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Crítica | Do Fundo do Mar 3 é um avanço em relação ao seu antecessor

Por| 22 de Agosto de 2020 às 09h30

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Divulgação/Warner Bros
Divulgação/Warner Bros

Do Fundo do Mar (de Renny Harlin, 1999) havia retomado a juventude de um subgênero querido por tanta gente. Os filmes-de-tubarão pareciam voltar à tona com mais força naquele final de século XX. Pouco mais de duas décadas antes, Steven Spielberg alcançava um inesperado sucesso com o filme que viria a se tornar um clássico. Tubarão (de 1975) não somente abriu espaço para seus descendentes como modificava o cinema e estabelecia padrões para o terror ecológico, que conta com, além dos predadores marinhos, piranhas (vide Piranha, de Joe Dante, 1978), cobras (vide Anaconda – de Luis Llosa, 1997) e tantos outros...

Claro que, com a enxurrada de filmes que embarcaram no sucesso do primeiro blockbuster, surgiriam alguns medonhos (no mau sentido). É natural. Por essa perspectiva, Do Fundo do Mar trouxe mais do que terror e discussões pertinentes (rasas ou não): a direção de Harlin, já testada em filmes de ação e aventura como Duro de Matar 2 (1990), Risco Total (1993) e A Ilha da Garganta Cortada (1995), trouxe agilidade e uma certa competência não direcionadas ao gênero de origem.

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Atenção! Esta crítica contém spoilers sobre o filme!

O retorno

É uma pena, portanto, que a sequência imediata – e tardia – (Do Fundo do Mar 2 – de Darin Scott, 2018) vá na contramão do alcançado pelo filme de 1999 e entregue-se a situações grosseiras e a efeitos visuais que, mesmo depois de 19 anos, são uma regressão. Para os amantes do subgênero, pode ser quase impossível assistir àquele filme de Scott e não pensar em sua aproximação involuntária ao terrir trash que é Sharknado (de Anthony C. Ferrante, 2013).

Então, dois anos depois, Do Fundo do Mar 3, mesmo que não tenha o frescor do primeiro, demonstra o desejo de retornar às origens. Para isso, a produção volta a um diretor com uma mínima experiência em ação, John Pogue (de Blood Brother, 2018), e a história aparentemente recebe um fôlego extra. Além disso, o roteirista Dirk Blackman (de Anjos da Noite: A Rebelião) consegue dar agilidade aos fatos e fazer a coisa andar desligando-se do anterior ao mesmo tempo em que segue os acontecimentos passados.

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Mas é Pogue quem, de fato, consegue estruturar o filme de maneira a, pelo menos, ser um aviso de que existe a chance de a franquia se estabelecer como promissora. O retorno, nesse sentido, da ação mais intensa, das explosões, em detrimento de um confinamento à la Alien – O 8º Passageiro (de Ridley Scott, 1979) fundamenta um nicho dentro da ideia de filmes-de-tubarão.

Tentando sair do limbo

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Por outro lado, ao se levar a sério (diferente do citado Sharknado), Do Fundo do Mar 3 pode sofrer com algumas inconsistências. As discussões sobre mudanças climáticas e todo o mal causado pela humanidade, por exemplo, podem acabar se tornando comentários soltos e frouxos em meio a situações inverossímeis. E, ao comentar sobre a inverossimilhança, não digo sobre os tubarões inteligentes ou sobre a ciência empregada nessa temática – isso faz parte do universo do filme. A questão é a instabilidade tanto da história quanto dos personagens.

Se um personagem é construído como mocinho e, com uma justificativa repentina e sem qualquer preparação, acaba se tornando um vilão com vontade de explodir loucamente a tudo e a todos, algo pode parecer gratuito demais. A ação pela ação, a destruição pela destruição, então, é um artifício barato para causar impacto e dinamizar o entretenimento. É, no fundo (e no raso também), uma ferramenta dramatúrgica desorientadora e que desvia a atenção de algo sem sentido para fogos de artifício.

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Essa aposta de Do Fundo do Mar 3, infelizmente, pode desconstruir os dois primeiros atos do filme. Mesmo com um elenco muito aquém do filme de 1999 (que contava, inclusive, com Samuel L. Jackson), a dinâmica dos dois primeiros terços funciona e pode divertir. O revés está nas resoluções. Talvez sabendo disso, Pogue invista o que sabe de ação nos momentos mais comprometedores, o que pode soar como enganação voluntária e, para parte do público, agravar, justamente, a sensação de estar sofrendo um calote.

De todo modo, é possível se entreter e assistir aos curtos 99 minutos de duração sem sentir o todo como ofensivo. Pode ficar longe de ser um bom filme ou de chegar a ter o frescor do original, mas é um avanço significativo em relação ao tosco segundo capítulo e abre possibilidades para que exista um quarto episódio mais consciente de si. De repente, com uma direção mais habilidosa, surge um filme que venha a ressuscitar, novamente, um subgênero que, depois do clássico de Spielberg, caiu em um limbo de mediocridade.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech