5 dos filmes mais superestimados do cinema
Por Sihan Felix | •
Se escrever uma lista já é uma tarefa pessoal e quase que totalmente subjetiva, taxar se um filme é superestimado eleva esse sintoma. Há quem diga, por exemplo, que Avatar (de James Cameron) e Gravidade (de Alfonso Cuarón) são superestimados. Para mim, se o primeiro tem um roteiro até certo ponto clichê, a direção de Cameron e o valor técnico da produção minimizam os deslizes, colocando-o como um marco da história do cinema a ser lembrado durante muitas gerações. Enquanto isso, o filme de Cuarón é – novamente para mim – uma obra-prima da ficção científica, um filme sobre renascer e sobre a importância da vida, um trabalho a ser descoberto e redescoberto do diretor de Roma.
Por outro lado, há filmes que não me descem. Seja por terem sido incensados a ponto de ofuscarem verdadeiros monumentos do cinema; seja por ser um trabalho engraçadinho e bem feito, mas de relevância perto de zero; seja por ser uma história até certo ponto bem dirigida, mas conduzida com falta de habilidade o suficiente para desviar a atenção do tema principal; seja por ser bonitinho, mas ordinário – e com força para que sua atriz protagonista seja alavancada até onde nunca deveria ter chegado (ao menos não quando chegou)...
Lembrando que o que é superestimado para mim pode não ser para você; o que é bom para mim, pode ser ruim para você. Não há regras. E a lista não é de filmes ruins, apenas de filmes que alcançaram um status que, em minha visão, estão longe de merecer.
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Sem mais demora e dentro dessa abordagem subjetiva, sem verdades absolutas e pessoal, vamos à lista dos cinco filmes mais superestimados da história do cinema:
1. Diário de uma Paixão
Começando de leve, com um filme baseado no livro do adulado Nicholas Sparks. Se Diário de uma Paixão tem química de sobra é porque Rachel McAdams e Ryan Gosling funcionam como um dos casais mais sincronizados do cinema. O problema é que o filme é extremamente simplista em sua abordagem sobre a paixão, como se esta fosse uma das únicas engrenagens que precisam funcionar para um relacionamento saudável ser eterno (ao menos enquanto dure). Assim, as personagens de McAdams e Gosling – apesar da química – são tratadas como meros clichês românticos e, para piorar, o filme reforça o estereótipo do homem atraente que recusa o não de uma mulher. Um filme que nasceu socialmente datado, foi alçado a um dos melhores romances já filmados e logo começou a perder para o tempo e para a verdade.
2. Shakespeare Apaixonado
Para não sair dos romances, se existe um filme na década de 1990 que eu, pessoalmente, criei um distanciamento grande e um abuso ainda maior é Shakespeare Apaixonado. Dirigido por John Madden (do tosquíssimo O Capitão Corelli, 2001) como se fosse um episódio prolongado de uma novela, o filme trata do processo de escrita shakespereano com uma profunda necessidade de ressaltar uma jovialidade que parece ter saído da série Malhação (que já vai na 27ª temporada). Ainda levou Gwyneth Paltrow, que é uma boa atriz mesmo tendo expressões de pão murcho nas mãos de Madden, a usurpar o Oscar de Fernanda Montenegro por Central do Brasil (de Walter Salles, 1998) – em uma das maiores injustiças da categoria em toda a história.
3. O Paciente Inglês
Dirigido por Anthony Minghella (de Cold Mountain, 2003), O Paciente Inglês define a assinatura do seu diretor: lentidão sem qualquer benefício sensorial ou estético. Aqui, é como se houvesse uma força que segurasse a história em um limbo e obrigasse o espectador a ficar contemplando a beleza das imagens com Ralph Fiennes e Kristin Scott Thomas como quem contempla paisagens mortas. De quebra, o filme ainda levou o Oscar de 1997 (em nove categorias), desbancando os excelentes Fargo: Uma Comédia de Erros (de Joel Coen e Ethan Coen – este não creditado), O Povo Contra Larry Flint (de Milos Forman), Segredos e Mentiras (de Mike Leigh) e Shine: Brilhante (de Scott Hicks).
4. O Discurso do Rei
Certinho, multipremiado e querido por muitos, O Discurso do Rei é daqueles filmes muito fáceis de engolir. Isso não é ruim. A questão é que a direção de Tom Hopper parece quebrar o filme em vários momentos, mexendo na linguagem com planos que contradizem seus personagens e acabam intercedendo na percepção geral do público. Hopper transforma algo simples e até certo ponto simpático em uma gloriosa grandiosidade desmedida. Felizmente, as atuações de Colin Firth (como o Rei gago George VI) e Geoffrey Rush (como Lionel Logue) são bem atraentes e, no final das contas, pelo menos o todo diverte. Por outro lado – e obviamente em minha opinião – dos 10 concorrentes ao Oscar de 2011, O Discurso do Rei é o único que não conseguiria nem cheirar a estatueta principal, mas ganhou.
5. Crash: No Limite
O interessante (no mau sentido) de Crash: No Limite é que ele camufla seu recheio de vento com uma atitude complexa de histórias emaranhadas e de cruzamentos inusitados. Toda a complexidade do roteiro é vazia a ponto de o discurso racial como retrato da vida em Los Angeles – que já é raso no texto – ser totalmente abafado pela idealização quase que arrogante da direção de Paul Haggis (que coescreveu o roteiro). Pior: o filme recebeu a estatueta principal do Oscar 2006, vencendo quatro filmes que são para lá de superiores (para mim): O Segredo de Brokeback Mountain (de Ang Lee), Munique (de Steven Spielberg), Capote (de Bennett Miller) e Boa Noite e Boa Sorte (de George Clooney). Uma pataquada inesquecível (ou que é melhor esquecer) da Academia.
Agora, ficam aí os comentários. Foi difícil fazer uma lista tão subjetiva, mas tenho certeza que vocês podem complementar e enriquecer tudo. Vamos conversando, debatendo... E, de repente, aumentando a lista.
Bons e ruins filmes para nós!