Crítica Spencer | Filme é sobre dor de existir na prisão da própria vida
Por Natalie Rosa • Editado por Jones Oliveira |
A história da família real já não é novidade nos cinemas e na televisão, assim como a vida da princesa Diana. Em mais uma produção sobre o membro da realeza mais popular do último século, Spencer chega aos cinemas brasileiros trazendo um olhar mais dramático e dolorido sobre a pessoa que não se encaixava na vida que tinha.
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A Princesa Diana, no filme interpretada por Kristen Stewart, não se sentia à vontade com a fama, tampouco com as limitações que vieram com a nobreza. Ao se casar com o príncipe Charles, precisou abrir mão da sua liberdade e das coisas que gostava de ter e fazer para seguir com protocolos políticos, além de precisar se apresentar com a perfeição de uma boa esposa e mãe.
Atenção: esta crítica pode conter spoilers de Spencer!
Spencer, dirigido por Pablo Larraín, é uma obra que escolhe se dedicar às vulnerabilidades da princesa Diana em um momento específico de sua vida, se passando durante as férias na fazenda Sandringham, em Norfolk, que pertence à família real. Desde as cenas iniciais, é possível entender se tratar de um longa intensamente dramático e íntimo.
Quem já assistiu a alguma produção que relata a vida de Diana como a Princesa de Gales, sabe que a relação dela com os familiares do marido nunca foi boa, e que isso a consumia diariamente. E não demorou para os dois estarem juntos apenas pelas aparências e sustentando relacionamentos paralelos. Mas, além de precisar lidar com os conflitos do casamento, ela lutava contra outras questões, incluindo distúrbios alimentares.
Bulimia e maternidade
Grande parte dos momentos mais intensos da vida de Diana retratados em Spencer são de seus distúrbios alimentares, provocados por estresse e preocupações com a aparência. Stewart consegue retratar o desespero desses sentimentos com gestos e expressões precisos, sem esboçar qualquer palavra sobre o assunto. As cenas mais impactantes acontecem quando vemos uma sobremesa ser preparada passo a passo para depois a personagem comê-la e provocar o próprio vômito.
Quanto mais adversidades recaem sobre a personagem, mais ela tem necessidade de comer compulsivamente e depois colocar tudo para fora. Enquanto isso, em seus momentos de maior fragilidade, Diana precisava lidar constantemente com funcionários a seguindo e vigiando, o que a impedia de ter privacidade dentro da própria família.
Mas Spencer não nos apresenta somente às vulnerabilidades de Diana, e o filme retrata os momentos mais puros de uma mãe ao lado dos filhos. A maternidade da princesa é mostrada com muita delicadeza nas cenas em que ela está sozinha com os filhos Harry e William. Porém, nem toda essa pureza é agradável, pois o longa deixa claro, no olhar de Stewart, o quanto a personagem queria ser melhor para eles, para que as crianças vivessem sem essas amarras que tanto a machucam.
Fotografia
Ao lado de coadjuvantes tão incríveis, Kristen Stewart brilha em Spencer ao mostrar a agonia de uma pessoa que vive presa dentro de sua própria família, e a fotografia do filme colabora imensamente para passar ao espectador toda a intensidade e carga dramática disso.
O longa opta por não trazer muita nitidez nas imagens, deixando cores sóbrias se mesclando com os tons mais fortes dos trajes escolhidos a dedo para Diana, mostrando que é ela quem brilha.
O longa também acerta nos enquadramentos e montagens, que se encaixam com perfeição nos sentimentos de Diana, seja com ela usando um longo e bufante vestido de princesa enquanto se inclina diante de uma privada para satisfazer seu transtorno, como quando aparece correndo em diversas fases da vida, como se fosse o único momento em que se sentisse livre e sem cobranças.
Spencer está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil; garanta o seu ingresso na Ingresso.com.