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Trend de crianças falando palavrão no TikTok preocupa psicólogos

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Timothy Eberly/Unsplash
Timothy Eberly/Unsplash

Talvez nesta semana você tenha se deparado com vídeos de crianças falando palavrão no banheiro, por conta de uma trend que começou nos EUA e agora é reproduzida no Brasil: Bad Word Bathroom Challenge (Trend do Palavrão no Banheiro). Nos vídeos que ficaram populares principalmente no TikTok, os pais permitem temporariamente que os filhos falem palavrões, naquele ambiente considerado "seguro". No entanto, os psicólogos não gostaram da ideia.

A ideia pode soar para alguns pais como a oportunidade de deixar que os filhos se expressem, "só daquela vez", sem consequências. O resultado é uma série de vídeos com crianças confusas, mas que seguem a onda e soltam os palavrões que por muito tempo foram ensinados como errados. Os registros têm conquistado milhões de visualizações, e dividido opiniões na internet.

Sob a ótica dos psicólogos, essa é uma tática problemática, que na verdade traz malefícios para as crianças. A autora do livro Fostering Connection: Building Social and Emotional Health in Children and Teens opina, em entrevista à revista norte-americana Parents, que é uma contradição chamar isso de espaço seguro, sugerindo que usar palavrões possa ser algo seguro em algum momento.

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Palavrão no Banheiro: por que é errado? 

Segundo a psicóloga, deixar que a criança grave um vídeo falando palavrões pode ser negativamente impactante para o desenvolvimento social e emocional. O público infantil ainda está construindo o discernimento do que é certo e o que é errado, então esse comportamento gera confusões.

A problemática, então, é que o desafio incentiva a criança a dizer essas palavras e obter validação porque os pais estão filmando. Usar crianças para conteúdo nas redes sociais, especialmente quando os pais as envolvem em desafios de hashtags virais, pode ter vários danos que vão desde violações de privacidade até efeitos psicológicos.

Em entrevista ao Canaltech, a psicóloga Patrícia Guillon Ribeiro — professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) — alerta que as crianças aprendem aquilo que elas vivenciam. "As crianças não têm condição de discriminar quando podem e quando não podem". Para ela, a prática incentivada nos vídeos "deixa a criança imensamente confusa e atrapalhada" e "reforça o papel da agressividade".

Sob o ponto de vista da psicóloga, ao receber esses estímulos de falar palavrão, ainda que nesse contexto muito pontual, a criança pode desenvolver um papel agressivo da ausência do respeito, da empatia. "A criança que vai entender que é engraçado utilizar palavras ofensivas, mesmo que sejam ao léu, que não tenha necessidade de atingir uma outra pessoa. Isso compromete a integridade e o desenvolvimento emocional", afirma.

Para Patrícia, o momento em si também não é nem um pouco favorável: "A gente tem vivido um fenômeno pós-pandemia de muita agressividade dentro das escolas. As crianças não sabem lidar com emoções desagradáveis. O cenário é prejudicial para o desenvolvimento dessa nova geração", completa.

Exposição

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Em paralelo aos malefícios psicológicos, existe o problema da exposição. Como algumas das crianças do vídeo são muito novas para entender a dimensão da internet, não há uma espécie de consentimento acerca da disseminação de sua imagem. Então há uma violação de sua privacidade, querendo ou não.

O alerta dos especialistas é que essa prática deixa uma pegada digital. Como você já deve imaginar, o conteúdo na internet é eterno. Remover completamente um material online é quase impossível a essa altura, e a criança se depara com um registro que pode não querer no futuro. Para se ter um parâmetro, esses vídeos chegam a milhões de views, e ninguém sabe direito como será a repercussão. A criança pode virar alvo de chacota, o que geraria problemas de autoestima.

Mas a exposição de crianças na internet tem um buraco muito mais embaixo, pois nunca se sabe quem está do outro lado. A publicação excessiva de conteúdos infantis já tem até nome: sharenting. E pode levar a consequências sérias.

Por isso, pode ser bom levar a mão à consciência antes de aderir à trend de crianças falando palavrão — ou ao envolver seu filho em qualquer desafio de TikTok, na verdade. 

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Fonte: Parents, The New York Post, Dexerto