D23 Expo: O que os fãs acharam da 1ª vez do evento da Disney no Brasil
Por Júlia Putini • Editado por Claudio Yuge | •
Fãs do Mickey, da Marvel, de Star Wars e da Pixar fizeram a festa no final de semana em São Paulo. A D23 Expo amplia a turnê internacional do evento que tradicionalmente acontece na Califórnia, mas já teve três edições no Japão. O Brasil é o segundo país fora dos EUA a sediar a feira. Com ares de Comic Con, começou na sexta-feira (8) e terminou no apagar das luzes do domingo (10).
No total foram 15 anúncios de atrações das franquias mais famosas da Disney, como Toy Story, Avatar e O Rei Leão, e um público esperado de 45 mil pessoas, que puderam prestigiar de perto trechos inéditos de Capitão América: Admirável Mundo Novo e Thunderbolts*.
Além de exportar os encantos da Disney para fora da localização original dos parques, na Flórida (EUA), o evento também apresenta atrações para investidores. Essa transformação aconteceu principalmente depois que a companhia adquiriu muitas franquias, como as da Pixar, da Marvel e da Lucasfilm (Star Wars) — 2006, 2009 e 2012, respectivamente.
O evento surgiu em 2009 com o intuito de homenagear os fãs e proporcionar um encontro entre aqueles que dividem a mesma paixão pela Disney, como em uma convenção; e, na época, a companhia viu uma nova frente para capitalizar algo parecido com um programa de fidelidade.
Além da localização primária em Anaheim, na Califórnia, a D23, que depois das aquisições ganhou mais corpo em um cronograma amplo e o nome D23 Expo, também já aconteceu no Japão. Essa foi a primeira vez que o evento ocorreu no Brasil e fora dessas duas outras localidades.
Com a presença de grandes figurões da indústria, como Kevin Feige, Charlie Cox, Anthony Mackie, David Harbour, foram feitos anúncios inéditos do que está por vir. Abaixo, veja os destaques do evento, a experiência do público e um balanço dessa edição — e se haverá próximas.
Toy Story, Avatar, Capitão América, novidades para todo mundo
Ao todo, mais de dez anúncios de novidades foram feitos. Alguns já eram esperados, enquanto outros tiveram um quê de ineditismo. São eles, divididos entre filmes e séries, respectivamente:
Avatar: Fogo e Cinzas. O terceiro filme da franquia já está em pós-produção. Com artes conceituais inovadoras, o anúncio veio acompanhado uma mudança no paradigma da narrativa. No longa, a história de Pandora se adensa com conflitos tribais, já que uma nova tribo Na'vi (do fogo) deve desempenhar o papel de vilã da trama, substituindo os humanos. Data de estreia: 19 de dezembro de 2025.
Branca de Neve. Com a exibição do trailer oficial do primeiro grande clássico da Disney, a história apresenta novidades em relação à trama tradicional sem perder as referências que fazem desta a primeira grande história da indústria de filmes da empresa. Ao Brasil, Rachel Zegler, a atriz que faz o papel da princesa, deixou uma mensagem em vídeo para os fãs. Data de estreia: 20 de março de 2025.
Moana 2. Após terem apresentado os cinco primeiros minutos do filme, a cantora Any Gabrielly, famosa entre a nova geração de crianças, veio para cantar a trilha sonora do filme infantil na versão brasileira. Agora, a já consagrada heroína da ilha fictícia de Motunui, na Polinésia, se vê imersa em questionamentos sobre os antigos habitantes do local. Data de estreia: 28 de novembro de 2024.
Toy Story 5. Com uma nova logo para demarcar os 30 anos do lançamento da história que também se tornou um clássico, a Disney trouxe apenas artes conceituais ao confirmar a estreia para 2026. Apesar de não haver vídeos ou grandes spoilers, dá para supor que desta vez os brinquedos vão encarar um inimigo inédito: a tecnologia, que tem roubado dos pequenos a capacidade de interagir, imaginar e criar enredos para os bonecos. Ainda não há data de estreia.
Mufasa: O Rei Leão. Destacando o passado do pai de Simba como pano de fundo, a aguardada história traz todos os personagens principais. Na versão em inglês, que empresta a voz à Nala e ninguém mais, ninguém menos, do que Beyoncé. Data de estreia: 19 de dezembro de 2024.
