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Moon e Bá falam sobre Umbrella Academy na Netflix e outros trabalhos

Por| 30 de Dezembro de 2019 às 14h20

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claudio yuge
claudio yuge
Tudo sobre Netflix

Os irmãos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá estão mais populares do que nunca. Eles já têm uma carreira sólida no mercado nacional e abocanharam prêmios Eisner (o “Oscar dos quadrinhos) nos Estados Unidos, o que possibilitou trabalharem com artistas do calibre de Mike Mignola e Neil Gaiman. Agora, contudo, o trabalho da dupla está sendo visto por milhões de pessoas em todo o mundo, por meio da adaptação de Umbrella Academy, série roteirizada por Gerard Way e que pode ser acompanhada na Netflix.

A dupla esteve, recentemente, no Artists Alley, seção com mesas de autógrafos com vários autores, na Comic Con Experience 2019, lançando o terceiro volume de Umbrella Academy, chamado de Hotel Oblivion. Os paulistanos aproveitaram para bater um papo com o público e falar sobre seu trabalhos, principalmente sobre o que virou atração na plataforma de streaming.

Início do projeto de adaptação 

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A vontade de transformar Umbrella Academy partiu da Universal, que então procurou a Dark Horse, editora original da série. A partir daí, a adaptação, feita tendo como base o roteiro de Jeremy Slater, foi oferecida a vários estúdios. “O projeto foi levado para vários lugares, incluindo a Netflix. Isso levou um ano e, quando deram o sinal verde, o Jeremy estava trabalhando com a série do Exorcista. Então, a gente levou isso para o Steve (Blackman), que entendeu a história e o caminho que o Jeremy tinha seguido originalmente”, lembra Bá.

Blackman se tornou então o showrunner da atração, que ultrapassou a marca de 45 milhões de espectadores em todo o mundo. “Isso mudou a dinâmica do público com a série, porque muita gente a descobriu. E aí essas pessoas vão atrás dos quadrinhos. E isso aumenta, uma coisa que tínhamos percebido com os filmes da Marvel, que é o pessoal descobrindo que ler quadrinhos é legal. Quando o público do cinema vem atrás dos quadrinhos, ele vem atrás de todos tipos, não somente da Marvel, e descobre muito mais. Com o Umbrella estamos vendo isso, eles vêm atrás do Umbrella, mas descobrem todos os nossos trabalhos.”

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É claro que toda conversão para outra linguagem traz alterações, o que pode desagradar alguns autores. Mas, para Bá, todas elas foram bem-vindas. “É preciso entender que não sou que estou fazendo. A princípio, adaptações podem parecer difíceis, porque alguém sempre vai fazer diferente de você. Se o Fábio desenhar a mesma página que eu, ele vai fazer diferente, mesmo com toda nossa história juntos. Uma vez que entendemos isso, fica um pouco mais fácil de pensar na série. É a mesma trama, parte do mesmo princípio, mas é outra coisa. Tem que funcionar na linguagem de TV, para um público que não é necessariamente o dos quadrinhos. Ali, foi usado o que havia de melhor para aquela mídia e para sua audiência.”

Além disso, a própria dupla já havia adaptado obras de outros autores, a exemplo de Alienista (Machado de Assis), Dois Irmãos (Milton Hatoum) e Como Falar com Garotas em Festas (Neil Gaiman). “Então, compreender o que da literatura funciona nos quadrinhos nos ajudou a entender que a série tem que funcionar de forma diferente dos quadrinhos”, comenta Bá.

O que ficou melhor na TV do que nos quadrinhos?

A série da Netflix traz um grupo com visual bastante diferente, especialmente por conta da maior variedade étnica. Além disso, personagens como Hazel e Cha-Cha ganharam mais destaque, assim como outros detalhes que nos quadrinhos não são tão explorados. Bá gostou mais da transformação pela qual passou Spaceboy, em todos os aspectos.

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“Adoro o Spaceboy, mas aqueles tubos que saem dele são difíceis de desenhar. Não fazem sentido nenhum e limitam as poses que ele pode ter, é um inferno (risos). Esse era o personagem mais difícil para ser transposto para as telas. Adorei do jeito que ficou e gostei muito da hora que ele vai para uma rave. Esses roteiristas sabem contar essa história, o showrunner entende como contar o material original de uma forma diferente. Todas a mudanças foram muito bem-vindas, para experiências diferentes.”

Outro ponto que chamou bastante atenção também envolve Spaceboy. “A série da Netflix criou uma relação do Luther com a Lua. Muitos fãs, por conta do que aconteceu no final, ficaram um pouco com raiva do personagem e pediram para que ele voltasse para a Lua. Isso chamou muita atenção dos produtores, do Gerard, do Bá e do próprio ator, que interpreta o personagem. O feedback do leitor e do espectador é sempre bom”, diz Moon.

