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Crítica | Missão Pijamas é bobo e inofensivo

Por| 28 de Agosto de 2020 às 08h19

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Divulgação/Netflix
Divulgação/Netflix

É muito comum encontrar justificativas limitantes para filmes direcionados ao público infantil, como se, para entreter as crianças, os apelos da produção precisassem ser infantiloides. Missão Pijamas (disponível na Netflix) é, de fato, algo pouco abrangente na questão da faixa etária e dificilmente proporcionará entretenimento além do mediano ou até medíocre para adultos.

Por outro lado, isso não significa que o filme não tenha força junto ao seu público alvo. Se, na idade adulta, já existe uma noção de clichês e conveniências, cada reciclagem de situações do roteiro da estreante Sarah Rothschild pode funcionar como mágica para os mais novos. Resoluções inverossímeis (os famigerados dei ex machinis) surgem, assim, com um grau de emoção muito mais forte para os pequenos do que para quem já desenvolveu um certo ceticismo.

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Atenção! Esta crítica contém spoilers sobre o filme!

Universo (in)coerente

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Situações com crianças amarrando um adulto (Henry — interpretado por Erik Griffin) com luzinhas de árvore de natal e uma mangueira; essas mesmas crianças partindo para salvar os pais de um sequestro e, no caminho, ainda conseguindo convenientemente algemar quem poderia ajudar (Jay — interpretada por Karla Souza); Ron (Ken Marino) agindo como um completo tonto em meio a uma situação arriscada... tudo, por mais que seja frágil, tem (ou poderia ter) um ar descomprometido e mágico.

Nesse sentido, o problema não é o roteiro de Rothschild, que segue as conveniências sem muito pudor, podendo divertir com suas inverossimilhanças. O que acaba por dar a Missão Pijamas um prazo de validade quase instantâneo é a direção de Trish Sie (de A Escolha Perfeita 3 — filme de 2017). A diretora parece disposta a somente transformar o texto em imagens, sem colocar a sua visão sobre o que é contado. É quase como colocar uma história infantil para ser lida pelo Google Tradutor: todos os elementos textuais estarão presentes, mas as emoções que poderiam ser maiores e causar mais impactos perdem-se na contação destituída de emoções.

O filme de Sie, por essa perspectiva, pode trazer à tona o quanto outras produções direcionadas às crianças podem ter um efeito de experiência muito mais significativo. A quadrilogia Pequenos Espiões, por exemplo, demonstra um trabalho autoral do seu criador, Robert Rodriguez, que vai muito além do roteiro. Até mesmo 3 Ninjas (de Jon Turteltaub, 1992), que traz três meninos lutando contra adultos, consegue ter mais força e, inclusive, construir um universo próprio mais coerente.

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É válido

Missão Pijamas, além disso, por mais que desde o princípio exponha a sua intenção de ser um filme para crianças, não investe somente no elenco mirim. A participação de Joe Manganiello (o Leo) é a base de uma subtrama adulta que envolve ciúme e traição. Sie, pelo menos, busca deixar tudo menos sério — e até consegue graças ao espalhafatoso e exagerado Ron —, mas esse espaço acaba por permitir que a atenção se divida entre os dois núcleos (o infantil e o adulto). O todo, então, pode passar a ser interpretado, exatamente, como infantiloide, dada às atitudes acriançadas de um adulto em meio a outros adultos.

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No final das contas, talvez estejamos lidando com somente mais um filme para rechear a grade da Netflix, desses que não demorará a ser esquecido. Claro que é sempre válida a existência de filmes do tipo, porque, de repente, com a cabeça cheia, pode ser que a única coisa que queremos seja assistir a algo bobo e inofensivo para passar o tempo. Missão Pijamas pode ser esse filme: bobo, inofensivo e com algum carisma para segurar por uma hora e quarenta minutos.

De resto, pode ser que nem mesmo as breves lições sobre autoestima, coragem e confiança sobrevivam. Falta magia... e, em um filme como esse, falta, justamente, infância.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech