Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Ciclos climáticos e geração de Energia no Brasil

Por| 08 de Janeiro de 2014 às 17h09

Link copiado!

Ciclos climáticos e geração de Energia no Brasil
Ciclos climáticos e geração de Energia no Brasil

A humanidade ainda é jovem. O homem moderno está sobre a face a Terra há apenas algumas dezenas de milhares de anos, e por mais que tenhamos dominado muitas forças da natureza, adquirido conhecimento e tecnologia, ainda há muito para descobrir.

Um desses mistérios são os ciclos climáticos naturais. Gostaria de evidenciar o termo “naturais” pois a ideia desse artigo não é tratar de mudanças no clima associadas com a presença e a interferência do homem na natureza: mudanças climáticas, efeito estufa e aquecimento global.

Ciclos naturais são aqueles que possuem uma certa sazonalidade, com periodicidade quase que constante. Um exemplo típico são as estações do ano. Um ciclo bem conhecido e estudado é o El Niño/La Niña, cujo aquecimento/resfriamento das águas do Pacífico afetam o clima em nível Global, e que tem uma periodicidade média entre 3 e 7 anos.

Outro ciclo também conhecido pela humanidade são as Eras Glaciais, ou Eras do Gelo. A cada 100.000 anos, aproximadamente, temos um período de muito calor, intercalado por um período de baixas temperaturas, que acabam provocando a chamada “Era do Gelo”. O gráfico abaixo (linha azul) mostra a variação das temperaturas médias globais desde 400.000 anos atrás até o presente:

Continua após a publicidade

Já há 20 mil anos estamos num processo de aquecimento, processo esse que teve início mesmo sem a interferência do homem moderno. Será então que o chamado “Aquecimento Global” é um processo natural? Deixemos essa discussão “calorosa” para outro artigo.

Mas então qual a importância no dia-a-dia de conhecermos esses ciclos naturais do clima? Alguns deles têm interferência direta na economia e desenvolvimento de inúmeros países. Tendo conhecimento prévio dessas variações, permite se antecipar e se preparar estrategicamente para as mudanças, que muitas vezes, são radicais.

Alguém se lembra de toda a discussão que tivemos no início de 2013 sobre a possibilidade de racionamento de água e apagão aqui no Brasil? Eu me lembro muito bem, pois tivemos que monitorar, acompanhar e prever os volumes de chuva e níveis dos reservatórios no Brasil. Tudo isso porque dependemos quase que integralmente da chuva para geração de energia em nosso país. Pouca chuva significa baixos níveis nos reservatórios, pouca geração de energia, elevação nos preços, possibilidade de racionamento e apagão. Muita chuva, excesso de energia, e uma situação muito mais confortável, tanto para as empresas geradoras como para nós, consumidores.

Continua após a publicidade

O fato é que nos últimos 28 meses as chuvas observadas e acumuladas nas Bacias Hidrográficas do Brasil estão abaixo da média. Não se trata de um ou outro mês mais seco, o que seria normal para um país tropical como o nosso. Mas estamos há mais de 2 anos com volumes acumulados de chuva inferiores aos registrados nos últimos 30 anos.

E qual o fator climático associado a esses baixos volumes? Trata-se de um outro ciclo natural, chamado “Oscilação Decadal do Pacífico” (ODP). Como o próprio nome diz, é um ciclo com periodicidade na ordem de décadas, associado a diferentes padrões de temperatura do Oceano Pacifico, que assim como o El Niño/La Niña, também afetam o clima em todo o planeta.

Fases “quentes” da ODP, de forma geral, estão associadas a maiores volumes de chuva sobre o Centro-Sul do Brasil. Enquanto que fases “frias” provocam menores acumulados anuais. E em que momento estamos do ciclo ODP? Justamente no início de uma fase fria. O gráfico abaixo ilustra as variações das últimas décadas:

Continua após a publicidade

Como o ciclo tem duração média de 20 a 30 anos, isso significa que temos pelo menos mais duas décadas de uma fase fria de ODP, com acumulados anuais de chuva inferiores do que foi observado entre as décadas de 80 e 90 (fase quente da ODP). Com isso aumenta o risco de uma crise energética nos próximos anos. Certamente existem alternativas de energia, que não dependem da água: queima de carvão e combustíveis fósseis, e aquelas mais ecológicas, como a Energia Solar e a Eólica.

Existem atualmente grandes projetos de investimento no Brasil, principalmente em Energia Eólica. Eu sempre digo que o homem tem uma grande capacidade de adaptação, ainda mais com o crescimento tecnológico nas diversas áreas.

Mais uma vez fica claro que as forças da natureza e seus ciclos têm um ligação bastante estreita com todos nós. Cabe a nós respeitá-las e usar da melhor maneira todos seus limitados recursos.

Willians Bini Fez Graduação e Mestrado em Meteorologia na Universidade de São Paulo e hoje é sócio da empresa Somar Meteorologia, onde trabalha com modelagem atmosférica e projetos de consultoria ambiental.