Crítica | Virando o Jogo dos Campeões começa nostálgico, divertido e moderno
Por Beatriz Vaccari | Editado por Jones Oliveira | 30 de Março de 2021 às 09h18
Quando se trata do Disney+, serviço de streaming da Disney, há uma prioridade: investir em conteúdos originais. Muito se falou sobre o catálogo da plataforma quando lançada no Brasil, sobretudo pelo grande volume de animações e filmes infantis que dificilmente atraem uma faixa etária mais velha. Sabe-se que mais da metade dos assinantes não possuem filhos, o que torna isso um "diferencial", segundo o diretor-executivo Bob Chapel durante a Morgan Stanley Technology, Media and Telecommunications Conference neste mês.
Sabendo disso, há uma forma de atrair o público independentemente da idade ao produzir novos conteúdos: apelar para a nostalgia da infância dos adultos e oferecer uma nova história para os mais jovens acompanharem. Isso foi visto em Cobra Kai, spin-off moderno da trilogia Karatê Kid que conseguiu conquistar a geração atual e os fãs que acompanharam a franquia nos cinemas; agora, a Disney está seguindo a mesma linha criativa em Virando o Jogo dos Campeões, spin-off de Nós Somos os Campeões, ou como é popularmente conhecido: The Mighty Ducks.
Atenção! A partir daqui o texto pode conter spoilers do primeiro episódio da série. Leia por sua conta e risco.
Lançado nos anos 1990, Nós Somos os Campeões trouxe Emilio Estevez no papel principal de um filme esportivo poucos anos depois do sucesso adolescente O Clube dos Cinco. Nele, Gordon Bombay (Estevez) é um advogado que acaba de ser condenado a cumprir 500 horas de serviço comunitário, treinando a equipe de hóquei do bairro em que morava quando criança. Misturando o carisma do elenco e a história simples, mas cativante, o longa desdobrou-se para uma trilogia que acompanhou as origens dos Mighty Ducks ao estrelato, representando os Estados Unidos num campeonato no segundo filme e sendo treinados por um ex-craque da National Hockey League, no terceiro.
Em Virando o Jogo dos Campeões, público conhecerá novos personagens, destacando o garoto Evan Morrow (Brady Noon), um dos jogadores do atual time dos Mighty Ducks e sua mãe Alex (Lauren Graham). Embora o piloto não trate a trilogia como necessária para acompanhar a série, há alguns fatores que são interessantes de se notar, mesmo no primeiro episódio, 25 anos depois, os Ducks deixaram de lado uma de suas maiores características: jogar com o coração e por pura diversão. O sucesso subiu à cabeça do time, que hoje é tratado como uma empresa em que as mães e os pais dos pequenos jogadores os tratam como profissionais, com acompanhamento nutricional especializado e treinos sete dias por semana — além de não só abrirem mão do "Quack" de seus antecessores, mas debocharem das tradições do time.
Após ser chutado dos Mighty Ducks, Evan e a mãe decidem formar seu próprio time e partem em busca de um ringue de patinação e um treinador. É então que a série começa a introduzir elementos e personagens da trilogia como easter eggs, que tem Emilio Estevez retornando ao papel de Gordon Bombay como a cereja do bolo. Mais velho, mais rabugento e atual dono de um ringue de patinação, o ex-técnico dos Ducks traz seu pouco carisma como visto no primeiro filme, ainda fazendo referência a uma de suas primeiras falas no longa de 1992: "Eu detesto hóquei e não gosto de crianças", além de fazer referência ao termo cake eater, que seu ex-time utilizava como xingamento no filme um, estrelando boa parte de suas cenas consumindo bolo de aniversários infantis.
O primeiro episódio de Virando o Jogo dos Campeões deixa bem claro que a franquia tomará um novo rumo, permitindo ao público questionar se os Mighty Ducks de fato são tudo isso, como retratados na trilogia — essa oportunidade de deixar o espectador conhecer os dois lados, no entanto, lembra muito o que Cobra Kai fez com Johnny Lawrence, que foi de antagonista nos filmes para um dos personagens mais queridos pelos fãs da série.
Criando um time de "desajeitados", cuja formação remete a clássica e marcante cena final de Sociedade dos Poetas Mortos, a série promete trazer um novo tom para a franquia que era quase sempre ambientada nos ringues, com tiradas leves, mas engraçadas que prometem divertir o público que decidir acompanhar a produção. A diversidade também já está presente no elenco atual, que conta com muito mais personagens mulheres do que a trilogia original (que jogava toda a representatividade feminina nas costas de Julie Gaffney, personagem de Colombe Jacobsen-Derstine) e ainda, em paralelo, trazer críticas à educação rigorosa de pais atualmente que colocam todas as suas expectativas de sucesso nos filhos.
Além disso, sabe-se que a Disney não se limitou a ganhar pela memória afetiva do público apenas com o personagem de Estevez. De acordo com uma entrevista do criador Steven Brill para o Entertainment Weekly, nomes como Elden Henson (Fulton), Matt Doherty (Averman), Vinny La Russo (Adam Banks), Marguerite Moreau (Connie), Garret Henson (Guy) e Justin Wong (Kenny Wu) retornarão para a série no episódio seis, oferecendo um verdadeiro fan service para os fãs dos Mighty Ducks.
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A frustração, no entanto, pode ficar para quem desejava ver um dos mais importantes jogadores do time na série: Charlie Conway (Joshua Jackson), o braço direito do treinador Bombay na trilogia. De acordo com Brill, o ator não teve agenda para comparecer às gravações da primeira temporada, mas há esperanças de que Virando o Jogo dos Campeões desdobre-se em duas ou três temporadas e, assim como Cobra Kai, traga o retorno desses marcantes personagens no programa.
O primeiro episódio da série traz piadas leves e criativas, capazes de tirarem risadas espontâneas da audiência, além de um tom moderno e divertido para a franquia dos Mighty Ducks. Virando o Jogo dos Campeões está disponível no Disney+ e terá episódios semanais às sextas-feiras.