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Marco da genética, clonagem da ovelha Dolly completa 20 anos nesta terça-feira

Por| 05 de Julho de 2016 às 10h57

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No dia 5 de julho de 1996, o mundo acompanhou um importante passo no campo da ciência. Foi nessa data que nasceu Dolly, o primeiro animal adulto clonado a partir de uma célula de sua mãe, com quem compartilha os mesmos genes. O anúncio foi feito pelo geneticista responsável pela experiência, o escocês Ian Wilmut, do Instituto Roslin, em Edimburgo.

Dolly surgiu depois de quase sessenta anos de pesquisas e tentativas fracassadas. A base teórica da experiência foi lançada em 1938, pelo embriologista alemão Hans Spemann, que acreditava que qualquer célula de um animal pode gerar outro animal geneticamente igual. Naquela época, os biólogos já sabiam que as células do embrião possuem uma qualidade conhecida como totipotência, em que cada célula contém todos os genes necessários para produzir um indivíduo inteiro. À medida em que o embrião vai crescendo, suas células se multiplicam e carregam a receita completa para a formação de um indivíduo, mas manifestam apenas uma pequena parte dela.

Spemann estava convencido de que as células manteriam sua totipotência mesmo após alcançarem o limite de seu desenvolvimento. Contudo, isso só foi alcançado graças a Wilmut e ao biólogo britânico Keith Campbell, que, em fevereiro de 1996, conseguiram transferir um embrião para o útero de uma ovelha. Cinco meses depois, Dolly nasceu através de um período de gestação normal.

Criando a Dolly

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Para criar o gene artificial, foi usada uma técnica denominada Transferência Nuclear de Células Somáticas (TNCS), que consiste em retirar o núcleo da célula com seu correspondente ADN de uma célula que não seja um óvulo ou espermatozoide e implantá-la em um óvulo não fecundado, ao qual previamente se retirou o núcleo. O ADN é um composto orgânico cujas moléculas carregam as instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos e alguns vírus. É ele também quem transmite as características hereditárias de cada um, pois toda a nossa informação genética está presente nele sob a forma de genes.

No caso de Dolly, a célula foi retirada de uma glândula mamária de uma ovelha Finn Dorset de seis anos de idade - a célula em questão fica guardada numa solução química. Um óvulo não fecundado foi extraído de uma segunda ovelha, da mesma raça, e, com uma agulha, retirou-se o núcleo de seu óvulo. Feito isso, a célula mamária da primeira ovelha é unida com o óvulo sem núcleo da segunda. Daí uma corrente elétrica provoca a fusão das duas células, que imediatamente começam a se dividir, formando o embrião.

Uma vez realizada a transferência, o óvulo reprograma um embrião a partir do DNA, que por sua vez começa a se desenvolver como filho de apenas um progenitor. Por isso, a ovelha não tem pai.

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O nome Dolly é uma referência à atriz Dolly Parton, conhecida na década de 1970 devido aos seus enormes seios - por isso a clonagem aconteceu a partir da glândula mamária de uma ovelha adulta. Mesmo um clone, Dolly levou uma vida comum, como qualquer outra ovelha, e inclusive deu à luz dois filhotes. Em 2002, foi anunciado que Dolly sofria um tipo de doença pulmonar progressiva e, em fevereiro do ano seguinte, a ovelha foi abatida. O corpo de Dolly foi embalsamado e hoje está exposto no Museu Real da Escócia, em Edimburgo.

Clonagem humana

Apesar de Dolly não ter sido o primeiro clone da história, seu nascimento causou uma revolução na genética porque a ovelha foi o primeiro clone criado a partir da célula de um animal adulto, e não de um embrião, como ocorreu com todos os clones que a antecederam. Isso iniciou um debate polêmico sobre até que ponto a manipulação de genes pode impactar a sociedade, em especial ao que diz respeito à clonagem de seres humanos.

Após o anúncio da equipe de cientistas do Instituto Roslin, foram impostas várias leis que proíbem testes ou qualquer experimento relacionado à clonagem humana. Nos EUA, por exemplo, o até então presidente Bill Clinton proibiu a liberação de fundos federais para esse objetivo, e o Vaticano condenou a utilização dessas técnicas em humanos. Várias organizações internacionais, incluindo a UNESCO e a Organização Mundial da Saúde (OMS), solicitaram estudos sobre o assunto.

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Desde aquela época, existe uma oposição global à reprodução de pessoas por clonagem. Além das objeções éticas e dos direitos humanos à criação de seres humanos como fotocópias, também existe um problema de segurança: apenas alguns animais clonados sobreviveram ao nascimento, e aqueles que conseguiram viver registraram problemas de saúde posteriores. Soma-se a isso o fato de que os especialistas acreditam que a oposição moral à clonagem como técnica de reprodução ofuscou todo o potencial benéfico que a técnica poderia trazer, principalmente na área de medicina regenerativa.

"Muitas pessoas temem que aconteça um deslize, que uma coisa leve à outra, até que algo ruim ocorra. Esta é a principal preocupação que tem impedido o uso da tecnologia", destacou Rosario Isasi, do Instituto de Bioética e Política Sanitária da Universidade de Miami, nos Estados Unidos.

Avanços médicos

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A clonagem pode não ter encontrado uma aplicação direta na medicina, mas estimulou o desenvolvimento de outras tecnologias, como a de células-tronco pluripotentes induzidas - ou seja, que dão origem a todos os órgãos e tecidos do corpo, como nervos, músculos, ossos e pele. A técnica, desenvolvida pelos cientistas John B. Gurdon, da Inglaterra, e Shinya Yamanaka, do Japão, consiste em criar células especializadas fazendo com que remontem a níveis de desenvolvimento anterior, o que permite prescindir de recorrer a embriões. O método foi premiado com um Nobel de Medicina, em outubro de 2012.

Além disso, o procedimento tem dominado as atenções da medicina regenerativa ao estabelecer as bases para a reprogramação de células adultas em células-tronco. No entanto, ainda não está completamente estabelecido que as células resultantes funcionem do mesmo modo que as células-tronco obtidas com embriões.

Aaron Levine, especialista em Bioética da Georgia Tech, disse que o maior impacto da clonagem sobre a saúde humana provavelmente procede de animais criados especialmente para produzir órgãos, tecidos ou medicamentos biológicos que não seriam rejeitados pelo sistema imunológico humano. "Acredito que a clonagem humana vai desaparecer. Simplesmente não existe demanda suficiente, não há muito que alguém possa fazer com a clonagem que não possa fazer de outra maneira", disse.

Na clonagem terapêutica, por exemplo, os cientistas obtêm células-tronco de um embrião em seus estágios iniciais para o desenvolvimento especializado de células hepáticas ou sanguíneas, podendo ajudar a curar certas doenças ou reparar órgãos afetados. Como elas são criadas a partir do próprio DNA do paciente, o risco de rejeição do transplante é drasticamente reduzido. Mesmo assim, nenhum TNCS conseguiu fazer com que as células se desenvolvam como um órgão humano funcional.

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Fontes: Scientifican American, G1, Superinteressante