Estudo indica que escolhemos nossos amigos pelo cheiro
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Cientistas israelenses descobriram que pessoas com cheiros parecidos têm mais chances de se tornarem amigos. Segundo o estudo, os odores corporais entre pessoas com laços de amizade são 20% mais similares que o de pares de pessoas aleatórias. Apesar de ser comumente subestimado nesse campo, aparentemente o olfato tem um papel importante na formação e manutenção de laços sociais.
- Qual é o melhor cheiro do mundo? Cientistas têm a resposta!
- Percepção do cheiro pelo cérebro funciona como notas musicais, dizem cientistas
Entre os mamíferos, o uso dos cheiros é comum na hora de definir amigos ou inimigos, mas a função do olfato e do odor corporal para os humanos é, de modo geral, desconhecida. Mesmo assim, segundo os cientistas, estamos constantemente cheirando a nós mesmos e a outros humanos — geralmente de forma inconsciente. O estudo foi publicado na revista científica Science Advances.
Cheiro de amizade
Para a pesquisa, foram analisados os odores corporais de 10 amigos do mesmo sexo que reportaram ter formado uma conexão instantânea entre si quando se conheceram, ou "dado um click", no termo dos cientistas. Similaridades entre os cheiros foram coletadas através de um nariz eletrônico — um dispositivo com 10 sensores semicondutores de óxido metálico sensíveis a substâncias voláteis, como aromas álcool ou compostos sulfúricos.
Enquanto os cheiros de amigos foram categorizados como mais similares do que o de pares aleatórios, o nariz eletrônico não conseguiu definir quais moléculas de odor seriam responsáveis por essa ligação. Apesar de não conseguir definir um fator que explicasse a semelhança dos odores, os pesquisadores conseguiram prever se estranhos teriam interações sociais positivas com base em seus cheiros corporais com 71% de precisão.
Os cientistas convidaram 17 pessoas para um jogo não-verbal: destes, quem cheirava mais parecido teve chances maiores de ter "clicado". Ainda assim, os pesquisadores lembram que o odor não é o único fator na formação de amizades: apenas se descobriu que ele é mais importante do que se pensava na mediação de percepção social e laços sociais.
Uma teoria acerca da descoberta diz que, mais do que comparar subconscientemente os cheiros das pessoas que encontramos, é possível que um mecanismo genético nos deixe com receptores olfativos mais parecidos com os dos nossos amigos: em outras palavras, cheiramos o mundo de forma parecida com a deles.
Pesquisar cheiros, dizem os cientistas, é difícil: isolar o odor de outras variáveis, apesar de ajudar na pesquisa, não gera o ambiente ideal para descobertas sociais. Ninguém está andando na rua, sente um cheiro bom e diz à pessoa com esse odor que gostaria de começar uma amizade. Os contextos sociais, como experiências ou atividades compartilhadas, são os lugares onde amizades são formadas.
O próximo passo será verificar a causalidade entre os mecanismos subjacentes. Já que odores corporais são relacionados à genética, de uma perspectiva evolucionária, pode ser que amigos com cheiros similares são escolhidos porque tanto seus genes quanto o dos seus futuros filhos serão parecidos com os nossos — assim, instintivamente, sentimos essa proximidade e vontade de preservar esses genes. Se isso é verdade, futuras pesquisas dirão.
Fonte: Science Advances