Mulheres em startups e tecnologia: como melhorar o cenário?
Por Mariane Takahashi |
O Dia Internacional da Mulher passou há algumas semanas, o que me fez pensar se ainda estava em tempo de falar sobre o assunto, mas logo percebi que estava caindo no mesmo erro que o mundo corporativo insiste em cometer: ações de igualdade de gênero não podem estar restritas ao dia 8 de março. Precisamos continuar falando (e principalmente agindo) sobre isso ao longo do ano.
Hoje ocupo o cargo de CEO da Associação Brasileira de Startups, que também tem uma presidente mulher e uma diretoria composta majoritariamente por mulheres. Mesmo assim, acredito que podemos ir além, e uma das minhas missões para 2024 é ajudar a amplificar as vozes femininas dentro do ecossistema.
O ambiente de startups e tecnologia é extremamente masculino. De acordo com nosso último Mapeamento de Startups, o número de mulheres representa 19,7% dos fundadores de startups. Esse número até mostra um leve crescimento em relação a anos anteriores, mas ainda assim, muito longe de um cenário ideal.
Imagine que em uma roda de 5 empreendedores, haverá apenas uma mulher. E como a desigualdade só gera mais desigualdade, essa mulher tem grandes chances de se sentir acuada e desencorajada diante do cenário ao seu redor.
E como a gente quebra esse ciclo? Na minha visão, a saída não está em um único grupo específico de pessoas ou profissionais. A Abstartups, por exemplo, tem papel importante nesse cenário, mas não tem forças para resolver sozinha a desigualdade de gênero dentro das startups. A solução é plural e depende de ações práticas de grupos como:
- Investidores - Que precisam dar oportunidades às startups fundadas por mulheres. Sabemos que o dinheiro é quem dita as regras do jogo. Um investidor vai olhar fatores para além do gênero da pessoa fundadora. Por outro lado, é perceptível que relações sociais também fazem parte desse processo e, nesse sentido, investidores precisam deixar preconceitos de lado e estar abertos a incluírem startups fundadas por mulheres em seu portfólio. Neste campo, há algumas iniciativas voltadas para grupos de investidoras mulheres que aportam capital em startups de fundadoras mulheres que são parceiras da Abstartups. E fazemos também esta interlocução com outros investidores para que abram o horizonte para as mulheres empreendedoras;
- Poder Público - Em diferentes esferas é preciso criar políticas públicas favoráveis às mulheres empreendedoras. Sejam editais voltados exclusivamente para esse público, ou então, programas de educação e capacitação para ajudá-las nessa jornada. Considero esse um importante agente para uma mudança no cenário nacional;
- Empreendedores e Empreendedoras - Fundadores homens também têm um papel importante nessa luta. Além de não reproduzir discursos tipicamente machistas em suas empresas, é preciso que eles incluam políticas de diversidade e inclusão dentro das diretrizes e cultura de suas startups. Não basta somente incluir políticas que venham do topo da hierarquia ou estabelecer cotas de participação. É imprescindível que este seja um tema de mudança de cultura e consciência de toda a organização. Se as lideranças não “compram” essa transformação internamente, tornando-se parte do DNA da empresa, isso não se dará de forma fácil.
Por outro lado, as empreendedoras mulheres precisam primeiramente se apoiar. Vemos cada vez mais redes de mentoria, comunidades e grupos de ajuda focados exclusivamente para mulheres. Eles ganham força e são fundamentais para o nosso crescimento.
Para além disso, precisamos enfrentar de peito aberto o preconceito, o medo de candidatar-se para aquela vaga ou para aquele programa de aceleração. O mundo já torna tudo mais complicado para as mulheres. Se nós dificultarmos ainda mais esse caminho, a jornada fica quase impossível.
Que essas ideias coletivas se tornem prática para que não precisemos voltar todo mês de março para reforçar essa pauta. E que ela continue se estendendo para o ano inteiro.
* Mariane Takahashi é Chief Executive Officer da Associação Brasileira de Startups (Abstartups)