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Do novo ao usado: o ecossistema de consumo na década da sustentabilidade

Por  • Editado por  Renato Santino  | 

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Envato/rawf8
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Por Andries Oudshoorn*

Por muito tempo, a compra de usados no Brasil se restringia a automóveis e imóveis, no entanto, na última década esse hábito vem se transformando, tendo como motivador as vantagens econômicas e a sustentabilidade. Esse é um mercado em crescimento em todo o mundo. Uma pesquisa da Global Data mostra que o mercado de segunda mão deve atingir US $64 bilhões nos próximos cinco anos, ultrapassando o segmento de vendas tradicionais até 2024 e a expectativa é que o segmento de revendas se quintuplique nos próximos cinco anos.

Este crescimento é apoiado na mudança de hábito da população, que passa a enxergar as vantagens da compra de usados, com a possibilidade de comprar itens praticamente novos com valores até 68% mais barato que similares novos e apoiado por novas gerações que tomam decisões baseadas mais no uso do que na propriedade de itens, com mais força para a chamada economia circular, incluindo na conta, uma maior preocupação com o meio ambiente e a redução das emissões de carbono na atmosfera.

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Esse cenário indica um momento de transição, de mudança de comportamento, com grande espaço para o mercado de segunda mão com oportunidades de inovação e de crescimento sustentável.Uma pesquisa do IBM Institute for Business Value (IBV) realizada com quase 15 mil pessoas em oito países, além do Brasil, indica que 66% dos brasileiros estão dispostos a mudar seus hábitos de consumo para reduzir problemas ambientais. Tendência também analisada num estudo do Capgemini Research Institute, no qual 79% dos consumidores dizem estar mudando as suas preferências de compra com base em critérios de responsabilidade social, inclusão e impacto ambiental.

Embora a adesão ao consumo de produtos usados estivesse, por muitos anos, somente atrelada à salvaguarda das finanças pessoais, hoje o mercado já caminha para atingir e atender outros perfis de consumidor. A possibilidade de gerar renda extra como uma alternativa à economia doméstica sempre foi e é um critério importante, mas o impacto da sustentabilidade no consumo consciente e responsável e a busca pelo melhor custo-benefício na aquisição de peças autênticas e singulares já ganham destaque.

Dada a relevância econômica e social que se descortinou com o impacto da pandemia na sociedade, esses critérios ficaram mais evidentes. É o que aponta a pesquisa, Brasil Digital: Itens Parados em Casa, que identificou que muitos brasileiros encontraram, durante a pandemia, no mercado de seminovos e usados, oportunidades de compras com o melhor custo-benefício, ou de vendas, para gerar renda extra. Dentre os participantes, 39% afirmaram que já compraram produtos usados e 45% deles tiveram essa primeira experiência durante a pandemia. O resultado mostra também que a pandemia não somente acelerou o hábito de comprar online, como também impulsionou ainda mais o hábito de comprar usados. Antes da pandemia, a preferência por produtos novos era maior entre aqueles que realizavam compras pela primeira vez pela internet: 60%, contra 54% de interessados por itens de segunda mão.

O consumidor está se movimentando para um mercado que agrega valores e entrega vantagens, agora, indispensáveis. Especialmente os mais jovens, da geração Z, mais propensos a integrar a circularidade e a sustentabilidade no seu perfil de consumo. É o que aponta um levantamento realizado este ano pela ONG americana DoSomething: quase metade deles (47%) comprou produtos usados, enquanto mais da metade (55%) vendeu itens de segunda mão. Em outras palavras, as atividades de compra e venda de produtos usados já despontam como um marco competitivo da economia circular, uma “oportunidade de um trilhão de dólares”, segundo pesquisa da World Global Style Network (WGSN), maior autoridade de previsão de tendências do mundo.

Além de impactar a atividade humana, a economia circular, ao gerar novos ciclos de vida, funcionalidade, uso e reuso de produtos, beneficia diretamente o meio ambiente. Segundo um relatório da Circle Economy, grupo apoiado pela ONU Meio Ambiente, apenas 9% da economia global é circular, o que significa que o planeta reutiliza menos de 10% das 92,8 bilhões de toneladas de minerais, combustíveis fósseis, metais e biomassa usados todos os anos em processos produtivos. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam, ainda, que a utilização global de materiais triplicou nos últimos 50 anos, e podem dobrar até 2050 se nada for feito para reverter esse processo.

No Brasil, em 2020, as transações de compra e venda de usados na maior plataforma do segmento no Brasil, evitou que 6,28 milhões de toneladas de CO2 fossem emitidas na atmosfera, segundo o Second Hand Effect desenvolvido em parceria com o Instituto Ethos. Este volume de gases, capaz de provocar o efeito estufa, é o equivalente ao total de emissões geradas por viagens de ponte aérea realizadas por aproximadamente 11,4 milhões de pessoas, em deslocamentos de ida e volta entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Assim como já observado em outros países, o mercado de usados tem grande potencial para geração de renda e na conscientização de hábitos de consumo mais sustentável no Brasil, com oportunidades para todos os atores dessa cadeia de valor e com resultados com impactos tanto imediatos como a médio e longo prazo, visando hábitos mais conscientes e com ganhos para a sociedade e para o planeta.

*Andries Oudshoorn é CEO da OLX Brasil

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