The Mandalorian & Grogu. O painel da Lucasfilm contou com a exibição do trailer da história que, atualmente, está em produção. O material oficializou a volta de Pedro Pascal no papel do mandaloriano e mostrou a dupla enfrentando snowtroopers. Ainda não há data de estreia no Brasil.
Quarteto Fantástico: Primeiros Passos. Algumas cenas da primeira família da Marvel foram vistas com exclusividade por quem estava presente no painel. Alguns designs exclusivos também foram apresentados, entre eles, um que mostra uma “outra Terra”, na cidade futurística onde a história se desenrola. Data de estreia: 24 de julho de 2025.
Thunderbolts. Disponibilizado na mídia após o evento, o trailer mostra um quinteto perturbado e, por isso mesmo, hilário. Data de estreia: 2 de maio de 2025.
Demolidor: Renascido. Para a divulgação da nova série do herói, Renascido, Charlie Cox (Matt Murdock) e Vincent D'Onofrio (Rei do Crime) vieram para a D23. Além da conversa da dupla de atores, durante o painel foi divulgada a música que é trilha sonora da trama. Data de estreia: março de 2025.
Capitão América Admirável Mundo Novo. Anthony Mackie e Danny Ramirez vieram à D23 divulgar o novo longa, o quarto da franquia. Data de estreia: 13 de fevereiro de 2025
Cosplayers e fãs loucos por memorabilias
As amigas Fernanda Sipierski e Amaryllis Krug se reuniram exclusivamente para o evento, uma vinda da Irlanda e outra do Rio de Janeiro, para viver juntas esse momento. Essa amizade que não tem fronteiras nasceu em um terceiro lugar, em Belo Horizonte (MG).
Fantasiadas de seus personagens favoritos, Zé Carioca e Ursula, respectivamente, a expectativa era encontrar o mascote brasileiro durante a tarde para tirar fotos.
"Quero ver Disney+, se o Zé Carioca está encontrando as pessoas... estou muito empolgada", contou Fernanda.
Cheias de sacolas, as duas aproveitaram as filas mais amenas da manhã para garantir os souvenirs. "A gente veio para torrar e, por enquanto, a gente não entendeu ainda direito o evento", divertiu-se Amaryllis. Ela é tão fã que tem o chapéu do Pateta e a lâmpada de Aladdin tatuados no pulso.
Falando em filas, elas não foram um problema para Murilo Okada e seus pais, Renata e Marco. O jovem de 14 anos veio de Jacareí (SP) com os pais e estava animado para o que o dia reservava, gravando tudo com o celular.
"Fomos direcionados ao estacionamento preferencial, bem atendidos lá, e fizemos o credenciamento direto no subsolo", contou Renata, quando questionada sobre a acessibilidade.
Marcos pontuou algo que provavelmente muita gente também sentiu falta: mimos. "Não estou vendo em lugar nenhum, faltou brinde", comentou o pai do jovem.
Já o quarteto composto por Bianca, Mayara, Igor e Alexandro que vieram do interior de São Paulo, foi uma das sensações do evento em termos de cosplay. Os quatro estavam com os dedos cheios de cola após passarem a noite colando os bottons da fantasia de Russell, o garotinho simpático de Up! Altas Aventuras.
Ao Canaltech, Igor contou que estava esperando "algo a mais" de Branca de Neve, como alguma ativação imersiva, o que acabou não se concretizando. Entre eles, três são amigos de infância e professores. A profissão garante o direito à meia entrada, benefício do qual eles não conseguiram usufruir, uma vez que os lotes promocionais esgotaram rapidamente. Quando dias depois abriu um segundo lote, eles já haviam comprado pelo valor cheio.
Além disso, ao entrarem, houve um problema com o credenciamento do grupo. Por terem adquirido os ingressos juntos, a entrada deles estava momentaneamente bloqueada, e foi preciso de uma intervenção da equipe para poderem entrar.
"Eu sou muito fã de Disney e um dos princípios dos caras é a parte da organização e da experiência do produto. E minha maior preocupação é se no nosso país a gente vai conseguir garantir o padrão de atendimento Disney. Essa coisa do ingresso já foi uma questão", finalizou Igor.
Renata Okada, mãe de Murilo, também se sentiu um pouco insatisfeita com a organização, ao citar a área referenciada como praça de alimentação. As opções para comer ficam espalhadas no local, formando uma circunferência em torno dos estandes — a preferência seria por tudo melhor disposto, em um conjunto único, mais acessível.
