Crítica Sede Assassina | Damián Szifron acerta em suspense com crítica social
Por Diandra Guedes • Editado por Jones Oliveira |
Depois de surgir com o seu brilhante Relatos Selvagens, em 2014, o diretor argentino Damián Szifron se rendeu à indústria cinematográfica dos Estados Unidos e lançou, em 2023, seu novo suspense Sede Assassina. O filme é o primeiro da sua carreira feito totalmente em inglês e mostra que, mesmo em outra língua, Szifron sabe bem o que está fazendo.
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Para começar, vale dizer que o longa foi estrelado e produzido por Shailene Woodley, atriz que ficou famosa por estrelar a saga Divergente e longas como A Culpa é das Estrelas e Vidas à Deriva. Aqui, ela vive Eleanor, uma jovem que tenta lidar com traumas do passado enquanto trabalha na polícia local de Baltimore.
Na noite do Ano Novo, no entanto, Eleanor recebe um chamado e descobre que um atirador — com uma mira bem precisa, vale falar — fez 29 vítimas, sendo elas homens e mulheres das mais variadas etnias, cores, alturas ou quaisquer outras características físicas.
É a partir desse ponto que o filme arranca. Sem muita enrolação, a trama acompanha uma corrida contra o tempo para conseguir achar o tal atirador antes que ele faça ainda mais vítimas. Por ser inteligente e ter uma mente que se assemelha à dos assassinos, Eleanor é recrutada pelo agente do FBI, Lammark (Ben Mendelsohn), para participar da investigação.
A partir de então, os dois formam uma dupla que agrada em cena: ela muito morna, fria e observadora, enquanto ele vai no completo oposto, sendo agitado e impulsivo em uma dinâmica em que ambos se completam sem deixar a peteca cair — mesmo quando o texto dá umas derrapadas.
E, por falar nisso, embora algumas cenas sejam mais cansativas, Szifron soube conduzir bem o longa para que o resultado final fosse um filme que prendesse a atenção do público. Embora Sede Assassina não seja inovador ou revolucionário dentro do gênero, o simples fato de o roteiro ser bem construído e amarrado já o coloca bem acima da média — e que o diretor conduz tudo muito bem.
Crítica social é o grande acerto do filme
Além disso, o filme acerta bastante nas suas críticas sociais. Apesar de estarem acostumados a trazer diretores estrangeiros para suas produções, os Estados Unidos não gostam de ter o dedo apontado na cara, e isso justifica algumas avaliações negativas que o filme recebeu da imprensa internacional.
Isso porque o longa de Szifron não se curva ao império estadunidense e, por meio do serial killer, faz uma dura crítica ao consumismo exacerbado estimulado pela sociedade capitalista, além de questionar o modo como o abate de animais para o consumo de carne é feito.
Em certo ponto da história, há um diálogo que chama muito a atenção. Um dos personagens comenta que viajou para um país da América do Sul, cujo café era o grande chamariz. Ao chegar ao local, ele é levado para um Starbucks — rede de cafés estadunidense. A partir disso, ele comenta: “os Estados Unidos pegam tudo que é de bom de um país e o transforma em algo pior”.
É com essa questão em mente que o filme é todo construído, mostrando inclusive uma crítica à imprensa que, por vezes, perde o tom na ânsia de cobrir uma notícia criminal e acaba se perdendo na ética — algo que já vimos aqui no Brasil, não é mesmo? É claro, que isso só foi permitido também porque a polícia tem muitas falhas.
E, uma delas é justamente não confiar na pessoa que foi designada para conduzir o caso; o próprio Lammark, que além de trabalhar tem que ficar se provando a todo momento.
Bem amarrado, Sede Assassina é um suspense que agrada
Por fim, com algumas boas reviravoltas no final, personagens que agradam e um roteiro que se preocupa em ser bom, Sede Assassina tem o que é preciso para valer o ingresso do cinema, e é bom ver Szifron retornando com um bom trabalho, embora não tão inesquecível como o seu Relato Selvagem.