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Crítica | Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas: Desequilíbrio

Por| 04 de Setembro de 2018 às 10h22

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DC Comics / Warner Bros
DC Comics / Warner Bros

O universo live-action da DC nos cinemas é complicado. Para rivalizar com a Marvel, que vem construindo o seu desde o primeiro Homem de Ferro (de 2008) – e mesmo assim tem tropeços –, a casa do Batman e do Superman parece atropelar fases para acompanhar a concorrência. Vão se perdendo elementos importantes e outros vão sendo arremessados para os filmes sem muita preparação. “Não abra o forno antes da hora, senão o pão murcha!” — Os produtores da DC estão abrindo e abanando sem se importar com essa regra da cozinha cinematográfica. Mulher-Maravilha(2017) deu certo, mas quais mais conseguiram de verdade dentro do universo atual?

No cenário das animações, a situação muda bastante. As duas partes de Batman: O Cavaleiros das Trevas (de 2012 e 2013) são obras-primas, assim como Batman Contra o Capuz Vermelho (de 2010) e Liga da Justiça: Ponto de Ignição (de 2013). E são muitos que poderiam compor uma lista de excelência: Batman: A Máscara do Fantasma (1993), Liga da Justiça Sombria (2017), Mulher Maravilha (2009), Batman: Ano Um (2011)... entre esses, também existem o ótimo A Liga da Justiça e os Jovens Titãs (2016) e outros...

Cuidado! Daqui em diante a crítica pode conter spoilers!

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“Slaaaaaaade” e O Rei Leão

Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas tem uma boa premissa: elevar a autoestima em um mundo fadado à falta de amor-próprio. Vê-se, assim, um Robin que inveja os filmes de herói por não ter a oportunidade de ter um filme solo dele mesmo. Essa construção é interessante, passando por uma sessão realmente engraçada sobre os desmembramentos dos filmes sobre o Batman, que viriam a gerar até mesmo uma produção estrelada pelo cinto de utilidades, e findando com uma triste exposição de bullying sofrido pelo ajudante que, agora, é líder de uma equipe de heróis própria.

Há, ainda, aquele que talvez seja o momento mais inspirado da animação dirigida por Aaron Horvath e Peter Rida Michail: um pesadelo do menino prodígio completamente baseado na abertura de O Rei Leão (1994), com direito ao Aquaman saltando como golfinho e outros super-heróis comendo grama como gazelas. E isso se torna mais arrebatador por ser realizado com o traço de desenho característico das animações em 2D da Disney. É interessante perceber, também, que Batman, erguendo Robin como Rafiki o fez com Simba, apresenta a todos o futuro rei, algo que Simba só entenderia após ter, de fato, compreendido o valor da amizade e da honra e, acima disso, ter conseguido se pôr em seu devido lugar – o que Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas cede a Robin com alguma competência.

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E não há como negar a desenvoltura de algumas piadas, como aquela sobre os nomes dos vilões – que contribui para a repetição incessante do nome “Slaaaaaaade” –, que felizmente consegue não ser exaustiva. Outras, porém, indicam um humor que, ao mirar no público infantil e subestimá-lo, chegam a soar infantilóides, podendo render alguns momentos de vergonha alheia. Mas não é porque as piadas estão onde estão, é porque não há preparação ou justificativa – piadas apenas pelo intuito de serem piadas, sem auxiliarem na condução da história, geralmente não soam interessantes, mesmo que possam fazer rir de alguma forma. Nesse caso, as óbvias piadas sobre “pum” e “bumbum” na sequência de abertura de Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas soam completamente diferentes do mesmo tipo de piada utilizada em O Rei Leão (para manter o paralelo), quando é apresentado um pedacinho do passado do Pumba em meio à clássica canção Hakuna Matata (utilizada por aqui como Hatuna Matata para livrar as crianças da sílaba “ku” – oi?).

O politicamente incorreto para mentes em formação

Vale ressaltar, igualmente, a quantidade enorme de piadas politicamente incorretas. Extinguir esse tipo de piada não é o essencial, mas utilizá-las em um filme repleto de mentes em formação é de deixar qualquer educador sério irritado. Há duas, em especial, que são desserviços pontuais: a extinção de super-heróis que “ninguém” conhece somente porque “ninguém” conhece e a personagem Jade Wilson.

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Jade, por sinal, merece uma abordagem à parte: Uma mulher diretora (algo que já é significativo) à frente de filmes de super-heróis (a importância dobra em uma era tomada por essas produções) seria uma personagem representativa fantástica. Salve Patty Jenkins (por enquanto, com Mulher-Maravilha, a única pessoa que fez algo dentro do universo live-action atual da DC com competência)! Mas tudo vai por água abaixo quando se vê que ela (Jade) sempre foi um vilão – e um vilão travestido. Nesse caso, não importa se o vilão é, de fato, um homem; a questão é formativa na mente das crianças quando por muito mais tempo em tela e protagonizando o plot twist final e decepcionante (para o mundo interno da animação) está Jade.

Finalizando, ainda, com uma abordagem intrusiva, Robin salta da tela para incutir uma dúvida diretamente alheia ao filme na mente dos pequenos espectadores: “Perguntem aos seus pais de onde vêm os bebês!”, incita ele. É uma invasão ao tempo próprio de cada família e de cada personalidade que só pode ser justificada na cena que surge durante os créditos. Seria Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas somente uma obra do controle mental do Slade? Estariam os primeiros Jovens Titãs aprisionados e prestes à libertação.

Não há respostas concretas por enquanto...

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Tão infantil e tão adulto

A verdade é que trazer um dos diretores do seriado Mad (Horvath) pode não ter sido a melhor das escolhas. Apesar de algumas ótimas piadas, da pegada cheia de ação e velocidade, uma animação voltada para o público infantil ou infanto-juvenil não precisa ser estritamente infantil ou infanto-juvenil – está aí a Disney/Pixar para comprovar com a maioria das suas animações que transitam livremente e com competência entre todas as idades. Mas, ao apostar na infância e na adolescência, pender para o infantilóide e ainda misturar com piadas pesadas para aqueles que não estão maduros o suficiente é irresponsável. A impressão é de que não houve equilíbrio: é tão infantil que acaba subestimando as crianças e é adulta ao ponto de poder inserir ideias e concepções inapropriadas.