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Time's Up | Entenda o movimento que mudou Hollywood e marcou o fim da década

Por| 30 de Dezembro de 2019 às 08h57

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Reprodução: The Hollywood Reporter
Reprodução: The Hollywood Reporter

Se você acompanha a indústria do cinema, mesmo que seja um mínimo, você já deve ter ouvido falar no movimento Time's Up ou ao menos escutou esse termo em algum lugar. Discursos, cartazes e publicações nas redes sociais, por exemplo, se tornaram oportunidades de manifestar os objetivos dessa iniciativa.

Mas do que se trata o movimento Time's Up?

Tudo começou em janeiro de 2018, quando um pequeno grupo de mulheres, todas celebridades de Hollywood, se uniram para fazer denúncias contra Harvey Weinstein, um famoso produtor de cinema norte-americano. As denúncias contra ele são longas. Desde estupro a assédio sexual, dezenas de mulheres vieram a público manifestar a sua indignação contra a conduta do produtor, que rapidamente viu a sua carreira chegar ao fim.

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#MeToo e Time's Up são a mesma coisa?

O movimento Time's Up, na verdade, foi inspirado em outra iniciativa chamada #MeToo, que já existia há bastante tempo e tinha o intuito de acabar com a violência sexual e conscientizar as pessoas sobre o assunto. Com as acusações contra Harvey Weinstein, o movimento finalmente ganhou a notoriedade merecida.

O #MeToo tem como foco o tratamento e a sobrevivência de pessoas que passaram por esses abusos, criando uma comunidade disposta a seguir em frente, por mais traumática que tenha sido a experiência. Tarana Burke, fundadora do movimento, diz que o projeto é muito mais do que uma hashtag na internet, sendo o o início de uma longa conversa para uma comunidade que busca a cura.

De acordo com a descrição existente no próprio site do projeto, o #MeeToo foi criado para encorajar milhares de pessoas a se manifestarem contra o assédio e a violência sexual, empoderando através da empatia. A ativista Tarana Burke fundou o #MeToo após ter uma conversa com uma garota de apenas 13 anos que contou ter sido abusada pelas mãos do namorado da mãe, em 1996. Mas foi somente no dia 15 de outubro de 2017 que a iniciativa chegou às redes sociais, tornando-se uma sensação no mundo inteiro após um tweet da atriz Alyssa Mylano.

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Sem saber do #MeToo, Alyssa publicou em seu Twitter a frase: "Se você foi assediada ou abusada sexualmente, escreve 'me too' em resposta a esse tweet". Na época, mais de 66 mil usuários responderam com a frase. Devido ao sucesso, a atriz foi à televisão falar sobre o caso e, então ciente do projeto que já existia, aproveitou a oportunidade para dar os créditos da iniciativa à Burke.

Já o Time's Up, que foi inspirado no #MeToo, tem uma proposta e objetivos um pouco diferentes. A iniciativa busca uma solução mais efetiva para o problema do assédio e abuso sexual, exigindo que mudanças concretas aconteçam, sejam referentes à segurança ou a igualdade de direitos em um ambiente de trabalho.

O Time's Up foi criado por um grupo de mais de 300 mulheres de Hollywood, incluindo atrizes como Natalie Portman e Reese Whiterspoon e a produtora e roteirista Shonda Rhimes. Christy Haubegger, executiva da Creative Artists Agency e uma das mulheres que ajudaram a fundar o movimento, disse que para acabar com o assédio sexual é preciso, antes de tudo, dissolver a desigualdade, pois a falta de equilíbrio no poder é a raiz para o comportamento impróprio.

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"Isso é o sintoma de desigualdade e padrão de exclusão de mulheres ainda maiores e a falta de equilíbrio no poder de distribuição em nossos negócios. Se você quiser acabar com o assédio sexual, você realmente precisa dissolver essas coisas. Então decidimos focar nesse aspecto", contou Burke em entrevista à revista TIME.

Sendo assim, ambos os grupos agora buscam por mudanças nas políticas e legislações com o objetivo de conquistar a aprovação de leis de paridade de gênero, como salários e ambientes de trabalhos iguais, trazendo ainda mais oportunidades para mulheres de diferentes raças e etnias ou que não são bem pagas.

A chegada do movimento Time's Up na mídia é o motivo pelo qual hoje nós vemos mulheres se posicionando em discursos de premiações e se manifestando contra o assédio sexual e a desigualdade.

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Time's Up e a queda das celebridades

Com a popularidade do movimento Time's Up na mídia, principalmente norte-americana, e com o apoio das celebridades de Hollywood, não demorou muito para que novas denúncias começassem a surgir. Atualmente, já são mais de 10 atores acusados de assédio moral e abuso sexual, além de estupro.

Entre eles, por exemplo, está Bryan Singer, que acumula denúncias desde 1997. A mais recente, de 2017, foi feita por Cesar Sanchez-Guzman, que processou o diretor por tê-lo estuprado quando ele ainda era um adolescente. A denúncia fez com que ele fosse demitido das gravações do filme Bohemian Rhapsohy.

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Morgan Freeman também entrou na lista, sendo acusada por uma mulher que trabalhou na produção dos filmes do ator. Ela alegou que Freeman a assediou por vários meses em 2015, erguendo sua saia e perguntando se ela estava usando roupas íntimas.

Enquanto alguns atores continuam sendo sabotados e permanecem fora da mídia, outros, infelizmente, acabam continuando suas vidas normalmente. Mesmo assim, o movimento já conseguiu, em quase dois anos de existência, mostrar às pessoas que esses problemas existem e precisam ser combatidos, seja com a punição ou com a conscientização. É por isso que iniciativa recebeu o nome de Time's Up, que na tradução literal significa que "o tempo acabou".

O que o #MeToo e o Time's Up representam para o fim da década e o início de uma nova era?

O mundo está mudando e as pessoas estão cada vez menos tolerantes com a desigualdade e a injustiça, e hoje é mais difícil que as pessoas que cometem esses crimes saiam ilesas, nem que demore. A tendência, inclusive, é que as denúncias comecem a surgir cada vez mais rápido, visto que ninguém mais sente tanto medo do que pode acontecer.

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A importância dos movimentos Time's Up e #MeToo, inclusive, encerrou a década sendo demonstrada na prática na série The Morning Show, que estreou em novembro junto à plataforma de streaming Apple TV+. A série conta a história de um programa de televisão matinal que tem a sua dupla de apresentadores como grandes celebridades. No entanto, tudo muda quando Mitch, interpretado por Steve Carrel, é denunciado por ter abusado de colegas de trabalho.

The Morning Show mostra o que acontece por trás dos bastidores após uma denúncia, como isso afeta a produção, colegas de trabalho e família. A intolerância por trás desses casos se une à hipocrisia e mostra que, daqui em diante, a luta contra o assédio só tende a crescer.

Com informações de #MeToo, Time's Up, TIMES