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Crítica | Clouds e o dom da vida, por mais breve que seja

Por| 01 de Fevereiro de 2021 às 09h06

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Disney
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"Colham os botões de rosas enquanto podem, o velho Tempo continua voando / E esta mesma flor que hoje lhes sorri, Amanhã estará morrendo", escreveu o poeta inglês Robert Herrick no século XVII, no poema Para as Virgens, que Aproveitem o Tempo. A obra, mais tarde, tornou-se a maior referência do termo carpe diem, que em latim, significa "aproveite o dia", uma filosofia que corresponde à brevidade da vida e como tudo pode deixar de pertencer a nós em um sopro.

A vida já foi tema de diversos filmes nas mais diferentes narrativas. Desde Soul, animação da Pixar que mergulha na filosofia ao refletir sobre propósito aos mais elaborados, como O Show de Truman, A Árvore da Vida e A Vida Secreta de Walter Mitty entre outros. Falar sobre isso, no entanto, pode deixar uma impressão de "assunto batido" se não bem explorado e retratado, e em Clouds, mais recente lançamento do Disney+, a questão é trazida à tela seguindo o pensamento de Herrick.

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Atenção! A partir daqui o texto pode conter spoilers do filme Clouds. Leia por sua conta e risco.

É com muito movimento e pressa que inicia o drama inspirado em acontecimentos reais Clouds, acompanhando o jovem Zach Sobiech (Fin Argus, que vive seu primeiro protagonista) a uma apresentação musical diante da escola em que estuda. Com a ajuda de muletas e um gorro para disfarçar a ausência de pelos no rosto e cabeça devido à quimioterapia, o aspirante a músico consegue entregar, mesmo em poucos minutos, um resumo de toda a sua personalidade: carisma, descontração e acima de tudo, uma pessoa amigável e disposta a ajudar os amigos sempre.

Mas um dia, minutos antes de ir para um encontro com Amy (Madison Iseman), sua garota dos sonhos, que Zach vê todo os motivos para continuar sendo o jovem alegre e divertido irem por água abaixo: após uma cirurgia de emergência, seus pais são informados de que o câncer que lutava há anos não foi completamente curado e atingiu seu pulmão, tornando-o um paciente terminal.

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A partir daqui, o mérito para retratar com tamanha sensibilidade diversas cenas é todo do diretor Justin Baldoni, que já comandou outra produção que emocionou o público em 2019, o longa A Cinco Passos de Você. Contando com a ajuda de Laura Sobiech, mãe de Zach na realidade durante toda a produção, o cineasta conseguiu capturar e retratar detalhes essenciais da vida do jovem que acabaram sendo cruciais para a conclusão do filme.

Vale destacar também o roteiro de Kara Holden que teve insights fundamentais na produção, como a cena em que, logo após Zach receber a notícia que lhe resta poucos meses de vida, seu professor pede para que a turma escreva uma redação com motivos e o que eles mais querem fazer na faculdade. Embora o personagem tente permanecer alegre, o filme retrata com sensibilidade e clareza os dois extremos que um paciente terminal pode passar em poucos minutos e como acontecimentos assim podem ser gatilhos para uma crise do tipo.

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É entre essas crises de extremos que Clouds segue, com o protagonista variando entre a alegria e o sentimento carpe diem e voltando ao fundo do poço, pensando no pouco tempo que lhe resta. Em paralelo, o filme ainda explora em seus 120 minutos todas as relações de Zach na tela, reservando um tempo para que cada um de seus amigos e familiares possam ter a despedida propícia.

Essa filosofia de "aproveitar o dia" fica muito mais forte quando, junto à melhor amiga Sammy (Sabrina Carpenter), Zach resolve dar início ao sonho de ser um músico. Gravando vídeos caseiros, a dupla A Firm Handshake publica suas canções na internet despretensiosamente, mas que acabam ganhando notoriedade do público e mais tarde assinando com um selo musical.

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É num palco que o espectador vê pela primeira vez e se despede de Zach Sobiech, com duas horas de desenvolvimento entre esses dois momentos. Assim como diversos filmes da Disney, Clouds possui muita música, mas graças ao diretor, as canções acabam entrando como um terceiro personagem na trama, muito além de fazer parte apenas da trilha sonora.

Vale destacar também o cuidado de desenvolver os demais personagens que, embora girem em órbita de Zach (e possuem, claramente, apenas esse intuito), não ficam esquecidos na trama. Os pais Rob (Tom Everett Scott) e Laura Sobiech (Neve Campbell), as irmãs Grace (Summer H. Howell) e Alli (Vivien Endicott-Douglas) e o irmão Sam (Dylan Everett) possuem arcos próprios que vão além da relação com Zach, criando praticamente um universo dentro do próprio filme em que fica nítido para o público como a situação terminal do protagonista afetou a vida da família em todos os setores — muito disso vem da presença de Laura Sobiech na parte criativa do filme.

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Clouds é uma carta de amor a si próprio, mas principalmente à vida; um retrato de uma rede de apoio e uma mensagem que, embora não se reinvente dos clichês do gênero e não se mostre uma produção digna de premiações, gera reflexão por horas a fio. O filme promete emocionar mesmo antes de chegar ao clímax, com cenas intimistas e acolhedoras que, ao final, a morte previsível de Zach acaba tornando-se uma perda do próprio espectador.

Dirigido por Justin Baldoni e estrelado por Fin Argus, Sabrina Carpenter, Madison Iseman, Neve Campbell, Tom Everett Scott e Lil Rel Howery, Clouds está disponível no Disney+.