que sempre insiste em renascer — como os próprios Jedis provocados pela Força. Lembra-se da cena do menino da vassoura no final de Os Últimos Jedi? Pois é esse mesmo sentimento de esperança que permeia Star Wars: Visions do começo ao fim.

Assim, episódios como T0-B1 e O Nono Jedi expressam muito bem o que é a Força nesse sentido de renascimento e entregam excelentes histórias que não só impressionam pelo excelente estilo artístico, mas por nos sintetizar tudo aquilo que Star Wars é.

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Novos olhares

Contudo, não há como falar de Star Wars: Visions sem falar da parte técnica da coisa. A ideia de reimaginar uma saga do cinema a partir de uma perspectiva mais oriental não é necessariamente nova — Animatrix fez isso 20 anos atrás —, mas se encaixa perfeitamente dentro do universo de George Lucas.

O primeiro aspecto disso é justamente em como essa mistura de ambientações nos lembra como esse universo é rico e variado. Há histórias que são totalmente o Star Wars que conhecemos, com toda a tecnologia desgastada e droides tomados pela sujeira do deserto da Tatooine, da mesma forma que somos apresentados a mundos extremamente limpos e tradicionais, que remetem ao interior rural do Japão ou à casa de um xogum. São propostas muito diferentes e que, ao mesmo tempo, são familiares e coesas.

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A partir dessa salada, cada um dos sete estúdios pôde dar a sua interpretação do que é a saga sem se apegar aos detalhes a que os fãs dão tanta atenção. Assim, um sabre de luz não precisa ser apenas aquele tubo colorido de sempre, mas assumir a forma de uma katana samurai ou mesmo se enrolar na lâmina do adversário. São maneirismos, mudanças que estão ali só para ficar mais legal, mas que em momento algum mudam o significado daqueles elementos. Pelo contrário: em muitos episódios, há um reforço do simbolismo de cada um desses pontos.

O mesmo acontece com a narrativa. O episódio A Balada de Tatooine, por exemplo, quebra completamente tudo aquilo que a gente espera de um Star Wars. Não há um grande conflito pelo destino da galáxia, mas um ex-padawan que toca em uma banda de rock que tenta salvar o amigo que foi capturado por Jabba. É algo tão simples que destoa do tom épico que a gente espera da saga — e, por isso mesmo, se torna tão apaixonante.

É claro que nem todas as histórias conseguem manter esse nível de inventividade. A Noiva Aldeã e O Ancião, por exemplo, entregam excelentes cenas de ação, mas não muito longe daquilo que a gente espera de Star Wars em termos de trama e situações apresentadas. Por outro lado, O Duelo, Os Gêmeos e Lop e Ocho são tão diferentes e ousados que você anseia por ver mais desses universos em particular.

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Aliás, o desapego aos filmes é tão grande que praticamente não há referências a eles e a seus personagens. No máximo, vemos Boba Fett e Jabba, mas em um contexto muito mais inocente e sem a preocupação de respeitar as imagens que foram construídas em torno deles ao longo do tempo ou mesmo do que foi apresentando recentemente em Mandalorian.

E tudo isso é embalado em estilos de animação que aproveitam muito bem essa linguagem do anime para criar algo único e que não poderia ser replicado em nenhum outro meio. Todas as lutas ganham um dinamismo e uma movimentação característicos das animações japonesas e que funcionam no mundo de Star Wars, diferenciando de tudo aquilo que a gente já viu, mas ainda bastante fiel ao que a gente conhece.

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Isso resume bem todo o espírito do que é Star Wars: Visions. Trata-se de algo único que só poderia existir dessa forma. São visões bastante características que imaginam todo o universo criado por George Lucas, mas sem descaracterizá-lo nem por um momento. Mesmo nas ideias mais malucas, ele respeita tudo aquilo que Star Wars é e representa, mesmo que tenha que abrir mão das tecnicidades e dos detalhes a que os fãs tanto se apegam.

Star Wars sempre foi essa grande fábula sobre como a esperança renasce em momentos de necessidade — e a série sabe mostrar isso de forma bastante sensível, ágil e divertida. É essa a essência da saga que, como um cristal kyber, às vezes se esconde dentro daquilo que é mais visível e chamativo. E, às vezes, é preciso quebrar com o clássico para que possamos nos lembrar disso.

Star Wars: Visions estreia no catálogo do Disney+ nesta quarta-feira, 22 de setembro.