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Crítica | Animação Superman – Red Son tropeça, mas é melhor que os filmes da DC

Por| 27 de Fevereiro de 2020 às 13h33

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Crítica | Animação Superman – Red Son tropeça, mas é melhor que os filmes da DC
Crítica | Animação Superman – Red Son tropeça, mas é melhor que os filmes da DC
Tudo sobre Warner Bros

A Warner Home Video tem trazido já há vários anos as melhores adaptações de quadrinhos para outra mídia, neste caso, animações. O tratamento de cada história é de superprodução e a companhia não poupa esforços para trazer fidelidade e impacto aos desenhos, que, vejam só, na maioria têm alta classificação etária devido à violência e temas adultos. Superman — Red Son, que acaba de ser lançado, segue essa mesma linha.

A trama original estreou pela DC Comics em 2003, no selo Elseworlds, que imaginava os personagens da editora em versões de realidades paralelas. Escrita pelo falastrão Mark Millar e ilustrada por Dave Johnson, vemos um Superman diferente do que estamos acostumados. Em vez de cair em uma fazenda no Kansas, Kal-El vai parar nos campos da União Soviética.

Isso causa grande mudança em toda a trajetória do herói e do mundo, pois, ao lado de Stalin e do regime comunista, vemos os Estados Unidos e a sociedade reagindo a um superser em uma perspectiva distinta e muito interessante. A trama, embora envolva bastante a história real e geopolítica, não toma exatamente partido para nenhum dos lados e mostra como consequências mais verossímeis aconteceriam se o mundo tivesse um Superman contra o capitalismo.

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ATENÇÃO! Daqui em diante este texto contém spoilers.

Desenho imparcial

Um dos principais méritos dessa adaptação foi simplificar muitas das tramas políticas e ligações complexas entre as autoridades reais, como Joseph Stalin e John F. Kennedy, e se concentrar em como Lex Luthor e Lois Lane se alinharam à Casa Branca e a maneira como Superman cresceu em um regime socialista.

Aqui, Superman se torna um líder a serviço do Estado e mostra que seus poderes são como uma extensão do povo, a serviço de todos. Há uma clara intenção da Warner em não alimentar nenhuma discussão de extremos sobre posicionamento político — então, não espere ver algo como o comunismo ou o capitalismo pintados exatamente como “bom” ou “mau”.

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Isso facilita a fluência da própria animação e os eventos, pois, afinal de contas, estamos falando de uma trajetória que aborda 40 anos de acontecimentos ligados às próprias histórias reais da humanidade. Nesse ponto, vemos que o diretor Sam Liu, responsável por quase todos os últimos lançamentos das animações recentes da DC, preferiu posicionar poucas peças no tabuleiro, o que deixou tudo mais compreensível em 1 hora e 25 minutos de vídeo.

A introdução de Batman, Mulher-Maravilha e Lanterna Verde são até bem dosadas e acontecem no momento certo, sem deixar cair o ritmo. O problema é que a caracterização desses heróis, inclusive do protagonista, além de algumas edições sem nexo, deixaram a desejar, como falo um pouco mais abaixo.

Parte técnica sempre acima da média

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Nesse quesito, Sam Liu é sempre impecável. Os traços escolhidos para essa animação se parecem muito com os desenhos de Dave Johnson, assim como o logotipo e a identidade visual, que tem tudo a ver com a propaganda soviética. O filtro de cores também vai de encontro com o que vemos nas revistas, com maior contraste nas cenas escuras e tons quase pastel nas sequências mais claras.

O “figurino” e os cenários vão de encontro com os objetos, trajes, prédios e veículos da época — tudo, claro, reimaginado com o toque sci-fi que a própria história original já tem. O trabalho de dublagem é também excelente, com Jason Isaacs alternando bem os momentos inocentes e austeros desse Superman.

Vanessa Marshall oferece um toque de charme e força que a Mulher-Maravilha precisa e o Batman de Roger Craig Smith é raivoso e implacável. O Lex Luthor de Diedrich Bader soa muito menos vilanesco do que a contraparte de papel normalmente é, mas isso é compreensível dado aos rumos que a história toma até o final.

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Caracterização dos personagens e final deixam a desejar

Infelizmente, dois dos principais pontos da história original foram deixados de lado — lembrando um pouco os deslizes de Liu em outra adaptação para a animação, A Piada Mortal. Em Superman – Red Son, o cenário lembra muito mais o dos games Injustice. Superman, que nos quadrinhos tem como seu grande princípio não matar, aqui se parece muito mais a figura autoritária dos jogos de luta.

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Além disso, Batman também aparece como o maior vilão da história, muito mais como um terrorista maluco do que com o garoto que cresceu sofrendo e não quer permitir que o regime que o castigou faça novas vítimas — tudo bem que na revista ele também é cruel e o desenho é sobre o Superman, mas Bruce Wayne merecia mais estofo. A Mulher-Maravilha, embora mostre um desenvolvimento compreensível, também acaba por realizar algumas ações incoerentes nas sequências finais.

Aliás, o combate entre Superman e as tropas estadunidenses dos Lanternas Verdes fica um pouco sem sentido em sua conclusão — Hal Jordan, John Stewart e seus outros colegas simplesmente desaparecem sem muitas explicações.

Mas o que mais incomoda mesmo é o fato da grande crítica dos quadrinhos não estar presente. A trama original mostra tanto o capitalismo quanto o socialismo entrando em colapso e destaca como a humanidade pode se superar em seus piores momentos, ainda mais quando temos ao nosso lado um símbolo de esperança como o Superman.

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Não espere por isso em Superman – Red Son. E mais: a união de Lex Luthor e Superman até pode agradar inicialmente, mas o que acontece depois parece ordem de algum executivo que pediu por um “final feliz” — tão doce que dá certa cárie.

Animações continuam sendo as melhores adaptações

A Warner Home Video e o setor de animação da DC já trouxeram verdadeiras pérolas, como Batman Animated, Justice League Animated e as adaptações de Liga da Justiça: A Fronteira Final, Lanterna Verde: Primeiro Voo, All-Star Superman (minha preferida), Mulher-Maravilha, Batman: Cavaleiro das Trevas e, mais recentemente, A Morte do Superman.

Mas também trouxe grandes decepções, a exemplo de Batman: A Piada Mortal, Liga da Justiça: Trono de Atlantis e Gotham City 1889: Um Conto de Batman. Superman — Red Son, estaria em um patamar mediano e a expectativa agora é que Batman: Silêncio e Superman: Reino dos Supermen volte a colocar essas adaptações nos trilhos.

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De qualquer forma, todas essas produções são superiores a quaisquer das adaptações do Universo Estendido DC até agora. Se vale para algo mais que o entretenimento, Superman — Red Son poderia ser visto pelos executivos para anotar melhor o que dá certo e o que pode dar errado em uma conversão de um clássico para outra mídia.