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Combater injustiça climática é primeiro passo para o desenvolvimento sustentável

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Tumisu/Pixabay
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Embora a crise climática tenha escala global, seus impactos são sentidos de forma diferente pelas nações. É o que afirma o mais novo relatório lançado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) das Nações Unidas.

Lançado no último dia 20 de março, o documento afirma que as populações que menos contribuíram para a mudança do clima são as que estão sofrendo de forma desproporcional o seu impacto negativo. O documento lança luz, portanto, à discussão sobre justiça climática, termo reconhecido e incorporado ao preâmbulo do Acordo de Paris somente em 2015, um verdadeiro marco histórico em múltiplos sentidos para a comunidade climática.

A justiça climática discute especificamente os impactos desproporcionais das mudanças climáticas sobre determinados grupos sociais. De acordo com o relatório “Extreme Carbon Inequality” desenvolvido pela Oxfam, a metade mais pobre da população global — cerca de 3,5 bilhões de pessoas — é responsável por cerca de apenas 10% do total das emissões globais atribuídas ao consumo individual, mas vive predominantemente nos países mais vulneráveis às mudanças climáticas. Ou seja, os países mais vulneráveis aos riscos climáticos, são também os que menos poluíram ou poluem, como aponta o índice ND-gain, que analisa a exposição e o potencial de impacto climático sobre os ecossistemas.

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Quase metade da população vive em regiões altamente vulneráveis às mudanças climáticas e, na última década, as mortes por enchentes, secas e tempestades aumentaram 15 vezes nessas localidades, aponta o relatório do IPCC. Essa realidade é bastante conhecida no Brasil, especialmente nas periferias e grandes centros urbanos, como pudemos observar no último mês de março, que foi marcado por chuvas intensas e recorrentes em diversas localidades do país. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) há 40 mil áreas de risco de inundação e deslizamentos no Brasil já mapeadas, em 825 municípios, o que corresponde a 8,2 milhões de brasileiros vivendo em áreas de risco de deslizamento de terra e enxurradas no país.

Há também a acentuação de desafios sociais, com o aumento de pessoas obrigadas a migrarem de seus países, os chamados refugiados climáticos. Para se ter uma ideia da extensão do problema, apenas em 2021, ocorreram mais de 23,7 milhões de migrações intranacionais, ou seja, dentro de um mesmo país, resultantes de eventos relacionados ao clima, incluindo inundações, tempestades e ciclones, conforme o Centro de Monitoramento de Deslocamento Internacional (IDMC, em inglês).

O cenário é desesperador, é verdade, mas ainda há tempo para reverter o acelerado processo de mudança climática, aponta o IPCC.

Se agirmos rápido, de forma intensa e mobilizarmos as tecnologias existentes, podemos frear o aquecimento global e, com isso, evitarmos as inestimáveis e incontáveis perdas de vidas humanas, animais e da biodiversidade do Planeta. Há recursos suficientes para implementar essas transformações tão necessárias, mas é imprescindível que tais mudanças possam beneficiar a todos, com prioridade para as populações mais marginalizadas e impactadas negativamente pela mudança do clima.

Um novo modelo de desenvolvimento socioeconômico sustentável só poderá ser construído com sucesso caso as nações se comprometam a combater desafios históricos que mantém em situações de desigualdade, injustiça e marginalização grupos cada vez maiores de pessoas ao redor do mundo.