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Crítica Turma da Mônica: Lições | Crescer é difícil, mas não precisa ser ruim

Por| Editado por Jones Oliveira | 16 de Dezembro de 2021 às 18h30

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Paris Filmes
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Quando se trata de algo presente em nossa infância desde... sempre, é quase irracional exigirmos demais de algo que mantemos com muito carinho. A memória afetiva é algo conservado com muito cuidado, protegido. A Turma da Mônica, bem como todos os personagens criados por Mauricio de Sousa, faze parte da memória afetiva de milhões de brasileiros e não há como negar que trazê-los para as telonas é uma difícil tarefa, executada sob muita pressão.

Em Laços, o diretor Daniel Rezende (Bingo: O Rei das Manhãs, 2017 e Ninguém Tá Olhando, 2019) soube bem utilizar a memória afetiva do público sem gerar frustrações. Mergulhando no lúdico da história criada por Lu e Vitor Cafaggi, o primeiro filme trouxe um misto de saudades da infância numa trama de aventura um pouco mais lenta, aproveitando o uso da câmera e seus cortes, justamente para quebrar as expectativas do público que vinham muito depressa.

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Já em Lições, Rezende chega com uma proposta um pouco mais rápida, mas que ainda não tem pressa para usar e abusar do talento de seu elenco e tomar segundos para a captura de expressões faciais e emoções à flor da pele. "É possível crescer sem deixar de ser criança" é a frase que molda todo o roteiro de Mariana Zatz e Thiago Dottori e que o diretor utiliza como pincel, de uma tela cujos contornos já estavam rascunhados pela graphic novel em que é baseada — mas em que as cores e rumos partiram do próprio cineasta.

Falando em cor, a obra aqui é menos vibrante quando comparada à anterior. O Bairro do Limoeiro, ainda que muito colorido, aproxima-se aqui de uma tonalidade mais voltada ao pastel, com bem menos saturação mesmo que o diretor aqui use e abuse de contrastes. A técnica adotada é tão sutil quanto a transição da infância à adolescência, justamente a vivida pelos personagens em tela.

Aqui, Rezende propõe uma reflexão sobre o que de fato é crescer e o seu impacto no ser humano. O uso das cores pastéis é somente mais um exemplo que reafirma a mensagem escolhida para o material promocional do longa bem como uma das últimas falas de Mônica (Giulia Benite), proferida para sua mãe no terceiro ato: crescer não precisa ser ruim ou tomar tons acinzentados. A vida adulta ainda pode ter suas doses de cor, alegria e inocência, por mais que exija certa maturidade.

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A maneira como o cineasta introduz essas reflexões no filme é justamente o que o torna tão leve e apela tanto para o lado emocional — sobretudo dos adultos. Turma da Mônica - Lições pode ser lido como um filme infantil na superfície, mas propõe uma introspecção tão profunda e tão particular que embaça os olhos a medida em que os créditos rolam a tela. É um longa-metragem sobre amadurecimento e também pertencimento; sobre a hora de ir embora e sobre a hora de ficar. Tudo isso maquiado com uma história que tem seus pontos de aventura e ação, mas que são tratados paralelamente para que a emoção de fato tome conta de toda a narrativa.

Eles cresceram

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Quando o primeiro exemplar de Turma da Mônica Jovem chegou às bancas em agosto de 2008, o primeiro contato do público com os novos personagens foi um tanto chocante: de repente, Cebolinha não trocava mais o R pelo L; Mônica não vivia grudada com Sansão, seu coelhinho de pelúcia; Magali não comia tudo o que via pela frente e Cascão tomava banho. Todas as características que tornavam os personagens o que eram até outro dia, na revistinha em quadrinhos, mudaram.

As mudanças podem pegar a gente de forma inesperada, mas Daniel Rezende escolhe aqui em Lições introduzi-las duma forma mais sutil, de um jeito em que o público possa de fato acompanhar o amadurecimento dos personagens. O cineasta trabalha questões mais sérias como a ansiedade em Magali (Laura Rauseo) e a dependência emocional em Mônica (Giulia Benite) de maneira muito delicada, quase didática.

Essa pressão externa para um amadurecimento do dia para noite, vinda dos pais dos personagens, entra em colisão com esses momentos em que cada um se vê numa corda bamba: crescer ao prosseguir, mas deixar todo o lado mágico da infância para trás. "Crescer é difícil, mas não precisa ser ruim", diz Tina (Isabelle Drummond) para Mônica após esta última deixar as frustrações e agonias transbordarem do peito.

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A forma como esse desenvolvimento acontece é o mais interessante de acompanhar. Não há um choque de estranhamento, há apenas um passo maduro em direção não à vida adulta, mas sim ao mais perto de si mesmo: Mônica não é menos Mônica por desprender-se de Sansão, bem como Magali não é menos Magali por controlar o apetite. E principalmente: a Turma da Mônica não é menos Turma da Mônica por agora contar com a distância causada pela mudança de colégio ou por novos amigos chegando na vida de cada um dos baixinhos.

Para aquecer o coração

Ainda que saia do lúdico, Turma da Mônica - Lições ainda serve como um escapismo: Daniel Rezende eterniza nas telonas diversos personagens criados e estampados nas páginas dos quadrinhos em easter eggs tão naturais de serem acompanhados que dificilmente fazem o espectador sair da história pela ansiedade de gabaritar todas as referências colocadas no filme. É uma experiência divertida e capaz de aquecer o coração, sobretudo daqueles que assinavam as revistinhas de Mauricio de Sousa e puderam conhecer uma série de rostos que frequentavam o Bairro do Limoeiro.

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Emocionante, divertido e uma boa pedida independente da companhia no cinema, Turma da Mônica - Lições chega em 30 de dezembro. Garanta seu ingresso na Ingresso.com.