E agora? Bem, a segunda temporada já foi gravada — ambos puderam acompanhar esse processo — e há atualmente um quarto volume de Umbrella Academy sendo criada neste momento. Ainda não há previsão de lançamento de ambas, embora Hotel Oblivion, a terceira HQ do supergrupo disfuncional, já possa ser encontrado por aí.

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“A série ficou muito legal. É muito bom poder acompanhar o desenvolvimento do roteiro, do visual, as gravações, inclusive as da segunda temporada, que acabaram recentemente e também ficaram legais. O Bá não quer que aconteça o mesmo problema de Game of Thrones, por isso, ele e o Gerard têm que produzir, não dá para parar, porque senão a série vai ultrapassar o gibi”, destaca Moon.

E o que mudou na vida dos artistas? E outros projetos?

Obviamente que Moon e Bá não se resumem a Umbrella Academy. “Nossa vida continua igual. As pessoas acham que sai uma série de um trabalho nosso na Netflix e tudo muda. Não mudou nada. Fazer quadrinhos continua difícil, demorando séculos. Se quisermos contar histórias, temos que sentar e desenhá-las. Por mais que muito mais gente tenha descoberto nosso trabalho, para que possamos continuar explorando o potencial incrível que os quadrinhos têm a oferecer, a resposta para nossas jornadas continua sendo sentar, pensar em novas ideias e colocá-las no mundo”, conta Moon.

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Trabalhar com o irmão, ainda mais gêmeo, é um processo que facilitou e continua contribuindo para que ambos possam abraçar outros projetos, a exemplo da série sci-fi de espionagem Casanova, feita ao lado do roteirista Matt Fraction e que está chegando ao seu quarto volume em breve. Já sobre o material dos dez primeiros anos de carreira (Girassol e a Lua, Meu Coração Não Sei Por Que, Crítica, Mesa Para Dois e Fanzine), muito procurado pelos fãs, eles vêm sendo publicados digitalmente.

“Tudo está esgotado e é difícil reimprimí-los, porque nossos contratos com as editoras acabaram. A gente colocou três desses livros no Social Comics, uma plataforma digital que é tipo uma ‘Netflix dos quadrinhos’. Já teve editora que nos propôs fazer um ‘Absolute 10 Pãezinhos’. Mas você ter um livro de capa dura com 700 páginas do início da nossa carreira vai sair caro. Quero que chegue em mais gente, e acreditamos que essa plataforma pode levar para mais pessoas e lugares”, explicam.

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A dupla até adiantou um próximo trabalho autoral que está nos planos para os próximos anos. “Pretendemos um dia fazer as tiras do Quase Nada (publicada semanalmente na Folha de S. Paulo há alguns anos). Mas é preciso fazer algumas reuniões para colocar tudo em ordem. Mas não temos tempo para fazer isso agora. Um dia vamos fazer.”

Mudança no cenário e dicas para iniciantes

“Fazer quadrinhos é muito solitário e é muito diferente de ler quadrinhos. Ler é tão legal, rápido e dinâmico. Mas fazer é muito demorado nessa comparação. Você fica lá trabalhando um, dois, três dias para fazer uma página e lê em 20 ou 30 minutos o que pode ter demorado anos para ser feito. Ter um irmão gêmeo trabalhando ao seu lado, ajuda a lidar com essa solidão do quadrinista, com críticas, novas ideias, inspiração, apoio”, assinala Bá.

“Hoje é muito mais fácil gostar de quadrinhos. Antes, você era a única pessoa da sua sala no colégio ou do seu bairro a gostar de quadrinhos. E com quem você vai conversar, trocar uma ideia? Então, atualmente é mais fácil encontrar as pessoas que gostam das mesmas coisas ou trazer outras coisas para o seu interesse.”

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Moon e Bá se interessam muito mais em contar histórias cotidianas, que pessoas possam se identificar, transformando detalhes ordinários em tramas extraordinárias. Por isso, eles dizem aos iniciantes que é mais interessante buscar esse “background” do que saber ilustrar personagens. “As pessoas costumam desenhar somente personagens. A gente começou desenhando personagens, como o Garfield. Mas nunca tem prédios no fundo das histórias do Garfield. Então, começamos a entender que as histórias são importantes e vão te mostrar que existem outras coisas para serem desenhadas. Quadrinhos é contar histórias, não desenhar”, frisa Bá.

E o que um jovem precisa para contar suas próprias histórias? “Sempre desenhamos. Por volta dos seis e sete anos de idade, quando você começa a se expressar melhor, vem uma coisa chamada bullying (risos). Você não quer mostrar seus desenhos com medo das pessoas tirarem sarro, porque não ficou igual ao que você queria que ficasse. Mas tem que passar por essa rebentação e continuar desenhando, toda hora e em qualquer lugar. Só depende de quem quer contar a história, contar a história. Não existe atalho. Tem que sentar, tem que pedalar, tem que contar as histórias e acreditar que elas vão chegar nos leitores.”