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Crítica | Bill & Ted: Encare a Música é nostálgico e leve com seu humor curioso

Por| 10 de Setembro de 2020 às 09h17

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Imagem FIlmes
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É complicado quando uma continuação de uma produção cultuada em seu meio surge tanto tempo depois. 29 anos separam Bill & Ted: Dois Loucos no Tempo (de Peter Hewitt, 1991) e Bill & Ted: Encare a Música. Parece ser ainda mais difícil quando o novo é uma terceira parte, visto que o original, Bill & Ted: Uma Aventura Fantástica (de Stephen Herek, 1989), é fruto de uma década muito característica para o cinema de comédia.

Acontece que Bill & Ted: Encare a Música, por mais que parta dessa dificuldade estrutural, tem uma aliada fundamental: a nostalgia. A partir dela, tudo pode receber outro olhar por parte do público e atingir o coração dos fãs com muito mais facilidade. Mas, além desse sentimento que só o tempo é capaz de trazer, existe um certo ar de novidade que o tempo traz. Durante essas três décadas, praticamente, Keanu Reeves acabou se tornando uma espécie de ícone nada abobalhado: Velocidade Máxima (de Jan de Bont, 1994), Matrix (das irmãs Wachowski, 1999), De Volta ao Jogo (de Chad Stahelski e David Leitch, 2014)... Ele, então, acaba trazendo uma certa curiosidade aos seus fãs mais novos, que podem estranhar o ator interpretando um sujeito como Ted.

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Atenção! Esta crítica contém spoilers sobre o filme!

Passando o bastão

Bill & Ted: Encare a Música, assim, consegue conciliar nostalgia e curiosidade com a aparente despretensão de estilo do diretor Dean Parisot (de RED 2: Aposentados e Ainda Mais Perigosos — filme de 2013). Ao mesmo tempo em que ele (Parisot) dá seguimento ao filme sem forçar a barra em construções imagéticas mirabolantes, há um respeito muito inteligente no trato com os protagonistas. Nesse sentido, pode ser interessante perceber como a câmera do diretor, quase sempre, permanece um pouco abaixo da altura dos olhos da dupla, em um contra-plongée que dá uma grandeza sutil e revela de maneira sensível a importância deles dentro do filme.

É como se Bill (Alex Winter) e Ted estivessem fechando um ciclo e, de repente, passando o bastão — como em uma corrida de revezamento. Nesse caso, Parisot talvez esteja apostando que esse bastão está caindo nas mãos das filhas (antes filhos) Thea e Billie (Samara Weaving e Brigette Lundy-Paine respectivamente), que, ao contrário dos já icônicos personagens, são mostradas, em boa parte do filme, a partir de um ângulo pouco acima dos olhos (em plongée delicado) ou ao nível deles, que, em meio à linguagem da direção, acaba por ser eficiente para resguardar o segredo a vir com a resolução do terceiro ato.

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Imagine

Em meio a um trabalho de direção quase invisível, mas que consegue impor um olhar verdadeiro sobre o filme, o roteiro de Chris Matheson e Ed Solomon (ambos dos dois primeiros) utiliza sem pudores o que já estava firmado anteriormente e consegue, ainda, trazer elementos novos e urgentes. Por essa perspectiva, o humor inocente dos trabalhos de 1989 e 1991 permanece, mas é atualizado justamente pelo tempo. A arte imita a vida tanto quando a vida imita a arte.

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Simultaneamente, essa atualização não diz respeito a algo exclusivo da atualidade. A união entre os povos como salvamento da humanidade é uma necessidade recorrente através da História. Quando, em certo ponto, Thea e Billie viajam para a década de 1960, inclusive, pessoalmente imaginei que estavam à procura de John Lennon cantando Imagine: “Imagine todas as pessoas vivendo o presente.”; “Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz.”; “Imagine todas as pessoas compartilhando o mundo inteiro.”... mas essa música específica só seria lançada em 1971 — 49 atrás e sempre urgente.

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Discordar

Bill & Ted: Encare a Música consegue, no final das contas, ser nostálgico; divertido como seus antecessores; curioso (e talvez estranho) para quem não assistiu àqueles filmes e para quem está acostumado com Reeves na pele de John Wick; inocente e otimista — o que pode trazer alguma paz momentânea —; e competente no humor ao qual se propõe. Aliás, como não existe uma música que una povos e tempos e nem nada que consiga fazer isso, é claro que o filme pode desagradar a uma parcela do público.

Mas isso é normal e discordar é algo especialmente necessário para uma futura união. Tudo muito utópico, sem dúvidas, mas é sempre bom sonhar com um mundo mais justo, construído na base da equidade, e, sobretudo, tão humano quanto Bill e Ted; Thea e Billie; Elizabeth (Erinn Hayes) e Joanna (Jayma Mays); Morte (William Sadler)... e um robô (Anthony Carrigan) hilário que, enfim, aprende a ser exatamente humano por meio da culpa. Torçamos para que o caminho de Dennis Caleb McCoy não seja o que nos resta.

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*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.