A maior constante, como era de se esperar em qualquer lugar do mundo onde a Disney esteja, foram as filas. Para poder interagir e fotografar com alguns dos personagens presentes, como o Mickey, o Zé Carioca, a Jessie e o Buzz, foi preciso se organizar.
O mesmo aconteceu com quem fez compras na loja oficial de produtos montada em parceria com o Mercado Livre. A fila dava voltas para quem quisesse torrar a grana em peças de vestuário (entre cerca de R$ 90 e R$ 400), garrafinhas do tipo squeeze (R$ 45) e brinquedos (pelúcias em torno de R$ 200) licenciados pela Disney.
Quem chegou cedo, aproveitou para fazer as compras antes de a lotação começar, e se enfileirou nos armários para guardar as bugigangas recém-adquiridas logo nas primeiras horas após a abertura dos portões.
Próximas edições?
Dentre os patrocinadores do evento estava a Visa que, em entrevista ao Canaltech, afirmou que essa foi considerada uma chance de reafirmar os laços com a Geração Z, os nativos digitais nascidos entre 1995 e 2010.
"A primeira edição da D23 na América Latina foi um capítulo memorável da nossa estratégia de patrocínio global com a Disney”, afirmou Rodrigo Bochicchio, diretor-executivo de Marketing da Visa do Brasil.
Ele destacou as ativações do estande na Arena D23 Bradesco Visa, que apresentava a promoção Heróis pelo Mundo e os novos cartões temáticos da empresa. Segundo o diretor-executivo, foi uma oportunidade de “posicionar a marca ao lado do público em momentos inesquecíveis”.
No entanto, ainda não é possível saber se uma nova edição ocorrerá no país, como no caso do Japão, que sediou três edições do evento — em 2013, 2015 e 2018.
O que eu achei
As expectativas estavam altas para ter um gostinho desse grande encontro aqui no Brasil, já que nosso país é conhecido pela receptividade e intensidades do amor dos fãs. No entanto, minha percepção convergiu com o que foi vaticinado por Igor quanto à “experiência Disney”, que deixou a desejar.
Ao chegar no evento, haviam quatro filas diferentes para a revista, divididas entre patrocinadores, imprensa e creators e público geral. Parecia que fluiria bem, mas a organização se mostrou precária, pelo menos no dia da estreia, uma vez que todas convergiam para uma mesma linha na hora de passar pelos detectores de metal.
Depois, isso tudo desembocava para novas filas completamente misturadas para o credenciamento. E tudo isso debaixo de chuva, a despeito dos protestos do público, que formava a mais comprida das aglomerações e começava a reclamar conforme o temporal aumentava.
Outro ponto relativo à logística do evento foi o cartão de alimentação que deveria ser carregado para o consumo lá dentro. Para o uso foi cobrada uma taxa de R$ 5, que ficava em consignação, a ser trocada por uma água ao final, o que não aconteceu.
Quem queria ir embora com agilidade não ficou para esperar a reposição da prometida água e foi embora com esse pequeno prejuízo. Pelo menos havia bebedouros espalhados por todo o local, e quem levou uma garrafinha (que deveria estar vazia ao chegar) pôde encher tantas vezes quanto necessário.
Ainda no quesito alimentação, não havia uma praça de alimentação única, o que resultou em falta de mesas e cadeiras. Embora os diversos food trucks espalhados em torno da arena onde ocorreu a exposição oferecesse diversas opções para comer em todo lugar ao mesmo tempo, o espaço externo ficou esquecido, dadas as condições climáticas — quem buscou o mínimo conforto, a melhor opção foi disputar o chão com os transeuntes; comer de pé mesmo ou “guardar lugar” esperando alguma mesa ser desocupada.
A assessoria do evento foi procurada pelo Canaltech para comentar as questões aqui apontadas, mas ainda não retornou até a data da publicação da matéria, que será atualizada tão logo um posicionamento for encaminhado.
Para quem quer sentir um pouco da atmosfera dos diferentes mundos da Disney, fazer fotos como se estivesse nos parques e comprar lembrancinhas, o primeiro dia de evento supriu as expectativas.
Mas, se o intuito era viver experiências mais imersivas, ganhar brindes, interagir com personagens mil e saber em primeira mão novidades completamente inesperadas, a vivência pode ter sido frustrante — e, portanto, não acho que fez jus ao custo de R$ 399 pelo valor do ingresso inteiro, avulso, para uma diária durante o fim de semana.
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